Foi um dos maiores incêndios florestais da história de Monção. Possivelmente o maior. Para a história, ficou uma frase negra que deixa perceber claramente a dimensão dos danos causados pelo inferno que atingiu o concelho naquele dia 15 de outubro de 2017 – “Um em cada três metros quadrados do concelho ardeu”.
Foi o pânico em todas as freguesias. Toda a Estrada Nacional 202 cortada ao trânsito, com labaredas de um lado e do outro da estrada. Caiam lágrimas perante as chamas que ameaçavam as habitações. Para a história, fica também o heróico trabalho realizado pelos mesmos de sempre: os bombeiros. Todos eles a dar tudo e, mesmo no limite, recusaram-se sempre a desistir. Venceram.
Quatro anos depois, várias feridas já cicatrizaram. Desde então, o Município liderado por António Barbosa tomou várias iniciativas de reflorestação. Várias delas com centenas de crianças que plantaram milhares de árvores nas zonas outrora invadidas pelas chamas.
Inferno caiu sobre Monção a 15 de outubro de 2017
[Fotografias: Márcio Ferreira]
Mas Monção não esquece. Nem pode esquecer o sucedido. Para evitar que tal suceda, recorde-se, artistas portugueses e galegos chegaram a fazer esculturas com o que sobrou da tragédia. Uma data dolorosa também para a organização do FolkMonção. As chamas destruíram totalmente o armazém onde estava guardado todo o material do festival.
Armazém do FolkMonção totalmente destruído pelas chamas
[Fotografia: DR]
A pouco e pouco, o concelho foi-se levantando. Volvidos quatro anos, aos microfones da Rádio Vale do Minho, o presidente da Câmara lembra que ainda há obstáculos por ultrapassar nesta matéria.
“Há muito para fazer em áreas onde nós temos um pouco pés e mãos atadas”, lamentou o autarca que defende uma legislação “mais dura” no que diz respeito à limpeza de áreas privadas.
“Tem de existir uma alteração legislativa forte a nível nacional. Um sinal muito forte para todos nós, de responsabilização das pessoas”.
A área ardida ascendeu a 4.300 hectares. Foram atingidas 20 das 33 freguesias (antiga denominação administrativa). Além de animais mortos e alfaias agrícolas destruídas, contabilizaram-se cinco casas de primeira habitação ardidas mais um anexo com recheio de habitação, 28 edifícios devolutos, 51 anexos de apoio à agricultura e algumas empresas dedicadas à transformação de madeira e de pedra. Foram afetados 15 postos de trabalho.
INCÊNDIOS À PARTE… FALEMOS DE PROBLEMAS E SOLUÇÕES
Manter o enfoque no combate aos incêndios é estarmos a tentar resolver um problema a jusante, quando a sua resolução está a montante. É como ter o telhado com uma infiltração e pensar que a solução é adquirir mais, maiores e melhores baldes.
Os fogos não se vão extinguir com água, nem existe um país sem fogos. Tal apenas tem servido interesses, mas não os da floresta, do território ou dos cidadãos. Enquanto isso, o estado, mas também os cidadãos, parecem demitir-se das soluções, rendendo-se ao folclore que os meios de comunicação social fazem dos incêndios, quando deveriam gerar massa crítica na sociedade, geradora de mudanças positivas.
” Defender uma legislação “mais dura” no que diz respeito à limpeza de áreas privadas. ”
Quanto a esta afirmação do autarca, é preciso ponderar sobre a condição social dos proprietarios de terrenos e matas do concelho. Antes de se fazer lei cega, temos tambem que ter em conta as condiçoes socio economicas dos proprietarios. Num concelho com população muito envelhecida e empobrecida, interrogo-me se em vez de resolver o problema não iria criar outro.
“Tem de existir uma alteração legislativa forte a nível nacional. Um sinal muito forte para todos nós, de responsabilização das pessoas”.
Relativamente a esta segunda afirmação, concordo com o aumento das penas criminais para incendiarios, considerando “crime muito grave”. Mas não podemos responsabilizar quem não tem meios ou posses ou mesmo saude, o fato de ser proprietario de terrenos baldios ou monte não faz dele e por si só um prevaricador.