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Monção: Comboio chegou à vila há 105 anos – “Muito fogo e grande concorrência de povo”

14 Junho, 2020 - 11:01

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PUB Foi a 15 de junho de 1915. O comboio chegava pela primeira vez a Monção. “A vila estava toda iluminada. Houve muito fogo e uma grande concorrência de povo”, […]

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Foi a 15 de junho de 1915. O comboio chegava pela primeira vez a Monção. “A vila estava toda iluminada. Houve muito fogo e uma grande concorrência de povo”, conforme conta o vídeo lançado este sábado pelo Município no sentido de assinalar a data.

Nos finais do aéculo 19, já se reconhecia a necessidade de continuar a Linha do Minho de Valença até Monção e Melgaço, devido à riqueza desta região. As estâncias termais estavam na moda.

Um relatório de 3 de Julho de 1889 defendeu a construção da linha, que foi definitivamente planeada até Monção em 1895, e classificada como via larga no Plano da Rede de 15 de Fevereiro de 1900. No entanto, os interesses locais discordaram desta decisão, preferindo a utilização de via estreita; com efeito, já em 22 de Novembro de 1894 tinha sido autorizada a construção de um caminho de ferro de bitola estreita, do tipo americano e com via instalada no leito das estradas.

Este empreendimento tinha falhado, devido à situação económica do país, que tornava difícil a obtenção de capitais. Assim, os protestos foram ignorados, e uma portaria de 5 de Março de 1904 ordenou a realização dos estudos para via larga. Este caminho de ferro foi construído pela divisão de Minho e Douro dos Caminhos de Ferro do Estado, tendo o troço entre Lapela e Monção entrado ao serviço em 15 de Junho de 1915.

 

A estação ferroviária de Monção em pleno funcionamento nos princípios do século 20 [créditos: DR]

 

Durante praticamente todo o século 20, esta estação sempre foi um espaço de grande movimento. O Canal Linha 2, da plataforma YouTube, disponibilizou um vídeo gravado 1969, onde mostra a circulação de comboios em Monção. Imagens a cores, com mais de meio século, onde é possível observar o trânsito ferroviário naquela estação que seria desativada precisamente 20 anos depois. No mesmo vídeo, logo no início, é também possível ver uma panorâmica da estação de Valença.

 

A estação ferroviária de Monção em 1969

 

 

“Até os carris levaram”

 

Chegou então aquele ano de 1989. Para grande tristeza do povo, a gare ferroviária foi desativada. Nove anos depois, em 1998, o historiador José Hermano Saraiva deslocou-se a Monção onde gravou um programa inteiramente dedicado ao concelho. Começou precisamente pela estação ferroviária já desativada.

“Antigamente chegava aqui o caminho de ferro. Isto era uma festa. Iam mercadorias… ia o vinho… havia gente e romarias. Agora até os carris levaram”, lamentou enquanto a câmara mostrava imagens de um edifício deixado ao abandono. “Há nove anos que a estação está fechada e a apodrecer! Em nove anos não arranjaram maneira de dar um destino novo à estação”.

“Esta situação repete-se em muitos pontos do país! Fecham as linhas. Fecham as estações. E há belas casas que podiam servir para muita coisa até porque também têm interesse histórico”, alertou José Hermano Saraiva. “O comboio também faz parte da nossa história!”, defendeu.

 

Finalmente uma nova vida

 

José Hermano Saraiva faleceu 14 anos depois, em 2012. E teriam de passar mais cinco anos para que finalmente o edifício da antiga estação ferroviária de Monção conhecesse uma nova vida.

Foi a 25 de abril de 2017 que aquele espaço se tornou aquilo que ainda hoje continua a ser: a sede da Banda Musical de Monção.

“Regozijo-me especialmente por Monção ter tido a audácia de requalificar esta centenária estação para que agora seja a casa de quem merecia”, disse na altura o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, sem nunca perder o sorriso aberto perante a multidão que o ouvia em pé. “Esta sede é mais do que simplesmente uma sede. É um presente que sinto estar a ser recebido como algo que era há muito desejado e por isso e adotado hoje por quem de efetivamente é”.

Visivelmente emocionado, o presidente da Câmara de Monção na altura, Augusto Domingues (PS), começou por fazer um resumo da história tanto daquele edifício como da Banda Musical de Monção. 

“Senhor presidente da direção, aqui tem a chave merecida”, disse Augusto Domingues de olhar em João Antunes. Seguiu-se o abraço. O momento. O aplauso e minutos que ficarão para sempre na história do concelho. “Sinto uma grande felicidade por ter cumprido uma promessa e por ter garantido o futuro da Banda. Esta obra é um orgulho para todos os monçanenses. É uma honra enorme ser presidente desta terra”, finalizou o autarca.

Mantendo a traça arquitetónica original e a memória ferroviária de outrora, através de elementos identificativos e a cobertura nas traseiras, representa o ponto de partida de um projeto estruturante para a beneficiação daquele espaço situado à entrada do centro histórico da vila.

A comparticipação governamental foi de 85 por cento. O valor de adjudicação da empreitada, à qual concorreram várias empresas, ficou em 322.656,00 euros acrescida de IVA.

A filarmónica monçanense, cuja existência remonta a finais do seculo XVIII, ocupava o antigo quartel dos bombeiros voluntários de Monção, imóvel localizado no centro histórico disponibilizado pela autarquia. O edifício deverá ser transformado na Casa da Juventude.

 

Veja a galeria de fotos do dia em que o edifício da antiga estação ganhou nova vida [créditos: Município de Monção]

 

 

Entretanto, em outubro desse mesmo ano, a Câmara mudou de cor política. António Barbosa (PSD) passou a estar ao leme do Município. 

O novo edil monçanense fez questão de preservar ainda mais a memória daquele espaço, nunca esquecendo o alerta deixado por José Hermano Saraiva.

Em finais de 2018, foi dada como concluída a recuperação total do antigo depósito de água. “Valorizamos a memória coletiva dos monçanenses e embelezamos uma área que, no futuro, será objeto de uma profunda intervenção de revitalização urbana”, congratulou-se o novo presidente da Câmara.

 

Nova vida para o antigo armazém

 

Seguiu-se o antigo armazém que esteve em risco de ser demolido. Em dezembro do ano passado, o Executivo social-democrata anunciou que o espaço vai dar origem a uma incubadora de empresas. 

“Temos um projeto que contempla duas fases. A primeira implica a reabilitação de toda a parte fechada para a criação de uma incubadora de empresas. Estão previstos gabinetes individuais, salas de formação, salas de reuniões, espaço de convívio. Terá dois pisos”, adiantou à Rádio Vale do Minho o vice-presidente da Câmara de Monção, João Oliveira.

“Entendemos que estamos assim a dar um sinal forte aos jovens de Monção. Num dos principais locais da vila de Monção vão ter lá uma incubadora de empresas onde irão ter a preços muito reduzidos a oportunidade de iniciar o seu percurso profissional”.

No entanto, a vereação socialista votou contra. “Obviamente que sou a favor do coworking. O problema é que eles [maioria PSD] querem passar para o domínio privado que permite alienar, tal como fizeram com as futuras lojas na Avenida 25 de Abril”, disse o vereador Augusto Domingues à Rádio Vale do Minho.

“Tanto investimento fizemos em adquirir terrenos, em demolir casas para facilitar a futura obra da envolvente da estação e agora põem ao dispor dos privados? Não. Não concordo com isso!”, concluiu o autarca socialista.

A proposta foi aprovada com os votos favoráveis do PSD. Contou com os votos contra dos três vereadores do PS. A obra deverá ficar concluída ainda durante 2020.

 

PSD já tinha assegurado que antigo armazém iria ser mantido

 

Foi em agosto de 2018 que a maioria social-democrata garantiu que o antigo armazém da CP iria ser mantido durante a intervenção na envolvente da antiga estação dos caminhos-de-ferro.

Eesta intervenção, denominada Projeto de Requalificação Urbanística da Avenida D. Afonso III, surgiu há três anos tendo despoletado aceso debate entre as duas maiores forças políticas do concelho. Em 2016, eram os socialistas que estavam ao leme da Câmara Municipal. 

Apresentaram duas propostas – a A e a B. A primeira apresentava uma forma mais aberta de chegar a Monção, que privilegiava a vista para a muralha. Conseguia dissimular toda a zona de estacionamento com um enquadramento arbóreo, havendo uma sequência de percurso até ao centro histórico. Esta solução obrigaria à retirada do antigo armazém da CP.

Já a solução B mantinha todo o conjunto edificado pela CP, obrigando a que o estacionamento seja junto ao arruamento. Seria criada uma praça entre o edifício da estação e o edifício do armazém, sendo feita aí a passagem para uma segunda rotunda já no centro histórico. Seria uma passagem mais dissimulada.

A alternativa B era na altura a que mais agrada aos sociais-democratas, mas o PSD considerava que ainda não era a ideal. A vereação ‘laranja’ não só defendia o aproveitamento do cais da estação para eventos de variadas índoles como apelou a uma alternativa C, com mais lugares de estacionamento.

Essa terceira alternativa viria a ser encontrada pelo próprio PSD no trabalho de um jovem arquiteto de Monção. Em maio desse mesmo ano, João Miguel Felgueiras apresentou soluções para uma profunda requalificação de todo o casco histórico da vila.

O trabalho, que foi tese de Mestrado, aborda os principais espaços públicos do concelho: Largo do Souto, Largo da Estação, Praça da República, Praça Deu-la-Deu e Parque das Caldas. No largo da Estação, para além da manutenção de todo o património edificado pela CP, o arquiteto sugere a construção de um parque de estacionamento subterrâneo com capacidade para 300 viaturas.

“Se esse espaço for pensado em duas plataformas, até pode passar para o dobro”, apontou na altura João Miguel Felgueiras à Rádio Vale do Minho.

 

Socialistas não se opuseram à manutenção do antigo armazém

 

Convidado a comentar a determinação do PSD em manter o antigo armazém da CP, o vereador socialista Augusto Domingues lembrou nesse mesmo mês de agosto que “se for esta a vontade, teremos de acatá-la. Temos de respeitar a maioria”. “Nem vale a pena grande discussão! Eles são quatro e nós somos três”, apontou o antigo presidente de Câmara que sublinhou não ficar desagradado se aquele edifício for mantido.

“No final do mandato eu já aceitava as várias possibilidades, excepto a deslocação do antigo armazém. Isso seria menos exequível! Mas ficar ou sair eram hipóteses que eu já tinha acatado”, recordou Augusto Domingues à Rádio Vale do Minho.

Recorde aqui os vídeos apresentados em 2016 com as propostas A e B para a zona envolvente da Estação:

 

 

 

[Fotografia de capa: DR]

 

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