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Valença: Esta ponte estava pronta… mas só foi inaugurada dois anos depois – Foi há 136 anos

25 Março, 2022 - 19:50

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Foi concluída em 1884, mas só seria inaugurada em 1886.

A Ponte Internacional Valença/Tui celebra esta sexta-feira 136 anos de existência. Começou a ser construída a 15 de novembro de 1882. Foi projetada pelo arquitecto espanhol Pelayo Mancebo, tendo os custos de construção sido divididos entre os governos Português e Espanhol.

 

A obra foi dada como concluída a 10 de outubro de 1884. No entanto, a ponte só seria inaugurada quase dois anos mais tarde. Mas porquê?

 

Um surto de cólera ameaçava a Europa nesse ano. Começava a ganhar proporções cada vez maiores. O país vizinho estava já a ser seriamente afetado.

 

O terror voltou a instalar-se entre o povo. Ainda não tinham sido curadas a feridas deixadas pela pandemia da mesma doença que tinha afetado o país em 1833 e cujo número real de vítimas nunca chegou a ser apurado.

 

O Ministério do Reino não perde tempo. Nos primeiros meses de 1885, envia de imediato aos Governadores Civis “desinfetantes e repete-lhes os procedimentos a seguir, desde o isolamento militar do local, se confirmada a suspeita de cólera, ao uso de água fervida, à limitação de toda a atividade económica que implicasse comunicação de bens e pessoas entre Portugal e Espanha”, conforme refere a historiadora Laurinda Abreu, em A luta contra as invasões epidémicas em Portugal: políticas e agentes, séculos XVI-XIX.

 

Entra em atividade um enorme cordão sanitário de fronteira. Valença dispara o alerta vermelho. A ponte estava prestes a ser inaugurada e as passagens entre os dois países pelo rio Minho eram ainda feitas de barco.

 

 

Situação só voltou a normalizar no ano seguinte

Os primeiros meses de 1886 trouxeram a normalidade ao Vale do Minho e, consequentemente, ao resto do país. As populações regressaram às suas lides no rio Minho. Os lazaretos foram sendo encerrados. “Os cordões sanitários iam sendo levantados mas mantendo o serviço telegráfico, não fosse registar-se algum recrudescimento da epidemia”.

 

A 25 de março desse ano foi finalmente inaugurada a ponte internacional. Estava pronta desde 10 de outubro de 1884.

 

Vários especialistas apontam que, durante o século XIX, a epidemia de cólera em Portugal fez mais de 40 mil mortos.  É causada por uma infecção no intestino provocada pela bactéria vibrio cholerae. A bactéria faz com que as células que revestem o intestino produzam uma grande quantidade de fluidos que causam diarreia e vómitos.

 

 

Ponte mantém praticamente o traçado original

Na atualidade, a ponte mantém praticamente o traçado original. É composta por uma superstrutura em viga metálica, de treliça de rótula múltipla, com cinco tramos contínuos. Com 318 metros de comprimento, cruza o rio Minho, tendo dois tabuleiros, um superior para a via férrea, e um inferior para uso rodoviário. É propriedade conjunta das empresas Rede Ferroviária Nacional, Infraestruturas de Portugal e Dirección General de Carreteras.

 

 

[Imagens: DR]

 

 

De referir que uma das maiores intervenções feitas nesta ponte foi realizada em finais de 2011. A Rede Ferroviária Nacional adjudicou à empresa Teixeira Duarte uma empreitada para a reabilitação e reforço das fundações, num prazo de 365 dias, e pelo valor de 3,5 milhões de euros.

 

Os objectivos desta intervenção eram garantir que a infraestrutura iria ficar com uma resistência longitudinal necessária para as obras, prevenir que futuros trabalhos de infraescavação colocassem em risco a estabilidade das fundações.

 

Consistiu, assim, na reabilitação de quatro pilares e de alvenarias, substituição de todos os aparelhos de apoio, reabilitação e reforço dos encontros, e instalação de equipamentos de controlo dos movimentos longitudinais. Esta intervenção foi considerada de rotina, sendo uma das obras que são efectuadas periodicamente, com um intervalo de cerca de 50 anos.

 

 

O centenário de 86

Corria o mês de março de 1986. Tempos em que os Fiat 127 eram um êxito no mercado. Do lado de lá do rio Minho eram os Seat 127, dado que esta empresa também produziu o carro. Era o automóvel mais vendido na Europa. No futebol, a seleção portuguesa estava prestes a carimbar o passaporte para o Mundial do México. Correu como correu… mas isso agora não interessa nada.

 

O país ainda estava louco com as eleições presidenciais de há um mês que tinham levado Mário Soares e Freitas do Amaral à segunda volta. Ganhou Soares, que tomara posse há dias… a 9 de março desse ano, mais precisamente.

 

Portugal era membro da então chamada Comunidade Económica Europeia (CEE) desde 1 de janeiro. A bandeira azul com as estrelas amarelas passou a fazer parte da vida dos portugueses e também dos espanhóis. 

 

Em Valença o ambiente era de alegria… de esperança num futuro melhor e de união com o povo do lado de lá do rio Minho depois de décadas de ditadura e de medo. O ambiente era de festa. Aquela ponte a que todos estavam já tão habituados fazia 100 anos… um século e tantas histórias para contar.

 

A fronteira ainda existia. A liberdade avançava. Mas devagar. Os que queriam passar para o outro lado ainda tinham de mostrar o Bilhete de Identidade.

 

Até que finalmente chegou esse dia 25. Uma enorme festa entre os dois municípios vizinhos. Entre abraços e cerimónias formais, ninguém quis perder o descerrar das placas de ambos os lados que assinalavam o centenário daquela ponte desenhada e construída pelo arquitecto espanhol Pelayo Mancebo, tendo os custos de construção sido divididos entre os governos Português e Espanhol.

 

 

O abraço das locomotivas

Um dos momentos altos foi o abraço entre dois comboios também centenários dado no tabuleiro superior da ponte como que simbolizando o sonho de um dia existir ali algo diferente… talvez uma Eurocidade, porque não?

 

 

 

Volvidas mais de três décadas, essa união foi conseguida. Valença e Tui estão de mãos dadas numa união mais forte que nunca. Duas irmãs que partilham praticamente tudo. Fazem atividades conjuntas e olham para o futuro em simultâneo.

 

 

[Fotografia capa: DR]

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