Os registos fósseis mais antigos de lampreias têm cerca de 280 milhões de anos. Este ciclóstomo é hoje uma das iguarias mais caras em restaurantes e um dos pratos mais apreciados no Vale do Minho. Dentro de poucos dias, a 15 de janeiro, arrancará em toda a região a época da lampreia. Caminha, Melgaço, Monção, Valença, Paredes de Coura e Vila Nova de Cerveira apostam forte numa altura em que o fluxo de visitantes aumenta, sobretudo na restauração.
Vários especialistas e pescadores consultados pela Rádio Vale do Minho acreditam que, devido às fortes chuvas, haverá este ano abundância de lampreia no Rio Minho. No entanto, há já várias associações ambientalistas a alertar para os perigos de extinção deste ciclóstomo. Apontam a poluição e a construção de barragens como principais causas do desaparecimento.
A ciência chama-lhe Petromyzontidae, mas o povo (os que apreciam) prefere chamar-lhe manjar dos deuses. Os compêndios de História relatam que as lampreias já eram bastante apreciadas no império romano. Eram até guardadas em grandes tanques. Mas só em 1877 surgiria o primeiro grande trabalho científico sobre este animal. Abordou a larva da lampreia e foi assinado por Sigmund Freud.
Vampiros das águas
Não é fácil gostar-se deste animal. É por muitos apelidado de “feio” e até mesmo “assustador”. Não tem mandíbulas nem barbatanas. Tem uma boca redonda, com numerosos dentes pequenos e uma ventosa. No topo da cabeça existe um chamado olho pineal translúcido. À frente, uma única narina. Tudo, portanto, para não subir ao pódio num concurso de beleza. Só que o que importa neste animal não é propriamente a aparência, mas o sabor. E não são raros os casos daqueles que se impressionavam com o aspeto e depois tornaram-se autênticos fãs fazendo jus à expressão de que “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Se a aparência da lampreia não é propriamente atrativa, o modo de vida não é melhor. São chamadas de vampiros das águas. Com a ajuda da ventosa, fixam-se pela boca a outros peixes. Fazem um buraco na pele e sugam-lhes o sangue e comem até mesmo a carne. De acordo com os especialistas, não é raro vê-las fixadas a tubarões, salmões, bacalhaus e mamíferos marinhos.
Em Portugal existem várias espécies de lampreias. A lampreia do rio Minho está entre as mais apreciadas. No entanto, este ciclóstomo é um migrador anádromo: vive no mar e reproduz-se nos rios. A distribuição no oceano Atlântico estende-se da América do Norte ao Sul da Europa, ocorrendo ainda no Leste do mar Mediterrâneo. Cada fêmea gera milhares de ovos pequenos. As famosas ovas de lampreia, também muito apreciadas.
Pesqueiras a Património Nacional
São conhecidos vários métodos de pesca. Desde a apanha à mão até redes e armadilhas. Pelo rio Minho encontram-se espalhadas várias pesqueiras. Em março do ano passado, o presidente da Câmara de Melgaço, Manoel Batista, defendeu mesmo a elevação das Pesqueiras do Rio Minho a Património de Interesse Nacional. “Elas são realmente únicas no país, enquanto construção!”, realçou Manoel Batista. “É dessas pesqueiras milenares que sai a lampreia que marca realmente a nossa cozinha, o saber fazer… Marca a tradição e os sabores desta altura”, continuou o edil melgacense.
De acordo com dados recentes do Porto de Caminha, estão registadas no lado português do rio Minho 660 pesqueiras, sendo 130 estão ativas, sendo que não é permitida a criação de novas estruturas.
A época da lampreia, no Vale do Minho, prolonga-se até meados de abril. Dos pratos de lampreia mais consumidos destacam-se o arroz de lampreia e a lampreia à bordalesa. No entanto, mais recentemente e com objetivo de captar apreciadores mais jovens têm até surgido novas criações como sushi de lampreia e até pizza de lampreia, que teve a assinatura do empresário valenciano João Guterres.
[Fotografia: terrademaresol.blogspot.com ]
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