Mais de duas centenas de trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) bloquearam ontem o acesso à empresa dos deputados da Comissão Parlamentar de Economia e Obras Públicas, no início de uma visita à unidade.
Os trabalhadores concentraram-se num dos portões da empresa pelas 16:30, empunhando camisolas pretas com afirmações de contestação à reprivatização dos estaleiros.
À chegada da comissão, com 14 deputados, mais de 200 trabalhadores bloquearam o acesso ao interior, colocando-se à frente do portão durante cerca de 15 minutos, munidos ainda com tarjas e cartazes contra a venda dos estaleiros.
A situação obrigou à intervenção do presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, que também integra a visita, e do presidente daquela comissão parlamentar, Luís Campos Ferreira (PSD).
“Temos todo o gosto em falar com vocês no fim”, disse o deputado ao porta-voz dos trabalhadores, António Costa.
A comitiva acabou por entrar na empresa, debaixo de um coro de protestos e contestação dos trabalhadores, mas sem registo de qualquer incidente.
“O objetivo seria cumprido se o Governo, de uma vez por todas, tivesse a decência de parar este processo. Isto será o culminar de uma grande empresa”, afirmou o porta-voz dos trabalhadores, que desafiarma o primeiro-ministro para uma visita aos ENVC.
“Para ver ao vivo as condições que temos e que vão ser vendidas ao desbarato por euro”, afirmou António Costa.
A Comissão Parlamentar de Economia e Obras Públicas iniciou ontem uma visita de dois dias ao Alto Minho e, na passagem pelos ENVC, os deputados tinham reuniões agendadas com a administração da empresa e com a comissão de trabalhadores.
“Esta visita da comissão peca por tardia, já devia ter vindo mais cedo. Mas espero que não nos venham dar às condolências”, disse ainda o porta-voz.
A visita da comissão aos ENVC, explicou no final Campos Ferreira, foi uma “reflexão” sobre o atual momento da empresa e serviu para levar o parlamento a “sair da sua zona de conforto”, discutindo os problemas “junto das pessoas” e envolvendo deputados de todos os partidos.
Sobre o protesto dos trabalhadores admitiu compreender o momento vivido na empresa.
“Na vida, há que passar por determinadas coisas para as sentir de forma mais intensa. Faz parte [protestos], mas também faz parte o respeito pelo parlamento enquanto instituição fundamental da democracia e do Estado de Direito”, disse ainda o presidente da comissão.
No final da reunião com a administração, o deputado social-democrata admitiu aos jornalistas que foram pedidas informações sobe a carteira de encomendas dos estaleiros e o processo de reprivatização.
O prazo para entrega de propostas para a venda da empresa termina a 25 de outubro e nesta altura estão quatro empresas na corrida.
Segundo fonte do ministério da Defesa, este processo de reprivatização deverá estar concluído até final do ano, com a alienação de 95 por cento do capital social dos estaleiros.
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