Já lá vão quase cem anos e a família Natário continua a ter na montra da confeitaria os célebres rebuçados do “Senhor dos Passos”, símbolo doceiro da Páscoa em Viana do Castelo, mas vendidos todo o ano.
“Está sempre a sair, mas nesta altura a procura aumenta. Na semana passada, fizemos uns 50 quilos deles”, explicou à Lusa Abel Ferreira, pasteleiro da confeitaria de Manuel Natário, uma das mais conhecidas da cidade de Viana do Castelo.
“Tenho 56 anos, vim para aqui aos 14 e hoje a receita dos rebuçados é igual à que existia quando cá cheguei. Tudo como antigamente, à mão e sem químicos”, garante, perante a habitual azáfama de preparar a doçaria da Páscoa.
Confecionados sobretudo à base de açúcar, para formar o caramelo, e amêndoa, para dar o sabor, o pão de hóstia que os cobre acaba por dar um toque especial. Tal como a cozedura, outro dos segredos de uma produção que continua a ser totalmente manual, tal como nos últimos cerca de cem anos.
Força nos braços e muita paciência são outros “ingredientes” indispensáveis à preparação. É que os rebuçados do “Senhor dos Passos”, embrulhados um a um nas habituais folhas de papel roxas, são um doce típico da Páscoa no Alto Minho, mas diz quem os faz que os daquela confeitaria são diferentes.
“Acho que o maior segredo é fazermos isto da mesma forma há tantos anos”, assume o pasteleiro.
Uma arte doceira que, juntamente com outras iguarias daquela confeitaria, vai passando de geração em geração. Hoje, é Fernanda Natário que está à frente do negócio, depois da morte do marido em 2003, com 78 anos.
“Era o ‘Manuelzinho’ Natário, como todos o conheciam. Ele tomou conta da casa em 1952, mas antes era a mãe dele, por isso é que estes rebuçados são praticamente centenários”, explica Fernanda Natário.
São confecionados pelos três pasteleiros da casa, uma vez por semana, com cerca de 20 quilos, e vendidos em embalagens de 300 gramas, também elas inalteradas há décadas.
Os doces daquela confeitaria foram celebrizados internacionalmente por Jorge Amado, que por várias vezes visitou Viana do Castleo e a “Manuel Natário”, tornando-se amigo do proprietário.
O escritor brasileiro fez precisamente de Manuel Natário uma personagem do romance “Tocaia Grande”, retratado na figura de “Capitão Natário”, que apelidou de “capitão de doces e salgados, comandante do pão-de-ló, mestre do bem comer”.
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