Paredes de Coura: Vendedoras de Lenços dos Namorados dizem que alto-minhotos estão mais românticos

Ninguém sabe quando foi bordado o primeiro. Mas sabe-se que a tradição conta já mais de 300 anos. Teve tempos altos, chegou a arriscar o esquecimento e tornou-se depois um ícone da região. E hoje, diz-se em Paredes de Coura, os Lenços dos Namorados são “mais procurados que nunca”.
Fabricado a partir de um pano de linho fino ou de lenço de algodão, é uma peça de artesanato típica do Alto Minho bordada com motivos variados. As frases com erros ortográficos são uma ‘imagem de marca’ deste produto que era usado em tempos como ritual de conquista. Era… e pelos vistos voltou a ser. “Isto vende-se cada vez mais. Acho que a malta nova está a interessar-se muito por estes produtos”, disse Micaela Sousa à rádio Vale do Minho. Natural de Paredes de Coura, a jovem começou a bordar ainda em tenra idade. Entretanto, os motivos dos lenços dos namorados ultrapassaram as fronteiras do próprio lenço. O bordado deu lugar à estampagem e surgiram as toalhas de mesa, as malas de higiene pessoal, as pegas de cozinha e muitos outros produtos vestidos com este amor nascido no Alto Minho. “Os alto-minhotos estão cada vez mais românticos. Há cada vez mais coisas destas à venda. É uma forma bonita de voltar ao passado e deixar, por exemplo, as mensagens de telemóvel”, considerou Micaela ao lado da sua banca montada na “Festa da Truta” que decorre este fim-de-semana naquela vila.
Mais à frente, Daniela Silva tem também a mesma opinião. A gente do Minho está hoje a preferir métodos de outras épocas para manifestar um coração derretido. No entanto, a vendedora alerta que é precisa atenção ao lenço que se escolhe. “É a melhor maneira de começar um namoro, por exemplo. Mas há pessoas que não entendem ainda o que querem dizer estes lenços. Oferecer por oferecer pode não ter aquele resultado esperado. É preciso escolher a quadra ideal”, explicou Daniela Silva que começou a praticar esta arte há pouco mais de cinco anos. “Para além dos lenços, saem muito as almofadas e as t-shirts”, referiu. “Todos acham piada sobretudo aos erros na quadra. Tive até uma cliente cujo bolo de casamento foi um lenço dos namorados”, revelou.
Diz a história que a origem dos “lenços dos namorados” ou “lenços de pedidos” está nos lenços senhoris do século XVII, adaptados depois pelas mulheres do povo.
A rapariga, quando estava próxima da idade de casar, confecionava o seu lenço bordado a partir dum pano de linho. Para realizar esta obra, utilizava os conhecimentos que possuía sobre o ponto de cruz, adquiridos na infância. Depois de bordado, o lenço ia ter às mãos do “namorado” ou “conversado”. Era em conformidade com a atitude do rapaz usá-lo publicamente (ou não) que se decidia o início duma ligação amorosa.