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Monção

Monção: PS e CDS fizeram autêntico exame oral a Barbosa – Árvores e obras na mesa

1 Maio, 2018 - 11:55

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Quem viu o filme A Canção de Lisboa (1933), certamente lembrar-se-á da icónica cena de Vasco Santana em frente ao trio de doutores durante o exame final do curso de […]

Quem viu o filme A Canção de Lisboa (1933), certamente lembrar-se-á da icónica cena de Vasco Santana em frente ao trio de doutores durante o exame final do curso de Medicina. Esta segunda-feira, o cenário não andou muito longe disso para o presidente da Câmara de Monção (PSD), durante a sessão da Assembleia Municipal. António Barbosa foi literalmente bombardeado por questões vindas da esquerda… e do centro. Todas elas debruçadas essencialmente sobre matérias expectáveis: o abate recente de árvores no Parque das Caldas e as futuras obras no centro histórico da vila.

O PS não perdeu tempo. Durante o período dedicado ao Dever de Informação, os socialistas dispararam as primeiras questões. Pela voz do deputado José Adriano Monteiro Alves, os socialistas começaram por pedir esclarecimentos perante o documento que tinham em mãos. “Na página 23, alínea b) por empreitada/prestação de serviços superiores a cinco mil euros, concluídas, verifico que uma dessas empreitadas diz respeito ao serviço de poda de árvores no concelho de Monção”, leu Monteiro Alves. “Pergunto, Sr. Presidente, neste serviço está incluído o abate dos plátanos nas Caldas?”, questionou. Ato contínuo, e embora contra o regulamento, ouviram-se palmas vindas de uma parte do público.

 

CDS mostra músculo – Desenvolvimento não significa corte de árvores

 

Seguiu-se o CDS-PP. Pela voz de Elisabete Amoedo, os centristas também não pouparam nas críticas. “Cada vez mais, as ondas de calor fazem parte do nosso quotidiano. A poluição do ar é uma realidade! De que forma podemos amenizar estes problemas tão graves para a nossa civilização? Plantando árvores”, sublinhou a deputada. De manual aberto e olhos postos no presidente da Câmara, Elisabete Amoedo soltou o lamento. “É incompreensível que algumas pessoas, para defenderem o corte abusivo de árvores, invoquem a necessidade de desenvolvimento. Como tal não fosse possível sem o abate das mesmas”, disse. “Acha mesmo que é com o abate de árvores e largas avenidas que vamos tornar aquela zona mais apelativa para os turistas?”. Mais uma questão. Barbosa anotava… anotava.

Os centristas mostravam músculo. A ferida de terem perdido representatividade no Executivo Municipal parece estar já cicatrizada. Voltaram à carga pela voz do deputado Ricardo Dias, desta vez virados para outro capítulo: as futuras intervenções no centro histórico. “Referiu que os projetos são esboços e que não correspondem à obra final. Contudo, essa não deveria ser a norma. Para opinarmos e aprovarmos uma obra, temos de saber como é que ela efetivamente ficará”, realçou o deputado. “Referiu que a autarquia está aberta a sugestões «desde que não entrem em conflito com a ideia inicial que o atual Executivo tem para a Praça da República». Sr. Presidente, até onde é que as nossas sugestões podem ir?”, interrogou.

 

“Eles cortam tudo e não dizem nada!”

 

Os socialistas tomaram uma vez mais a palavra. Desta vez por Nélson Azevedo, deputado independente eleito pelas listas do partido, que subiu o tom e abriu ainda mais canhões à direita. “Eles cortam tudo! Eles cortam tudo! Eles cortam tudo e não dizem nada!”, disparou o deputado inspirado no tema Os Vampiros, de Zeca Afonso. Não hesitou. Apontou o dedo a António Barbosa, tendo mesmo acusado o presidente da Câmara de “autocracia”. “Decidiu pelo futuro, mas decidiu sozinho. Não ouviu os partidos. Ouviu os vereadores? Ouviu a Assembleia Municipal? Ouviu os habitantes de Monção? No dia 25 de abril trouxe um mau exemplo de autocracia num dia de democracia”, considerou. “O projeto apresentado é errado! Resulta de uma visão própria do presidente do Executivo e esta visão tem alguns riscos ainda não ponderados”, avaliou Nélson Azevedo. “Espero que abra um período de discussão pública destes projetos que lançou. Páre! Escute e olhe!”, exclamou. Barbosa anotava… anotava em silêncio.

 

Barbosa: “Durante 20 anos cortaram-se plátanos e nunca ouvi ninguém a contestar”

 

Chegara a vez do presidente da Câmara responder. Calmo e compenetrado, Barbosa ligou o microfone. Virou o olhar à esquerda. “O concurso de poda de árvores pelo concelho, que está a ser feita na parte urbana, nada tem a ver com a intervenção que houve nos plátanos da Avenida das Caldas”, iniciou António Barbosa que se voltou imediatamente para a bancada do CDS-PP. “Posso dizer-lhe [para Elisabete Amoedo] que este ano já plantei muitas árvores!”, sublinhou o edil lembrando duas ações de reflorestação em que participou recentemente.

De esferográfica em punho, passou à explicação detalhada do recente abate de árvores. Sacou desde logo memórias dos tempos socialistas em Monção. “Durante 20 anos cortaram-se vários plátanos e nunca ouvi ninguém a contestar. Poderíamos aqui falar dos arciprestes que existiam na ponte do comboio que foram cortados devido às entradas em Monção. Como diria o nosso deputado Nélson Azevedo… cortou-se! Cortou-se! Cortou-se!”, ironizou. “Eu não sou a favor de cortar árvores e prova disso é que em todos os arruamentos novos que vão nascer há arborização de dois em dois metros”, apontou o presidente da Câmara.

O mote estava dado. António Barbosa continuou com a explanação. “A Rua das Fontes é um local de saída das Termas sem visibilidade absolutamente nenhuma. Já houve vários acidentes ali! O novo projeto prevê o alargamento dessa saída, com STOP e com visibilidade total para ambos os lados”, garantiu. “A obra prevê também a criação de uma rotunda onde hoje existe aquele triângulo“, adiantou. Perante os deputados municipais, Barbosa assumiu somente o erro de não tê-lo tornado público. E novamente de olhos em Elisabete Amoedo, o edil monçanense voltou aos números. “Nos últimos anos foram cortados dezenas de plátanos no Parque das Caldas! Dezenas! Simplesmente porque ficava mais bonito”, atirou. No entanto, António Barbosa deixou a promessa de que, doravante, a autarquia irá informar sempre que houver uma intervenção semelhante.

À boleia deste arvoredo todo, Barbosa chegou à Praça da República. Quase que de forma inevitável, debruçou-se sobre a ideia que a anterior gestão socialista da Câmara Municipal tinha para aquele espaço. “Este projeto que iria avançar em setembro se nós não tivéssemos ganho as eleições tinha 670 metros quadrados de áreas verdes. O nosso tem 879 metros quadrados!”, realçou António Barbosa. Lembrou que o chafariz ainda nem sequer tem 40 anos. “Qual é o mal?”, vociferaram do público. O presidente da Câmara admitiu a hipótese de o replicar noutra zona, possivelmente próximo das Termas.

 

A calçada de António Costa

 

Garantiu que irá manter a calçada à portuguesa que, recorde-se, foi defendida pelo PS durante a reunião do Executivo Municipal realizada em Abedim. Recorrendo à comunicação social, recuou até 2014. Nesse ano, a Câmara Municipal de Lisboa era presidida pelo atual Primeiro-Ministro, António Costa. “Alegando questões de segurança, conseguiu aprovar em Assembleia Municipal um plano de erradicação da calçada à portuguesa, substituindo-a por lages de cimento”. Barbosa foi interrompido. “Fale ao povo, Sr. Presidente! Fale ao povo! Pare com as lutas partidárias! Fale ao povo de Monção!”, pediu em alta voz uma espectadora do alto do auditório. Barbosa fez uma pausa.

Prosseguiu. Reafirmou novamente ser contra o corte de árvores. Garantiu que, com as futuras intervenções, a identidade de Monção não será perdida mas sim recuperada. Em resposta a Ricardo Dias, Barbosa sublinhou “que todas as ideias são bem-vindas. Ouvimos as pessoas e é isso que tem sido esta governação desde o início!”. Sobre o timing para as sugestões, o edil social-democrata lembrou que “todos estes projetos têm prazos de execução. Quando falamos em ouvir, torna-se complicado porque todos nós temos opiniões diferentes. É sempre muito difícil ir ao encontro do que todos nós pensamos! Tenho de executar estas obras até dezembro de 2019. Senão perdem-se 1 milhão e 900 mil euros para a parte de intervenção no casco urbano”. A fechar, e para o deputado socialista Nélson Azevedo, o presidente da Câmara assumiu o compromisso que não serão cortadas mais árvores. E rejeitou qualquer estilo de autocracia. “Não tenho problemas em ouvir”, finalizou.

António Barbosa não terá ainda convencido esquerda e centro. Mas, mais à direita, mostrou claramente saber localizar o esternocleidomastoideu.

 

 

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