É, sem margem para dúvidas, um dos rituais mais insólitos que acontece em toda a Galiza.
A chamada Procissão dos Caixões está de volta e vai realizar-se este sábado na aldeia de Santa Marta de Ribarteme, no concelho de As Neves, vizinho galego de Melgaço.
Manda a tradição que seja realizada a 29 de julho.
Há dois anos, recorde-se, o ambiente foi tenso nesta localidade. O pároco quis acabar com este ritual.
No entanto, o sacerdote recuou na decisão e a procissão a realizar-se no ano passado mas com condições: os caixões não puderam entrar na igreja (e nem sequer no ádro) tanto no início como no final. Assim aconteceu.
Trata-se de uma romaria com mais de 300 anos de história: todos os anos, os habitantes da aldeia de Santa Marta de Ribarteme, na Galiza, desfilam dentro de caixões abertos para agradecer ou para pedir ajuda a Santa Marta, a sua padroeira.
“Muitas pessoas vêm à Romaria de Santa Marta para fazer ofertas, pedir ou agradecer à santa, mas o que é conhecido da procissão são os caixões com pessoas no interior. As pessoas oferecem-se para ir ali deitadas, mas também podem carregar o caixão fechado e vazio. É algo que atrai a atenção, mas é uma romaria”, contou a sacristã da aldeia, Marta Dominguez, à Euronews, durante a edição destas festas em 2018.
A imagem de Santa Marta sobressai na procissão. É a padroeira das causas urgentes e impossíveis. Carregam-na homens, mulheres e crianças que querem pedir ajuda ou agradecer por terem ultrapassado situações difíceis.
Procissão atrai multidões e meios de comunicação social de todo o mundo
[Fotografia: DR]
Mesmo sabendo que não passa de um cortejo, o momento em que os habitantes se colocam dentro dos caixões é sempre complicado.
“Não te preocupes que não te acontece nada. É a coisa mais natural do mundo. Há que morrer. Nós nascemos para morrer. Porque tens medo?”, referiu a sacristã.
População local lamenta a visão deturpada da procissão
Nas redes sociais há quem defenda esta secular tradição galega e lamente uma má interpretação desta tradição, como é o caso da página Orgullo Galego.
“Desde que os jornais internacionais decidiram catalogar isto como uma das festas mais singulares no mundo, fez com que chegassem jornalistas internacionais à procura de sensacionalismo e a dizer que existem pessoas a entrar em caixões para tirar selfies“, lamenta-se.
Ritual realiza-se há séculos nesta aldeia de As Neves
[Fotografia: DR/Via Orgullo Galego]
“Não faltam também pessoas a reduzir tudo isto a uma simples crença religiosa, sem conseguir entender o papel importante da morte na nossa sociedade”, lê-se. “Mas tudo isto está ligado à nossa cultura”.
“A morte faz parte da cultura galega desde tempos imemoriais”, sublinham.
Familiares e amigos carregam as urnas abertas desde o salão paroquial até à Ermida da Senhora Aparecida, a cerca de 400 metros.
A primeira referência histórica a esta romaria, também conhecida como “cortejo dos amortalhados” ou “procissão dos mortos-vivos”, data de 1700.
Afinal é este sábado ou no dia 29 de julho?