Centenas de pessoas rumaram esta segunda-feira ao Parque Natural da Senhora da Cabeça, em Valença, junto ao rio Minho, para assistir às cerimónias do Lanço da Cruz.
Um ritual secular onde dois compassos pascais – um português e um galego – cruzam as águas para dar a cruz a beijar na margem contrária.
Trata-se de uma tradição luso-galaica, com séculos de existência, que anualmente ali se repete. É ponto de confluência de milhares de peregrinos de todo o Noroeste Peninsular.
Uma tarde com nuvens, mas com sol à espreita e, sobretudo, bastante calor que convidou muitos devotos e curiosos a rumar ao local para assistir à tradição.
“Estou muito feliz. O ano passado já foi bom, mas este ano está a superar as expetativas”, disse à Rádio Vale do Minho o Padre Eugénio Silva, sorridente, à frente do compasso português.
Recorde-se que esta tradição esteve suspensa em 2020 e 2021 devido à pandemia da COVID-19. No ano passado voltou, mas com a restrição da proibição de beijar a cruz. Este ano, realizou-se em total normalidade.
“Ainda há muita gente e muitos devotos que gostam desta tradição! Vi gente que não só quis beijar a cruz mas também abraçá-la. A sede desta tradição é maravilhosa”, acrescentou o sacerdote.
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O compasso entrou no barco de pesca, cuidadosamente ornamentado, e dirigiu-se até à margem espanhola onde deu a cruz a beijar aos paroquianos da outra margem.
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Minutos depois, chegou ao cais de embarque a cruz galega, vinda da Paróquia de Sobrado, concelho de Tomiño. Na frente, também visivelmente satisfeito, seguia o padre Joseph Carrera.
“É mais um ano de tradição e já lá vão bastantes”, recordou. “É uma grande alegria regressar à total normalidade”, referiu ainda o sacerdote galego.
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À chegada ao recinto valenciano, o compasso galego foi recebido por um mar de gente.
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Embarcação galega virou
Entretanto, no rio Minho, uma embarcação galega acabou por virar. Segundo apurou o Jornal de Notícias, dois adultos e duas crianças, que seguiam a bordo, caíram à água.
Foram retirados em segurança.
Não houve qualquer ferido a registar desta ocorrência. A cerimónia prosseguiu.
Duas lampreias para o Padre Eugénio
Entretanto a cruz galega regressou ao lado de lá e o compasso português voltou ao lado de cá. Desembarcou num outro cais, a poucos metros daquele de onde partiu. Isto por forma a realizar-se uma pequena procissão até ao Parque de Lazer.
Durante este período em que estiveram no rio, as embarcações portuguesas e galegas lançaram redes benzidas ao rio Minho. A sorte sorriu aos portugueses e saíram duas lampreias. Como manda a tradição, foram oferecidas ao respetivo pároco.
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A acompanhar a comitiva esteve o Presidente da Câmara Municipal, José Manuel Carpinteira, acompanhado pelo Vereador Arlindo Sousa e pelo Presidente da Assembleia Municipal, José António Cerqueira.
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“Esta é uma das tradições mais emblemáticas que temos em Valença, hoje marcada por muita gente em ambas as margens e muita alegria”, descreveu Carpinteira à Rádio Vale do Minho.
O autarca não tem pois, por isso, quaisquer dúvidas de o Lanço da Cruz deve ser elevado a Património Imaterial de Portugal e transfronteiriço.
Carpinteira voltou a garantir que “a Câmara Municipal de Valença, em parceria com a União de Freguesias de Arão, Cristelo Covo e Valença e a Paróquia de Cristelo Covo está a trabalhar nesse sentido”.
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