Aquele dia 12 de novembro de 1933 correria pacato. Como tantos outros na freguesia de Friestas, em Valença. A rotina mudou abruptamente quando se soube que um avião tinha amarado no rio Minho.
A população acorreu em peso para o local. Talvez houvesse feridos. Ou mortos. Mas felizmente não.
Do interior do gigante férreo saiu um homem que terá deixado boquiaberto quem o reconheceu de imediato: era Lindbergh! O próprio Charles Lindbergh em pessoa que acabava de aterrar ali… no rio Minho, com o seu Lockeed, agora imobilizado numa enseada situada junto à Ínsua do Crasto [foto superior].
A internet ainda vinha longe, mas a notícia voou. Ao local acorreram diversas personalidades dos dois lados da fronteira para ver com os próprios olhos um piloto que, seis anos antes, tinha realizado a proeza de ter feito uma travessia solitária do Atlântico Norte.
Mas desta vez Lindbergh não vinha sozinho. Fazia acompanhar-se pela esposa, Anne Morrow.
Mas porque é que o piloto lendário amarou ali?
De acordo com o livro Memórias – Diário de um inconformista (1938 a 1945), de Luís Lupi, aquele aviador realizava uma viagem de 47 mil quilómetros pelo Atlântico Norte. No entanto, a falta de combustível obrigou o hidroavião a descer e a ficar imobilizado .
A amaragem forçada de Lindbergh no Alto Minho foi notícia no mundo inteiro. Luís Lupi era na altura jornalista correspondente das agências noticiosas Reuters e Associated Press.
“Fomos os primeiros a chegar ao sítio. Na margem portuguesa do Minho acampámos, ansiosos, à vista do barco voador, que ali estava pousado a poucos metros de nós, como uma ave de arribação! Uma neblina fresca envolvia todo o cenário, como uma paisagem imaginada por Hitchcock, junto a um lago misterioso da Escócia. […] Foi então que tivemos a nossa entrevista, que eu transmiti para o estrangeiro e o Norberto transformou numa página de reportagem literária no Diário de Lisboa, uma reportagem digna de antologia jornalística!”, conta Lupi nas suas memórias.
Lindbergh atravessou sozinho o Atlântico Norte no afamado Spirit of St. Louis
[Fotografia: DR]
Na década de 1990 foi inaugurado em Friestas um monumento a Lindbergh da autoria de Alípio Nunes Vaz de Sousa. Consiste numa pirâmide de granito de 23 toneladas e numa estrutura em ferro, com 800 kg.
É bem visível da Estrada Nacional 101. Ainda serão relativamente poucos os que sabem o significado dessa pirâmide.
Monumento a Lindbergh erguido em Friestas, na década de 90 do século passado
[Fotografia: DR]
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