Corria o dia 13 de novembro de 1933. Um dia certamente pacato, como tantos outros na freguesia de Friestas, em Valença.
Subitamente, um monstro de ferro amarou no rio Minho.
Voava… mas também flutuava. A população acorreu em peso para o local. Talvez houvesse feridos. Ou mortos. Felizmente não.
Do interior do hidroavião saiu um homem que terá deixado boquiaberto quem o reconheceu de imediato: era Lindbergh!
O próprio Charles Lindbergh em pessoa acabava de aterrar ali… no rio Minho, com o seu Lockeed, agora imobilizado numa enseada situada junto à Ínsua do Crasto.
Lindbergh, com a esposa, em pleno rio Minho na freguesia de Friestas, em Valença
[Fotografia: DR]
A notícia voou. Ao local acorreram diversas personalidades dos dois lados da fronteira para ver com os próprios olhos um piloto que, seis anos antes, tinha realizado a proeza de ter feito uma travessia solitária do Atlântico Norte.
Lindbergh não vinha sozinho. Fazia acompanhar-se pela esposa, Anne Morrow.
Mas porque é que o piloto lendário amarou ali?
De acordo com o livro Memórias – Diário de um inconformista (1938 a 1945), de Luís Lupi, aquele aviador realizava uma viagem de 47 mil quilómetros pelo Atlântico Norte.
No entanto, a falta de combustível obrigou o hidroavião a descer e a ficar imobilizado .
A amaragem forçada de Lindbergh no Alto Minho foi notícia no mundo inteiro. Luís Lupi era na altura jornalista correspondente das agências noticiosas Reuters e Associated Press.
“Fomos os primeiros a chegar ao sítio. Na margem portuguesa do Minho acampámos, ansiosos, à vista do barco voador, que ali estava pousado a poucos metros de nós, como uma ave de arribação! Uma neblina fresca envolvia todo o cenário, como uma paisagem imaginada por Hitchcock, junto a um lago misterioso da Escócia. […] Foi então que tivemos a nossa entrevista, que eu transmiti para o estrangeiro e o Norberto transformou numa página de reportagem literária no Diário de Lisboa, uma reportagem digna de antologia jornalística!”, conta Lupi nas suas memórias.
Lindbergh e a esposa ficaram dois dias Valença. Foram recebidos na Câmara Municipal. Nas ruas eram saudados pela população.
Diz-se que, dos valencianos, o aviador recebeu uma garrafa de vinho do Porto e a esposa um ramo de flores.
Saíram de Valença no dia 15 de novembro, rumo a Lisboa onde foram recebidos com cerimónia de grandes honras.
Lindbergh atravessou sozinho o Atlântico Norte no afamado Spirit of St. Louis
[Fotografia: DR]
Em 1997, foi inaugurado em Friestas um monumento a Lindbergh da autoria de Alípio Nunes Vaz de Sousa. Consiste numa pirâmide de granito de 23 toneladas e numa estrutura em ferro, com 800 kg.
É bem visível da Estrada Nacional 101. Ainda serão relativamente poucos os que sabem o significado dessa pirâmide.
Monumento a Lindbergh erguido em Friestas
[Fotografia: DR]
Valença vai celebrar este momento com os mais novos
O Município vai assinalar os 90 anos da chegada do aviador Lindbergh, à Insua do Crasto, no rio Minho, em Friestas, esta segunda-feira, 13 de novembro, a partir das 14h30.
As atividades vão decorrer no Centro Escolar de Friestas e constam de um enquadramento histórico, da amaragem de Charles Lindbergh e Anne Morrow.
Na atividade participarão, também, o piloto José Manuel Gomes, do Aeródromo de CERVAL, Alípio Nunes, escultor do monumento a Lindbergh e Eduardo Barreiro, presidente do Clube Praticantes Kamikazes AIR RC de Valença.
Está prevista, também, uma visita dos alunos ao local de amaragem do hidroavião e à escultura de Lindbergh, bem como uma demonstração de aeromodelismo, com uma réplica de um hidroavião com 1,30 metros.
Charles Lindbergh é uma das grandes referências de sempre da história da aviação e um notável contador de histórias que, com a obra The Spirit of St. Louis, ganhou o prémio Pulitzer.
O nome da obra é o nome do avião que cruzou o Atlântico no primeiro voo solitário, sem escalas, entre Nova York e París.
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