Em Valença, muito provavelmente, não há quem não conheça a Casa Toga. É tão antiga, que a origem remonta aos tempos da monarquia.
Quem entra, nunca fica indiferente ao imponente quadro ao centro do estabelecimento: «Casa Toga desde 1898», lê-se.
[Fotografia: Rádio Vale do Minho]
Lá dentro, os visitantes encontram tudo. Ou quase. Desde lembranças de Valença, passando pelos vinhos até aos inovadores produtos em cortiça, nomeadamente malas de senhora ou chapéus.
Por trás do balcão atende-nos o Sr. José Manuel Sousa, sorridente e de uma prontidão extrema.
“Há quase 61 anos que aqui trabalho. Completo-os no próximo dia 1 de agosto”, revelou desde logo o veterano funcionário.
[Fotografia: Rádio Vale do Minho]
A origem
O emblemático estabelecimento foi fundado por António Peres Toga que deu nome à casa. Seguiram-se mais quatro gerências diferentes: entre 1943 e 1965. De 1965 até 2000. De 2000 até 2009… e deste último ano até à atualidade.
A Casa Toga é hoje explorada pela empresária Maria José Alves.
“Vim para aqui com 10 anos e nove meses”, recordou o Sr. José Manuel com um sorriso. Tempos em que o trabalho infantil estava ainda longe do olhar das autoridades e dos políticos.
Fez apenas um intervalo para combater em Angola, na guerra do Ultramar. Voltou e seguiu no mesmo emprego.
[Fotografia: Rádio Vale do Minho]
“O que não houvesse aqui não havia em Valença”
No geral, a Casa Toga permanece quase toda no mesmo registo com o qual foi fundada.
No entanto, há produtos que antigamente se vendiam e que hoje já não fazem parte da montra.
“Aqui chegaram a vender-se livros e tecidos. Foi também papelaria. Vendiam-se botões, agulhas e alfinetes. Tinha de tudo! O que não houvesse aqui não havia em Valença”, lembrou o funcionário.
Foram-se os livros e os alfinetes, mas as prateleiras e toda a traça permanece igual. A Casa Toga resiste estoicamente contra o tempo.
“O que nos vai valendo é o turismo. É por isso que aqui temos muitos produtos virados essencialmente para isso. De março a setembro entram aqui muitos peregrinos de Santiago de diversas nacionalidades, mas são os galegos quem mais nos mantém”, admitiu.
Questionado sobre qual o produto que mais se vende, o funcionário apontou imediatamente as cortiças. Das malas de senhora, passando pelos chapéus aos pequenos souvenirs… são um êxito.
[Fotografia: Rádio Vale do Minho]
Presidente da Argentina entrou… e voltou
Pela Casa Toga já passaram, evidentemente, muitos milhares de pessoas ao longo de mais de um século de história.
Entre as mais famosas, o Sr. José Manuel não esquece a visita do então Presidente da Argentina, Raúl Alfonsin. Aconteceu “no final da década de 80”.
“Era um homem espetacular. Uma pessoa muito simples! Quando entram aqui agentinos falo-lhes sempre dele e nunca houve nenhum que me dissesse mal. Toda a gente gostava daquele homem”, recorda em tom nostálgico.
Raúl Alfonsin, uma das individualidades mais ilustres que passou pela Casa Toga
[Fotografia: DR]
Passados uns “três a quatro anos”, Raúl Alfonsin regressou a Valença. Tornou a entrar na Casa Toga. “Gostou muito”, disse o funcionário.
[Fotografia: Rádio Vale do Minho]
Uma medalha “merecida”
No próximo dia 18 de fevereiro, a Casa Toga vai ser reconhecida e agraciada com a Medalha de Mérito do Município de Valença durante a Sessão Solene do Feriado Municipal.
“É justo e já era tempo. Sinto todo o orgulho”, diz o Sr. José Manuel sorridente.
Do alto dos seus 71 anos e a transbordar saúde e lucidez, o funcionário não disfarça a paixão pelo local onde sempre trabalhou.
Reformou-se em 2017. E mesmo assim não abandonou as paredes que lhe trazem tantas memórias.
“É a minha segunda casa. Estarei aqui até quando puder”, concluiu.
Conheço o “jovem” Zé Manuel ( José Manuel Sousa ) desde a sua mocidade, mais novo do que eu, lembro-me perfeitamente do Sr. Abilio, sócio da Casa Toga, do seu cunhado, da sua Esposa (Professora) e das sua Filhas, gente boa de Valença, da boa convivência desses tempos, e quando ia de férias para Valença (estava a viver em Lisboa) na casa dos meus Pais, era obrigatório visitar as pessoas, os já citados, os funcionários, todos eles Amigos e conhecidos, o Carlos, hoje com Loja própria, o Manuel (Manel), o meu Padrinho Manuel ‘Rabeca’ o Sr. Luis Tavares da Casa Tavares, a Farmácia Central, nas pessoas do Sr. Amorim, filho Sr. Abilio e sua Esposa Dra. D. Fernanda, no Café Portugal a D. Antónia, Casa Durães, o Sr. Francisco e António Durães, Casa Alvarinho, e do Sr. Alvarinho, e um dia final de julho (eu de férias), o meu falecido Pai, me pedir para ir fotografar, a Loja Alvarinho, com uma cliente especial, fui, pois já gostava de fotografar, e tirei várias fotos, e quem era a Senhora com várias Amigas Espanholas, era a D. Gertrudes, mulher do General Franco, e nunca mais esquecerei esse dia, pois a Senhora, pois deu-me 5 mil pesetas, isto numa sexta feira, sabem para que foi, fomos (eu e muitos Amigos) jantar no Hotel Valenciano…/… O grande Amigo Mário Máximino, os citados, todos já “partiram”, mas o maior prazer que tenho, quando desço até Valença, é encontrar os Amigos (que ainda cá estamos), e esses que mais encontro é o João Teixeira (Casa Teixeira) e o Joselito, filho do Mário Máximino, aqui o tratamento do “tu” ao Querido Amigo Mário, foi ele que me proibiu de o tratar por Senhor, mas sim só o podia tratar por tu, ainda me lembro do seu Skoda novo, comprado, chegar à sua Loja na Rua Cons. Lopes da Silva, 31, estacionou, e o motor do Skoda, dar um estouro, pudera, tinha feito mais de 50 quilómetros, e no Stand esqueceram de meter o óleo no motor, deram um novo… (que o Bom DEUS me conserve a memória)…
Finalizando, ainda me lembro da Máquina Registadora da Casa Toga…
M. Guilherme