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Melgaço

Preços a disparar e carteiras vazias – Há 100 anos aconteceu… o mesmo (saiba como foi em Melgaço)

4 Outubro, 2022 - 00:05

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Há 100 anos, também houve inflação no pós-pandemia.

Corria o mês de Outubro de 1920. Portugal tentava sair a pouco e pouco da pandemia da gripe pneumónica que tinha devastado o país de norte a sul. Melgaço, à semelhança dos outros cinco concelhos do Vale do Minho, foi também um concelho muito afetado pelo vírus Influenza. Já para não falar na Guerra.

 

Valter Alves, professor e investigador da história deste concelho, divulgou no seu blog Melgaço, Entre o Minho e a Serra, uma notícia do jornal O Comércio do Porto de 27 de outubro daquele ano que retrata o cenário vivido no Município mais a norte de Portugal.

 

“Em virtude de o dia de hoje se apresentar chuvoso, a feira quinzenal que se realizou não foi concorrida como era de costume ser e a falta de géneros expostos à venda foi grande, vendendo-se os poucos que appareceram por preços altos, preços que só os novos ricos podem aguentar”, noticiou aquele emblemático periódico já extinto.

 

“O milho, que nesta quadra costumava vender-se por preço regular, tem-se vendido a 10$000 e 12$000 réis cada 80 litros, quando nos concelhos de Monsão, Valença e outros do districto se vendem os mesmos 80 litros a 6$000 réis. Feijão, batata e centeio, também atingiram já um preço que faz tremer os menos abastados, os que necessitam comprar e cujos rendimentos não chegam para fazer face a tão grossas despezas. E nos estabelecimentos como tudo sobe de dias para dia! É um horror!”, noticiou o Comércio do Porto.

 

 

“O Bacalhau, que se vendia antes a 1$600, passou logo a 2$000”

A crise alastrava-se aos transportes. Os comboios entraram em greve e, contava ainda o Comércio do Porto, o panorama foi de mal a pior.

 

“Desde que foi declarada a greve ferroviária, os géneros têm subido desmedidamente: o bacalhau, que se vendia antes a 1$600, passou logo a 2$000 e a 2$300 cada kilograma; o azeite, que se vendia a 8$000 o litro, passou a vender-se a 8$700! E os restantes géneros sobem de preço na mesma proporção”.

 

 

Vender para fora

Pelo meio das notícias, nas entrelinhas, as críticas a quem produzia em Melgaço mas não queria vender por cá.

 

“Independentemente d’esta carestia, temos ainda a flagellar-nos os açambarcamentos dos géneros produzidos aqui, que os exportam para fora do concelho, a caminho da fronteira, passando-os para a Galliza, com a mira dos lucros que o preço do câmbio lhes dá”, lê-se.

 

Apontava-se o dedo à passividade de quem tinha a obrigação de zelar pela ordem e pelo bem do concelho.

 

“Se tivéssemos uma autoridade activa e cumpridora dos seus deveres, não sentiríamos a falta de muitos géneros nem seriamos tão explorados, com relação ao preço. Em todos os concelhos, as autoridades promovem que não haja falta de género, não deixando sahir o que faz falta: aqui, dá-se exatamente o contrário, tudo sai do concelho sem a mais leve oposição”, relata ainda o jornal.

 

 

Foi a pior de sempre

Portugal viveu nesta altura a mais devastadora crise económica de sempre. O PIB registou uma quebra de 12% entre 1913 e 1918, em virtude de maus anos agrícolas, dos impactos da Primeira Guerra Mundial (onde entrámos efetivamente só no começo de 1917) e da pandemia da pneumónica, (cuja primeira vaga se iniciou em maio de 1918).

 

Esta crise só terminaria em 1922, quando o PIB superou pela primeira vez o registado em 1912.

 

 

[Fotografia: DR / Via Blog Entre o Minho e a Serra]

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