Corria o dia 10 de maio de 1917. Ponte da Barca era uma vila eminentemente rural, como tantas outras. Apresentava pouco mais de 13 mil habitantes.
Para os lados do Barral, conta-se que na freguesia de S. João Batista de Vila Chã, o pequeno Severino, com 10 anos de idade, subia o monte com as ovelhas tal como já o vinha fazendo todos os dias cumprindo a vontade dos seus pais.
Eram oito horas da manhã e o pequeno caminhava a rezar o terço.
Subitamente, diz a história, encontrou uma Senhora sentada, com as mãos postas, tendo o dedo maior da mão direita destacado, em determinada direção. Em poucos segundos, a visão desapareceu.
Severino contou o que tinha visto ao pároco da localidade. Pouco convencido, o sacerdote recomendou-o a voltar ao mesmo lugar no dia seguinte pedindo à visão que o informasse quem era. O pequeno pastor assim fez.
No dia 11 de maio, à mesma hora, voltou a encontrar no mesmo local a Senhora.
“Quem falou ontem fale hoje”, disse a criança.
“Não te assustes. Sou Eu menino”, respondeu a Aparição. “Diz aos pastores do monte que rezem sempre o terço, e que os homens e mulheres cantem a Estrela do Céu. E as Mães que têm filhos lá fora, que rezem o terço, cantem a Estrela do Céu e se apeguem comigo, que hei-de acudir ao Mundo e aplacar a guerra”.
“Sim, Senhora”, respondeu o pequeno pastor.
“Que gomos tão lindos, que cachos tão bonitos!”, disse ainda a Senhora.
Mal o pastorinho tinha olhado para a ramada, voltando a cabeça, já a Visão tinha desaparecido.
O privilegiado vidente foi imediatamente avisar do acontecido às mães dos filhos da localidade que estavam no exército. A comoção do pequeno teria sido tamanha que depois destes factos, nunca mais quis voltar sozinho ao sítio da Aparição.
Às perguntas feitas, o rapazinho respondia sempre da mesma forma. “Se quiserem acreditar, que acreditem, se não quiserem que não acreditem. Eu fiz a minha obrigação, avisando como me mandaram”.
Santuário de Nossa Senhora da Paz, no Barral, em Ponte da Barca
[Fotos: DR]
Surgem notícias muito antes das primeiras sobre as aparições de Fátima
Previsivelmente, a história começou a circular entre o povo. A 9 de junho de 1917, o jornal portuense A Ordem foi o primeiro a noticiar os factos ocorridos nesta localidade. Pouco mais de uma semana depois, o jornal bracarense Echos do Minho também se debruça sobre esta matéria.
Primeira página do jornal A Ordem, em azulejo, a dar conta da aparição
[Foto: Fernando André Silva / Semanário V]
E tudo isto muito antes de serem publicadas as primeiras notícias sobre as aparições de Fátima.
Após uma elevada afluência de peregrinos, apenas 50 anos depois da Aparição foi autorizada a colocação de uma imagem num nicho – no local das duas aparições. É ainda por esta altura, década de 1960, que é realizada um comunicado sobre as “Aparições do Barral”, o qual é levado ao Congresso Mariano Internacional, por ocasião do Cinquentenário das Aparições de Fátima.
Com os episódios ocorridos em Fátima, a história do Barral perdeu mediatismo. A imprensa desligou completamente da história e focou-se nas três crianças que diziam ter visto a Virgem na Cova da Iria.
Passados 104 anos, o Barral tem hoje um santuário dedicado à Senhora da Paz, com uma capela das aparições, um museu com biblioteca, uma cripta, onde se encontra o local de aparição indicado pelo pequeno Severino, com uma pedra de quartzo de três toneladas, uma das maiores deste género expostas em estado bruto.
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