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Monção/Melgaço: Prospeção de lítio espalha o medo nas populações

17 Abril, 2019 - 08:21

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O mineral já vinha sendo tema de conversa em cada esquina. Falava-se nas redes sociais. Mas com os avisos deixados esta terça-feira por dois deputados do Alto Minho na Assembleia […]

O mineral já vinha sendo tema de conversa em cada esquina. Falava-se nas redes sociais. Mas com os avisos deixados esta terça-feira por dois deputados do Alto Minho na Assembleia da República, os receios das gentes de Monção e Melgaço ganharam contornos ainda mais carregados. A prospeção de lítio não está a ser vista com bons olhos nas terras do vinho Alvarinho.

Exemplo disso é a freguesia de Penso, em Melgaço, que ao princípio da noite desta terça-feira lançou um alerta nas redes sociais à comunidade. A autarquia local recorda o aviso publicado em Diário da República, no passado dia 20 de março, que anuncia que uma empresa australiana requereu a atribuição de direitos de prospeção e pesquisa de depósitos minerais, entre os quais lítio, para a área de Fojo, localizada nos concelhos de Arcos de Valdevez, Melgaço e Monção. “A superfície total do pedido cobre mais de 74km2, sendo que território da Freguesia de Penso consta nas áreas a pesquisar”, aponta a autarquia de Penso. A avançar será extremamente nefasta não só para a freguesia, como também para todo o território incidente, pelo que o executivo da Junta de Freguesia de Penso realizará uma exposição formal à Direção Geral de Energia e Geologia”, considera. “Em defesa do nosso território apelamos a toda a população que tenha possibilidade que enviem a sua pronuncia para o seguinte email: [email protected] . Caso pretendam, a Junta de Freguesia poderá disponibilizar, após solicitação para o email [email protected], a reclamação utilizada por este executivo”, apela.

 

“Com o coração nas mãos”

 

O medo nas populações é também alimentado pelas notícias que chegam de outras localidades. Conforme noticiou a Rádio Renascença, as populações de Romainho, Muro e Covas, da freguesia de Covas de Barroso, no concelho de Boticas, andam “com o coração nas mãos”. O chão que pisam todos os dias esconde um tesouro valioso chamado lítio, que “vai criar riqueza para fora, mas pode ser a ruína das aldeias”.

A maior reserva de lítio da Europa foi descoberta no Vale de Cabrão, a 500 metros das povoações, e é ali que pode nascer a maior mina a céu aberto do continente europeu. De acordo com aquela emissora, a área abrangida pela exploração é superior a 542 hectares, o equivalente a 542 campos de futebol. A mina vai laborar 24 horas por dia, todos os dias do ano, e vai interferir com a vida das 150 pessoas que vivem na freguesia.

As populações, que contam com o apoio do presidente da Câmara de Boticas, temem que, com a exploração da mina, se verifique “uma destruição da paisagem e do património arquitetónico, devido às explosões, do habitat de espécies ameaçadas, como o lobo ibérico ou o mexilhão-de-rio, a criação de uma cratera de centenas de metros de profundidade na rocha, que nunca poderá ser recuperada”.

Alguns populares que residem junto ao vale, considerado Património Agrícola Mundial pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), garantiram à Renascença que, se a mina for por diante, vão deixar a aldeia onde moram.

Em declarações àquela rádio, o porta-voz da empresa britânica que vai construir o projeto explica que a mina do Barroso “é de extrema importância para o país e para o mundo. Vai ajudar a mitigar os impactos negativos emergentes das alterações climáticas a nível mundial, criar riqueza para Portugal e promover o emprego na região”. E assegurou já que o projeto não será um perigo para a saúde das as populações.

 

Deputados na AR avisam que “não pode valer tudo”

 

O Governo parece determinado nesta matéria. Conforme avançou o Público no mês passado, o secretário de Estado da Energia, João Galamba, sem se comprometer com prazos ou datas, assume ter um objectivo: conseguir lançar antes das eleições, de Outubro, que vão ditar a formação de um novo Governo um concurso público internacional para escolher quem vai fazer prospecção, pesquisa e exploração de lítio em Portugal. “Não vamos fazer um concurso para entregar a exploração do lítio a empresas que se limitam a tirar umas pedras do solo e a exportá-las. Queremos garantir que conseguimos fazer isso com escala, de modo a justificar a construção de uma unidade fabril em Portugal”, explicou o governante àquele jornal.

Após tomarem conhecimento sobre a área traçada para prospeção de lítio no Alto Minho, José Manuel Carpinteira e Liliana Silva, deputados na Assembleia da República pelo PS e PSD, respetivamente, deixaram esta terça-feira avisos ao Ministro do Ambiente. 

José Manuel Carpinteira apontou “a preocupação da população na eventual exploração mineira que pode por em risco o potencial natural da região”. Já Liliana Silva chamou a atenção que “esta área, no coração do Alto Minho, tem a belíssima aldeia de Sistelo, eleita como uma das sete maravilhas de Portugal que pode ver a sua paisagem seriamente prejudicada pelo impacto do processo de extração dos minerais”. “A questão da importância do lítio não se põe em causa, mas não pode valer tudo, nomeadamente acabar com a força económica local derivada do potencial natural”, considera.

Na resposta, o Ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, garantiu que “só foram apenas limitadas áreas. Só só haverá exploração depois de um estudo de impacto ambiental”. O deputado socialista deixou a certeza de que o PS Alto Minho continuará atento. No entanto, para a parlamentar social-democrata, a resposta não foi satisfatória. “O problema está precisamente na área que o Governo delimitou. O Alto Minho e o nosso património merece mais respeito”, reagiu a deputada já em nota de imprensa.

 

[Fotografia: Jornal de Negócios / Direitos Reservados]

 

Área referenciada para prospeção de lítio no Vale do Minho cobre cerca de 74 Km2 [Imagem: Direitos Reservados]

 

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