Chama-se José do Nascimento Pinheiro Gonçalves. É natural de Monção. Tem 17 anos e frequenta o 12º ano de escolaridade. No passado dia 13 de novembro, este jovem deslocou-se até às proximidades do rio Minho.
Foi então que algo lhe chamou a atenção. Era um animal. José não hesitou a tirar fotografias… mas de longe, para não assustar aquilo que julgou ser uma fêmea de corço ou um veado-vermelho.
Para desfazer as dúvidas, enviou um e-mail à Wilder, revista online independente dedicada ao jornalismo de natureza.
“Anexo fotografias, com a qualidade possível, na qual duvido sobre a espécie encontrada nas margens do rio Minho em Monção, em 12-11-2021, entre fêmeas de corça ou veado-vermelho”, escreveu.
As imagens, embora com escassa qualidade, surpreenderam o investigador Francisco Alves, investigador do CIBIO-InBIO especializado em mamíferos carnívoros. Na resposta, o jovem ficou a saber que são corços e que a sua presença no local é conhecida mas ainda é rara.
“Apesar da reduzida qualidade da fotografia, trata-se sem dúvida de corços (Capreolus capreolus), possivelmente uma fêmea com cria já desenvolvida. O caracter mais diagnosticante é o focinho negro e proporção da cabeça e orelhas”, disse o investigador.
“Registos concretos e confirmados por fotografias, como este obtido por um cidadão, são de extrema importância”, classificou, de acordo com a Wilder.
De acordo com este investigador, “a presença de corço ao longo do vale do rio Minho é conhecida mas ainda é rara, pois a recolonização natural das regiões a menor altitude e próximas do litoral tem vindo a acontecer apenas nas últimas décadas”.
Paixão pela vida animal
Contactado pela Rádio Vale do Minho, o jovem estudante confessou que não contava com a resposta tão positiva dada pelo investigador. Apaixonado pela vida animal desde criança, José fez questão de realçar que “a foto não foi casual” e que gosta muito de fotografar animais ao redor da casa onde vive.
Com o final do ensino secundário no horizonte, José sonha em seguir o curso de Medicina Veterinária. Caso não seja possível, “que seja outro qualquer relacionado com animais ou natureza”.
O corço em Portugal
Actualmente, “o conhecimento da distribuição nacional do corço, assim como de outros cervídeos como o veado, é bastante grosseiro (i.e. à escala de quadrículas de 10x10km), com poucos registos georeferenciados que permitam avaliar com detalhe as zonas e habitats mais utilizados”, explicou por sua vez Francisco Álvares à Wilder.
Por isso, “registos concretos e confirmados por fotografias, como este obtido por um cidadão, são de extrema importância para conhecer a distribuição detalhada deste cervídeo e permitir monitorizar a sua expansão populacional”, salientou este biólogo.
Sabe-se que o corço é uma espécie nativa de Portugal, “com populações naturais que persistiram em pequenos núcleos a norte do rio Douro (serras da Peneda-Gerês, Alvão-Marão e Nogueira)”.
“Desde a segunda metade do séc. XX, tem vindo a ocorrer uma expansão generalizada desta espécie, tanto em área de distribuição como em abundância, levando ao estabelecimento de novos núcleos populacionais, incluindo as regiões costeiras a norte de Viana do Castelo e as serras Beirãs, a sul do rio Douro.”
Hoje, o corço ocorre de forma contínua em toda a metade norte de Portugal (excepto a região costeira a sul do Porto), com algumas populações introduzidas a sul do rio Tejo, que estão confinadas.
“Desta forma, a distribuição atual do corço resulta não só da sua expansão natural, mas também de vários programas de reintrodução realizados, quer com fins cinegéticos, quer para aumentar a disponibilidade de presas silvestres para o lobo nas zonas de presença deste predador.”
Qual é o espanto de ver um corso na nossa zona? Já vi dezenas, fazem parte da fauna por isso é natural….