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Monção

Monção: Dez mil pessoas estiveram junto ao Hotel Central para ver jovem príncipe

19 Julho, 2024 - 18:11

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D. Luís Filipe foi sempre acompanhado em Monção por multidão impressionante.

Foram muitos os monçanenses que esta quinta-feira manifestaram grande alegria após a notícia de que o Hotel Central tinha sido vendido.

 

Vai em breve, muito provavelmente, ganhar uma nova vida.

 

Nas últimas três décadas, o edifício tem estado ao abandono. Uma ruína que vinha preocupando a população e que manchava a sala de visitas da vila: a Praça Deu-la-Deu.

 

Mas nem sempre foi assim.

 

A construção do edifício remonta ao ano aproximado de 1850. No virar do século era já um dos mais luxuosos hotéis do Alto Minho: o Hotel Central.

 

 

O Hotel Central [à esquerda], no início do século, era símbolo de classe e luxo na Praça Deu-la-Deu

[Fotografia: DR/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

Dois dias memoráveis em Monção com visita Real

Terão passado muitas individualidades famosas pelo afamado Hotel Central. No entanto, a mais famosa visita de todas ocorreu nos dias 9 e 10 de outubro de 1901 com o Príncipe Luís Filipe, filho do Rei D. Carlos.

 

O herdeiro ao trono português era apenas um adolescente. Tinha apenas 14 anos de idade. Mas a vila rejubilou com o anúncio da sua visita.

 

Conta a imprensa da altura, citada pelo já extinto jornal Notícias de Monção, que a comitiva real chegou a esta vila do Alto Minho ao final da tarde do dia 9 de outubro de 1901.

 

“A espera estava marcada nos limites do concelho, em S. Mamede, mas quando as nossas autoridades para lá se dirigiam, já encontraram o séquito real no lugar do Engenho, da freguesia de Lapela”, lê-se.

 

A noite caía e Monção mostrou-se engalanada para receber o jovem. Vários arcos luminosos em diversos pontos do concelho encantavam o povo.

 

“Eram seis e meia da tarde quando o Príncipe Real chegou às portas do Sol. (…) O seu trem veio escoltado de Valença a Monção por um grupo de ciclistas (…). A entrada na vila, já noite cerrada, foi feita pela Rua Conselheiro João da Cunha, onde se encontrava um arco iluminado”, descreve o periódico.

 

 

Príncipe D. Luís Filipe

[Fotografia: DR]

 

 

 

Príncipe rodeado de luxo no Hotel Central (até quebrou o protocolo)

A comitiva seguiu para a Praça Deu-la-Deu e, finalmente, chegou ao Hotel Central onde o jovem iria pernoitar.

 

À chegada foi cumprimentado pelo Presidente da Câmara, Manuel Joaquim Rodrigues Ramos e por todos os vereadores.

 

Num dos andares superiores, já estavam preparados os aposentos para receber D. Luís Filipe.

 

Um quarto “onde a ornamentação e seu mobiliário era o melhor que se podia exigir em luxo e conforto”.

 

Não houve banquete real. O jantar foi “íntimo” e o príncipe rodeou-se apenas de um grupo muito restrito de convidados.

 

 

O que comeram? Eis a ementa segundo a imprensa da altura:

 

  • Canja de galinha
  • Almôndegas de carne
  • Pasteis diversos (linguado, solha e pescada)
  • Perdizes trufadas
  • Vitela com ervilhas
  • Lombo de Vaca
  • Legumes diversos
  • Perú

 

Sobremesas

  • Frutas secas e da estação
  • Pudins diversos
  • Queijos londrino, flamengo, papel, e chester
  • Compotas

 

Vinhos

  • Verdes: tinto e branco, da região
  • Maduros: Porto e Madeira
  • Champanhes, café e licores

 

Antes da refeição, o Príncipe acabou mesmo por quebrar o protocolo e aceitou que se sentasse também à mesa o proprietário do Hotel Central, Monteiro de Souza.

 

 

Ementa foi reproduzida na imprensa da época

[Fotografia: DR/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

 

 

Mais de 10 mil pessoas na Praça

Enquanto D. Luís Filipe jantava no Hotel Central, a multidão na Praça Deu-la-Deu começou a tomar proporções incríveis.

 

“Entretanto, cá fora, mais de dez mil pessoas davam incessantes vivas e ouvia-se as filarmónicas da Vila e de Ceivães”, conta a imprensa da época.

 

Perante um cenário e uma receção destas, o jovem não resistiu.

 

Saiu do hotel para um curto passeio noturno pelas ruas da vila “que se encontravam ricamente engalanadas e iluminadas”.

 

“Foi um delírio a passagem do Príncipe Real por entre o povo comprimido”, lê-se.

 

 

Hotel Central somava prestígio

[Fotografia: DR/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

 

Visita às Termas

No dia seguinte, o programa de D. Luís Filipe começou bem cedo.

 

Após o pequeno-almoço, passeou novamente pelas ruas da vila. Sempre rodeado de “muitos milhares de pessoas”. Passou pela Igreja Matriz e orou na Capela da Misericórdia.

 

Visitou as Termas de Monção e foi lá captada uma das mais icónicas fotografias desta visita Real.

 

 

 

[Fotografia: DR/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

 

A comitiva regressou depois ao Hotel Central para preparar a partida do jovem príncipe.

 

O momento, segundo foi noticiado, “foi deslumbrante”.

 

“Houve palmas, vivas e flores” para D. Luís Filipe que partiu em direção a Arcos de Valdevez.

 

 

Monção aplaudiu e lançou flores ao jovem na hora da despedida

[Fotografia: DR]

 

 

 

O príncipe teve um fim de vida trágico. Foi uma das vítimas do regicídio.

 

No dia 1 de fevereiro de 1908 estava com o pai no Terreiro do Paço.

 

Tanto o rei como o príncipe foram mortalmente baleados.

 

A Rainha, D. Amélia, saiu ilesa. Já o irmão mais novo, Infante D. Manuel, subiu ao trono como D. Manuel II.

 

 

 

Rei D. Carlos e o Príncipe D. Luís Filipe baleados no Terreiro do Paço, em Lisboa

[Fotografia: DR]

 

 

 

Hotel passou a Pensão

Em meados do século 20, o Hotel Central passou a chamar-se de Pensão Central. 

 

Apurou a Rádio Vale do Minho que continuou a granjear prestígio pelo serviço que oferecia aos visitantes. 

 

 

Nos anos 80, já como Pensão Central

[Fotografia: DR/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

 

[Fotografia: DR/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

 

Encerrou no início da década de 90. O edifício tornou-se uma ruína.

 

Assim permaneceria durante cerca de 30 anos.

 

 

 

[Fotografia: DR/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

Finalmente chegou esta quinta-feira, de forma oficial, a notícia que o povo tanto aguardava.

 

O antigo Hotel Central foi vendido e poderá em breve começar a escrever mais páginas bonitas na sua história

 

 

 

 

 

Até ao momento, ainda não é conhecido o comprador nem o valor do negócio.

 

 

 

 

[Fotografias capa: DR/Grupo FB Os Amigos de Monção]

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