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Monção

Monção: Cine Teatro João Verde – Toda a história de um ‘palco de sonhos’ que começou… com um incêndio

25 Abril, 2023 - 00:43

1992

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Passam hoje 10 anos após a inauguração da requalificação do edifício.

O dia 25 de abril de 2013 foi de grande alegria para Monção. Depois de mais de uma década abandonado, o Cine Teatro João Verde reaparecia perante o concelho, o distrito e todo o país totalmente renovado.

 

O então Presidente da Câmara, José Emílio Moreira, mostrava-se visivelmente orgulhoso.

 

Uma obra de requalificação que marcaria para sempre os seus 16 anos ao leme do Município e toda a história de Monção.

 

Foi há 10 anos. Volvida mais de uma década, os monçanenses têm hoje um imenso orgulho numa grande sala de espetáculos por onde já passaram os mais variados artistas. Dos mais conhecidos até às maiores promessas do teatro, da música, do cinema, da poesia…

 

Desde esse dia, este Cine Teatro – que tem por nome a figura maior das letras monçanenses – passou também a ser casa de democracia. Tem sido palco preferencial das sessões da Assembleia Municipal.

 

Momentos bons… momentos menos bons… gargalhadas… lágrimas de saudade e de emoção. E também momentos únicos e realmente extraordinários. Em 10 anos, pelo novo Cine Teatro já muito passou.

 

Mas onde é que tudo começou?

 

 

 

Noite fatídica

Pelas ruas de Monção e à conversa com a Rádio Vale do Minho, José Adriano Oliveira Cruz, historiador e investigador da história de Monção transporta-nos quase que no imediato ao final da década de 30 do século passado.

 

Na esquina da rua Francisco José Amaral com a Rua General Pimenta de Castro, mesmo em frente à Praça da República, existia a sede do então chamado Teatro Monçanense.

 

Durante a noite de 14 para 15 de março de 1938, um violento incêndio reduz o edifício a escombros. Monção perde aquela que seria na altura a principal sala de espetáculos da vila.

 

 

 

Cultura renasce das cinzas com festa de luxo

Em pouco mais de 10 anos, Monção voltou a ganhar um outro sofisticado equipamento cultural. A poucos metros de distância do edifício que ardeu.

 

O dia 11 de junho de 1949 foi memorável para o povo. Era hora de inaugurar o novo Cine Teatro João Verde.

 

“Foi uma festa fabulosa. Marcaram presença autoridades portuguesas, espanholas, Presidentes de Câmara, Governadores Civis e autoridades religiosas. Realizou-se um grande baile exclusivamente destinado à alta elite daquele tempo”, contou José Adriano Oliveira Cruz com base nos estudos que fez.

 

“Aconteceu aqui uma autêntica passerelle de carros de altíssimo luxo, de onde saíam senhoras muito bem vestidas”.

 

Em pleno Estado Novo, a Câmara de Monção era presidida por António Vasconcelos Felgueiras, homem em quem o Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar depositava “muita confiança”.

 

 

 

“Aconteceu aqui uma autêntica passerelle de carros de altíssimo luxo”, contou José Adriano Oliveira Cruz

[Fotografia: Rádio Vale do Minho]

 

 

 

O primeiro filme

Num ápice, chegou a década de 50. O teatro perdia cada vez mais terreno para o cinema… e o Cine Teatro João Verde foi elaborado a pensar nos novos tempos.

 

Não tardou até chegar o primeiro filme: A Canção de Sherazade, de Walter Reisch, 1947.

 

 

Primeiro filme exibido no Cine Teatro João Verde

 

 

 

“O cinema era três vezes por semana: à terça, à quinta-feira e ao domingo. Os bilhetes mais baratos custavam 3 escudos e 50 centavos”, descreveu o historiador com uma precisão incrível.

 

 

Até a palavra “Monção” aparecia escrita no telhado do edifício

[Fotografia: Albertina Santos / Grupo FB – Amigos de Monção]

 

 

 

Cinema, teatro e “bailes fantásticos”

As décadas de 50, de 60 e até mesmo de 70 foram de ouro para o Cine Teatro João Verde.

 

Em 1952, acontece em Monção um evento de maior dimensão: a Festa de Encerramento dos Cursos Oliva. Sim… estamos a falar da icónica máquina de costura, cuja concorrente principal era a Singer.

 

Nesse ano, a OLIVA implementou por todo o país um plano de divulgação da máquina de costura. Em cada concelho, as alunas inscritas eram desafiadas a elaborar trabalhos naquela máquina. Durante dois meses, as monçanenses produziram cerca de uma centena.

 

Segundo noticiou o jornal A Terra Minhota, entre os trabalhos realizados contavam-se vários vestidos e roupas interiores. Foram todos expostos tendo a mostra sido “muito concorrida”, realça o periódico.

 

 

 

Memorável festa de finalistas da Oliva em Monção, em 1952, no Cine Teatro
[Fotografias: José António Barreto Nunes / Grupo FB – Amigos de Monção]

 

 

 

As festas sucediam-se. Entre bailes, cinemas e festas de aniversário, o Cine Teatro era dos espaços que mais bombava em Monção. Assim entrou na década de 60.

 

“Houve cinema, teatro e bailes fantásticos e um auditório com mais de 700 lugares sentados. O piso superior, totalmente plano, era onde se realizam os bailes. Faziam-se também exposições de numismática, filatelia”, prosseguiu Oliveira Cruz.

 

 

 

Bilhete para espetáculo no Cine Teatro João Verde

[Fotografia: Albertina Santos / Grupo FB – Amigos de Monção]

 

 

Pelo palco passaram famosas Revistas à Portuguesa e Vasco Santana foi uma entre as muitas celebridades que arrebatou aplausos em terras de Deu-la-Deu.

 

Nos entretantos, o rock explodia por todo o mundo. Se lá ao longe eram os Beatles e os Rolling Stones, por cá eram os Plátanos.

 

 

 

Bailes e festas sucediam-se no Cine Teatro, com os Plátanos a conquistar o povo
[Fotografias: José António Barreto Nunes / Grupo FB – Amigos de Monção]

 

 

 

 

Após a Revolução do 25 de Abril, o êxito do Cine Teatro parecia intocável. As grandes performances musicais continuavam a acontecer naquela sala de espetáculos, que passou também a acolher eventos políticos.

 

 

 

Eventos políticos e musicais sucediam-se na maior sala de espetáculos de Monção
[Fotografias: Fernando Guedes / Grupo FB – Amigos de Monção]

 

 

 

A queda de um símbolo

Só que o cinema ganhava cada vez mais terreno. Os efeitos especiais galopavam. A tecnologia avançava.

 

O Cine Teatro não se adaptava e os mais recentes êxitos vindos de Hollywood não chegavam a Monção. A maquinaria era antiga.

 

A era do cinema português, essa, já tinha terminado há muito. E o teatro já não atraia as multidões de outrora.

 

O dia 31 de dezembro de 1986 é, até à data, o dia mais negro da história do Cine Teatro João Verde. Fechou portas.

 

Os anos foram passando. A estrutura do edifício começou a degradar-se. Da noite para o dia, mais uns vidros partidos. E assim continuaria por mais de uma década.

 

 

 

Renascer… para sempre!

Volvidos 12 anos, a Câmara Municipal de Monção consegue adquirir o edifício do Cine Teatro por 350 mil euros.

 

O então Presidente da Câmara Municipal, José Emílio Moreira, ladeado pelo Vereador da Cultura, Augusto Domingues, consideraram urgente dar um novo rumo e uma nova vida ao espaço.

 

 

Em 2010, as obras de recuperação seguiam a todo o vapor

[Fotografia: Google]

 

 

Toda esta operação durou 15 anos… mas os monçanenses admitiram que valeu a pena a espera.

 

No dia 25 de abril de 2013, perante os olhos de todos, surgiu um Cine Teatro João Verde totalmente remodelado e adaptado aos novos tempos.

 

Agora sim… capaz de transmitir qualquer tipo de filme.

 

Capaz de acolher qualquer peça de teatro, com palco e sistema de iluminação a ombrear com os melhores da Europa. E ainda todo um auditório agora com cerca de 400 lugares, mas pleno de conforto.

 

 

Cine Teatro João Verde, na atualidade

[Fotografia: Município Monção]

 

 

Ficou bonito? Muitos gostaram… e gostam. Mas há sempre quem discorde. “Se a traça antiga tivesse sido preservada, teria ficado melhor”, considera Oliveira Cruz. À boleia, apontou o Theatro Circo de Braga, que vai mantendo sempre a traça original.

 

As obras de reabilitação custaram mais de 2,5 milhões de euros.

 

 

 

[Fotografias capa: Fernando Guedes / Rádio Vale do Minho]

Tópicos:

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