Corria o mês de julho de 1922. A pandemia provocada pelo vírus Influenza tinha deixado o país e o mundo de rastos. Melgaço, à semelhança dos outros concelhos do Vale do Minho, sofreu de forma significativa com a pneumónica.
No final, ficavam para trás muitas dezenas de mortos… sobretudo jovens, os mais atingidos pela enfermidade.
A doença tinha passado, mas adivinhavam-se tempos de crise, de muitas adversidades e pouco progresso. No entanto, em Melgaço, isso não aconteceu.
Segundo conta o investigador Valter Alves no seu blog Melgaço, entre o Minho e a Serra, foi em 1919 que começou a ser construída uma das alas do balneário termal por forma a dar-se imediatamente início à actividade, que se manteve quase até ao final da construção.
Eram 10 banheiras em ferro esmaltado e uma sala de duches, tendo duas caldeiras de vapor para aquecer as águas dos banhos, conforme relatório da visita efetuada em 1923 pela Inspecção das Águas Minerais à estância.
A obra só viria a ficar concluída em 1924 mas, dois anos antes, já Melgaço era destino turístico de excelência.
Em julho de 1922, a imprensa da altura apontava os preços elevados praticados nos hotéis da estância. Recomendava-se prudência, “pois desta forma muito concorrerão para o desenvolvimento desta localidade”, lia-se no jornal Notícias de Melgaço, a 10 de Julho de 1922.
O país vivia uma situação económica favorável e isso refletia-se no comércio e restauração. “Não há exemplo, desde que frequento esta estância, de maior movimento, como agora. Os hotéis estão à cunha. Os hoteleiros não têm mãos a medir”, escreveu na altura um leitor ao jornal Melgacense.
Hotel Ranhada era o ‘rei’ da festa
Não tardou até que os hotéis começassem a organizar festas e bailes para os aquistas. O Hotel Ranhada estava na linha da frente.
“Os hóspedes mais entusiasmados são os da Quinta do Peso e Ranhada. Os do Rocha são mais sossegados, mais maduros, a cuja cura de repouso se entregam sob o mais rigoroso preceito, tendo apenas por distração algum canto, música e o indispensável quino”, escreveu o jornal Melgacense em setembro de 1926.
O mesmo periódico registou ainda uma grande festa realizada no Ranhada a 1 de setembro desse ano. “Uma festa elegante. Música no parque, danças populares, jogos de rapazes e à noite no Salão de baile, dança, música, canto e versos recitados a primor”, descreve.
Eletricidade ajudou ainda mais ao êxito
Com a chegada da eletricidade a Melgaço, o êxito das Termas começou a alcançar recordes inimagináveis.
Em 1935 começou a direção clínica “a empregar sistematicamente as curvas glicémicas como meio de investigação dos efeitos das águas na diabetes”. Havia festas de caridade até altas horas da noite.
“Com maior frequência o Parque, o Pavilhão das Águas, os salões dos hoteis se animaram com as galas de iluminações nocturnas, as harmonias de bandas de música e orquestras, a elegância dos bailes e a alegria das quermesses”.
Os candeeiros a gás começaram a desaparecer em 1931. A luz elétrica estendeu-se a toda a vila.
Para esta instalação, a Câmara Municipal pediu autorização à Secretaria Geral das Finanças, para contrair um empréstimo de 150 contos para financiar a operação.
Começa o declínio…
Os anos dourados das Termas de Melgaço chegariam ao fim durante a década de 50. Começavam a aparecer novos processos terapêuticos – como a quimioterapia. Surgiam também novos destinos turísticos, sobretudo as praias. A água termal passou a ser substituída pelo sol e pela água do mar.
Nos últimos anos, não só Melgaço como vários Municípios em todo o país têm vindo a realizar sucessivas tentativas por forma a revitalizar as respetivas estâncias termais. O processo tem-se mostrado moroso e, em alguns casos, pleno de avanços e recuos.
Autarcas de todo o país prosseguem nos ensaios no sentido de descobrir a fórmula ideal para voltar a dar a vida de outrora a estes espaços.
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