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Melgaço: Grande Hotel do Peso – Toda a história do gigante que vai renascer

12 Dezembro, 2020 - 17:43

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Foi um dos maiores símbolos da riqueza de Melgaço durante a primeira metade do século passado. Terminada a pandemia da gripe pneumónica, em 1920, o Grande Hotel do Pezo [com z na ortografia da altura] era uma referência em todo o país e além-fronteiras no luxo que colocava à disposição dos clientes. Classe alta… sobretudo termalistas que chegavam de todo o território.

A construção começou em 1901. Assumiu-se com a designação de Novo Hotel Quinta do Pezo. Conta o professor Valter Alves, no Blog Melgaço, Entre o Minho e a Serra, que um dos primeiros hóspedes foi o conselheiro Manuel Francisco Vargas, ministro das Obras Públicas, que era acompanhado de sua esposa.

 

Hotel do Pezo já era recomendado em 1902 na imprensa

Fonte: Diário Ilustrado 27 agosto 1902

 

Mais tarde foi comprado por José Figueiroa Granja, de Vigo, que o adquiriu em 19 de Fevereiro de 1912 a José Joaquim Esteves. Para a sua exploração constituiu-se a sociedade Figueiroa & Ribas na qual participava um outro galego chamado Don Francisco Ribas.

Entretanto chegou a Grande Guerra, e Melgaço sofreu muito com este flagelo mundial. Veio depois a pandemia da gripe pneumónica, e o Município mais a norte voltou a ser atingido em força.

 

 

Os loucos anos 20

 

 

A pandemia da gripe estava já perto do final quando, em 1919, começou a ser construída uma das alas do balneário termal.

Eram 10 banheiras em ferro esmaltado e uma sala de duches, tendo duas caldeiras de vapor para aquecer as águas dos banhos, conforme relatório da visita efetuada em 1923 pela Inspecção das Águas Minerais à estância.

A obra só viria a ficar concluída em 1924 mas, dois anos antes, já Melgaço era destino turístico de excelência. Em julho de 1922 [quatro anos após a chegada da pandemia], a imprensa da altura apontava os preços elevados praticados nos hotéis da estância. Recomendava-se prudência, “pois desta forma muito concorrerão para o desenvolvimento desta localidade”, lia-se no jornal Notícias de Melgaço, a 10 de Julho de 1922.

O país vivia uma situação económica favorável e isso refletia-se no comércio e restauração. “Não há exemplo, desde que frequento esta estância, de maior movimento, como agora. Os hotéis estão à cunha. Os hoteleiros não têm mãos a medir”, escreveu na altura um leitor ao jornal Melgacense.

 

 

Peso e Ranhada – Eternos rivais

 

 

O braço de ferro era constante. Os dois maiores hotéis de Melgaço – Hotel do Peso e Hotel Ranhada – envolveram-se numa batalha sem tréguas. Todos os dias, a ver que tinha maior número de clientes.

Começaram a surgir ideias inovadoras. Conta ainda Valter Alves que não tardou até que os hotéis começassem a organizar festas e bailes para os aquistas. “Os hóspedes mais entusiasmados são os da Quinta do Peso e Ranhada. Os do Rocha são mais sossegados, mais maduros, a cuja cura de repouso se entregam sob o mais rigoroso preceito, tendo apenas por distração algum canto, música e o indispensável quino”, escreveu o jornal Melgacense em setembro de 1926.

 

Hotel do Peso, na primeira metade do século passado

Fonte: Blog, Melgaço entre o Minho e a Serra

 

O mesmo periódico registou ainda uma grande festa realizada no Ranhada a 1 de setembro desse ano. “Uma festa elegante. Música no parque, danças populares, jogos de rapazes e à noite no Salão de baile, dança, música, canto e versos recitados a primor”, descreve.

 

 

Hotel do Peso investe em publicidade

 

 

A reputação no Hotel do Peso crescia a olhos vistos. A direção da altura achou por bem ir mais longe e investir em publicidade. Era necessário mais, até porque a concorrência [a poucos metros de distância] estava sempre de olho.

Foram produzidos anúncios. Cartões que eram passados aos clientes. Que começavam a circular pelo país todo com mensagens [algumas delas bastante longas para os dias que correm] onde era descrita a elevadíssima qualidade da unidade.

“V. Ex.a vai para as Águas de Melgaço? Deve instalar-se no Grande Hotel do Peso que é o mais recomendável desta estância: Tendo este hotel sofrido importantes reformas apresenta entre os grandes melhoramentos, água corrente em todos os quartos e magníficos apartements com quarto de banho e WC privativas. É o que oferece as melhores condições de higiene. Suntuoso parque, primoroso serviço de mesa; dieta sem aumento de preços nas diárias. O mais próximo do balneário e das nascentes, ficando até uma delas dentro da Quinta do Peso. A sociedade mais selecta que costuma frequentar estas águas, dá preferência a este hotel, por ser o que reúne as melhores condições para o bem estar dos hóspedes”, lê-se num dos anúncios publicados.

 

 

Hotel do Peso investe na publicidade para alcançar ainda mais êxitos
Fonte: Blog, Melgaço entre o Minho e a Serra

 

 

Chegada da eletricidade catapultou o Peso

 

 

Com a chegada da eletricidade a Melgaço, o êxito das Termas começou a alcançar recordes inimagináveis. Em 1935 começou a direção clínica “a empregar sistematicamente as curvas glicémicas como meio de investigação dos efeitos das águas na diabetes”. E havia festas de caridade até altas horas da noite. Com maior frequência o Parque, o Pavilhão das Águas, os salões dos hoteis se animaram com as galas de iluminações nocturnas, as harmonias de bandas de música e orquestras, a elegância dos bailes e a alegria das quermesses”.

Os candeeiros a gás começaram a desaparecer em 1931. A luz elétrica estendeu-se a toda a vila. Para esta instalação, a Câmara Municipal pediu autorização à Secretaria Geral das Finanças, para contrair um empréstimo de 150 contos para financiar a operação.

 

 

Chegada da eletricidade trouxe ainda mais prestígio ao Hotel do Peso

Fonte: Blog, Melgaço entre o Minho e a Serra

 

No Verão de 1932, o parque do Hotel do Peso vivia já noites animadas à luz elétrica. Conta o jornal Notícias de Melgaço de 29 de agosto desse ano, citado pelo investigador que, houve uma grande festa de caridade “por iniciativa das Ex.mas Sras. D. Judit Alheas, D. Maria José Nascimento e D. Sara Brou da Rocha Brito que foi abrilhantada com Iluminação, Bailes, Quermesses, Barracas de chá e petiscos nacionais servido por gentis senhoras com trajes a carácter. As Barracas muito originais e de um fino gosto artístico foram obra do Ex.mo Sr. Lino do Nascimento tendo como auxiliar o incansável Ex.mo Sr. Rocha Brito”.

 

 

Preços exorbitantes… e o princípio do fim

 

 

No final da década de 30 do século passado, a sede de riqueza parecia já não conhecer limites em Melgaço. A imprensa da altura, nomeadamente o Notícias de Melgaço, dava conta dos “protestos dos hóspedes que juram não voltar cá mais devido ao elevadíssimo preço porque lhe fazem pagar a inscrição de banho”.

“Não há razão alguma de uma inscrição custar 110$00 quando em outras termas, em que nada falta ao hóspede, custa menos de metade desta importância. Não há razão alguma de um enchimento custar um escudo quando é certo que a maior parte da água mineral corre para o regato”, contava o correspondente daquele jornal.

Os anos dourados das Termas de Melgaço chegariam ao fim durante a década de 50. Começavam a aparecer novos processos terapêuticos – como a quimioterapia. Surgiam também novos destinos turísticos, sobretudo as praias. A água termal passou a ser substituída pelo sol e pela água do mar.

 

Hotel do Peso, na atualidade – Resta apenas a ruína de tempos dourados

Fonte: DR

 

O Hotel do Peso, que tinha sido até então símbolo de luxo e de poder, acabou por fechar portas. Nunca mais abriu. O edifício ali ficou ao longo dos anos exposto à degradação. Resta apenas uma ruína que lembra dias em que Melgaço foi mesmo muito feliz.

 

 

Regresso do gigante

 

 

Cerca de 70 anos depois, é oficial. O Hotel do Peso vai mesmo renascer. A reabertura está marcada para 2022 – precisamente um século após os grandes tempos de glória.

A garantia foi deixada esta sexta-feira pelo presidente da Câmara de Melgaço, Manoel Batista. Conforme a Rádio Vale do Minho já tinha avançado, será uma unidade de luxo [apontam-se quatro estrelas] com 74 quartos.

O investimento vai rondar os 7,2 milhões de euros. Estará a cargo da  sociedade OCRAM Hotel Management, de capitais luso-franceses.

Foi aprovado pelo Turismo de Portugal, e é financiado pelo Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (COMPETE).

Para além da recuperação das ruínas do antigo hotel, explicou o presidente da Câmara, o projeto prevê ainda uma ampliação nos terrenos atrás do imóvel. A traça será respeitada.

 

 

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