Na freguesia fronteiriça de Paços, em Melgaço, não há quem não conheça Juvenal Esteves.
Com 71 anos de idade, é o autor de uma escultura colocada à margem da Estrada Municipal que atravessa aquela freguesia.
Trata-se de um homem em madeira, sentado numa cadeira à mesa. Ambas em pedra.
Nas mãos segura um monóculo, apontado ao país vizinho.
[Fotografia: Bruno Ribeiro]
[Fotografia: Bruno Ribeiro]
“Primeiro fiz a cadeira e a mesa. Mas depois pensei: «Vou pôr uma pessoa aqui a olhar para os espanhóis»”, contou o autor à Rádio Vale do Minho com uma gargalhada.
Assim fez. Em dois meses concluiu a obra que, com um metro e meio de altura, está a merecer rasgados elogios. Não só de quem passa, mas quem vê fotos na internet.
[Fotografia: Bruno Ribeiro]
[Fotografia: Bruno Ribeiro]
Gosto pelos trabalhos manuais
A paixão de Juvenal pela escultura despertou cedo. Durante a juventude, contou, tinha habilidade para construir as mais diversas figuras em vários materiais. Sobretudo madeira.
O tempo passou. Cresceu. Emigrou e foi para França onde trabalhou na construção civil durante duas décadas. Regressou e alcançou a reforma.
Em 2010 decide alimentar aquela atração que sempre teve. Começou por fazer um leão, em pedra.
Decidiu ir mais longe. Esculpiu a estátua de Luís Figo.
“Chegou a estar exposta no centro da vila, junto à estátua de Inês Negra. Infelizmente foi vandalizada”, lamentou.
[Fotografia: cedida à Rádio Vale do Minho]
Para além deste azar, um outro obstáculo atravessou-se no caminho de Juvenal.
“Eu gostava de trabalhar a pedra, mas tive um problema de falta de oxigénio. E esses trabalhos faziam muito pó”, explicou.
Tinha de mudar imediatamente de direção. E mudou.
Adeus pedra… olá cimento
Impedido de trabalhar a pedra, Juvenal não desistiu. Mudou de material e passou para o cimento.
“Há uns cinco anos falou-se muito de dinossauros e de pegadas que encontravam por aí”, lembrou o escultor. Foi o ponto de partida para aquela que é a maior obra de todas: um dinossauro, em cimento, com cerca de três metros de altura.
Está no jardim lá de casa. Todos adoram a obra, “mas a maior fã é uma das minhas netas, que tem sete anos”, contou com ar orgulhoso.
[Fotografia: cedida à Rádio Vale do Minho]
[Fotografia: cedida à Rádio Vale do Minho]
Um canhão “apontado para a Rússia”
Depois do dinossauro, Juvenal continuou a fazer mais esculturas. Desta vez de menor dimensão.
Chega então o mês de fevereiro de 2022. A Rússia invade a Ucrânia e o escultor ganha inspiração para algo maior. Desta vez em madeira: um canhão.
Duas rodas de um carro de bois e um tronco de árvore bastaram para Juvenal soltar uma vez mais todo o talento.
“Ficou apontado para a Rússia”, disse com nova gargalhada.
[Fotografia: cedida à Rádio Vale do Minho]
Esta escultura está também no jardim da casa deste artista.
E a próxima escultura é…
Juvenal não faz intenções de parar tão cedo. Imaginação não falta.
Questionado sobre qual será a próxima escultura, teve resposta pronta para a Rádio Vale do Minho. “Vai ser uma cria para o dinossauro. Também em cimento”, revelou com um sorriso.
“Isto não se aprende na construção. São ideias que surgem. Não é para passar o tempo, é algo que se faz com gosto”, sublinhou Juvenal.
“Para passar o tempo ia à pesca ou sentava-me no sofá”, concluiu.
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