O Município de Melgaço acredita que o antigo Hotel Ranhada, à semelhança do que está a acontecer com o Grande Hotel do Pezo, pode também vir a ser recuperado.
“Há vários anos que existe esse projeto para o antigo Hotel Ranhada. Mas é fundamental que se encontre um investidor”, disse o Presidente da Câmara de Melgaço, Manoel Batista, à Rádio Vale do Minho.
“Os proprietários maioritários estão a procurar e nós, Município, estamos a colaborar também nessa procura. Acredito que a recuperação do Grande Hotel do Pezo venha dar um novo dinamismo àquela zona e, consequentemente, mais investimento”, acrescentou.
Hotel Ranhada no início do século 20
[Fotografia: DR/Via Blog Melgaço Entre o Minho e a Serra]
Dois eternos rivais
O Ranhada, recorde-se, foi o eterno rival do Pezo durante as primeiras décadas do século passado, durante os anos de ouro das Termas do concelho.
Conforme conta Valter Alves, professor e investigador da história de Melgaço no blog Melgaço Entre o Minho e a Serra, o Hotel Ranhada, foi construído ainda em finais do século XIX, por volta de 1890.
“Foi o primeiro hotel de referência a ser edificado no Peso, em Melgaço, depois de ser descoberta a nascente de águas termais. Esteve aberto um pouco menos de um século e fechou numa época em que o turismo termal estava em profunda decadência e os aquistas já não afluíam a Melgaço como noutras décadas do século passado”, refere.
“É lembrado como um hotel de elevada qualidade e chegou a acolher ilustres personalidades da alta sociedade portuguesa”, aponta Valter Alves.
[Fotografia: DR/Via Blog Melgaço Entre o Minho e a Serra]
[Fotografia: DR/Via Blog Melgaço Entre o Minho e a Serra]
Batalhas diárias entre Pezo e Ranhada
O braço de ferro era constante. Os dois maiores hotéis de Melgaço – Hotel do Pezo e Hotel Ranhada – envolveram-se numa batalha sem tréguas.
Todos os dias, a ver que tinha maior número de clientes.
Começaram a surgir ideias inovadoras. Conta ainda Valter Alves que não tardou até que os hotéis começassem a organizar festas e bailes para os aquistas.
“Os hóspedes mais entusiasmados são os da Quinta do Peso e Ranhada. Os do Rocha são mais sossegados, mais maduros, a cuja cura de repouso se entregam sob o mais rigoroso preceito, tendo apenas por distração algum canto, música e o indispensável quino”, escreveu o jornal Melgacense em setembro de 1926.
Hotel do Peso, na primeira metade do século passado
[Fotografia: DR/Via Blog Melgaço Entre o Minho e a Serra]
[Fotografia: DR/Via Blog Melgaço Entre o Minho e a Serra]
O mesmo periódico registou ainda uma grande festa realizada no Ranhada a 1 de setembro desse ano.
“Uma festa elegante. Música no parque, danças populares, jogos de rapazes e à noite no Salão de baile, dança, música, canto e versos recitados a primor”, descreve.
[Fotografia: DR/Via Blog Melgaço Entre o Minho e a Serra]
[Fotografia: DR/Via Blog Melgaço Entre o Minho e a Serra]
Preços exorbitantes… e o princípio do fim
No final da década de 30 do século passado, a sede de riqueza parecia já não conhecer limites em Melgaço.
A imprensa da altura, nomeadamente o Notícias de Melgaço, dava conta dos “protestos dos hóspedes que juram não voltar cá mais devido ao elevadíssimo preço porque lhe fazem pagar a inscrição de banho”.
“Não há razão alguma de uma inscrição custar 110$00 quando em outras termas, em que nada falta ao hóspede, custa menos de metade desta importância. Não há razão alguma de um enchimento custar um escudo quando é certo que a maior parte da água mineral corre para o regato”, contava o correspondente daquele jornal.
Os anos dourados das Termas de Melgaço chegariam ao fim durante a década de 50.
Começavam a aparecer novos processos terapêuticos – como a quimioterapia. Surgiam também novos destinos turísticos, sobretudo as praias.
A água termal passou a ser substituída pelo sol e pela água do mar.
O Hotel Ranhada esforçava-se para não sucumbir à triste realidade que teimava em impor-se. Conseguiu alcançar a década de 70.
[Fotografia: DR/Via Blog Melgaço Entre o Minho e a Serra]
O calvário tornou-se demasiado doloroso e o hotel acabou mesmo por fechar.
O edifício, à semelhança do rival Grande Hotel do Pezo, acabou por tornar-se uma ruína e assim permanece até hoje.
Na fachada, que é o que resta, é possível ainda vislumbrar-se um ou outro sinal de um passado mais glorioso.
[Fotografia: Google Maps]
[Fotografia: Google Maps]
O Grande Hotel do Pezo vai brevemente renascer para uma nova vida.
Conforme noticiou a Rádio Vale do Minho, vai acontecer em junho do próximo ano.
A rede hoteleira galega Oca Hotels vai estrear-se em Melgaço com a abertura do futuro Oca Grande Hotel do Pezo.
Com quatro estrelas, vai ter 60 quartos, um bar, restaurante, spa e um ginásio, além de acesso direto às termas.
“É um grande orgulho ter participado e acompanhado este projeto e ver hoje este hotel quase pronto. Terá enorme qualidade. Serão quatro estrelas, com um detalhe e com um acabamento extraordinários”, disse Manoel Batista.
“Será certamente um ponto de viragem para o turismo em Melgaço. Há vários anos que estamos a fazer um excelente percurso nesta área. Acredito que este novo hotel vai trazer um incrimento no turismo de qualidade para o nosso território”, considera o Presidente da Câmara.
E o Ranhada? Irá pelo mesmo caminho? Voltaremos a ter os dois rivais de volta? “Isso era ótimo”, concluiu Batista.
Peso é o nome exacto da vila e Nao Pezo.
Onde nasci en 1951 n’as termas.
O Peso não é Vila, é uma aldeia pertencente à freguesia de Paderne.
O nome original do Hotel é Grande Hotel do Pezo, conforme certamente pôde ler muitas vezes na sua fachada, se nasceu lá perto … porque era assim que se escrevia quando o Hotel nasceu.