Em Ponteareas, na Galiza, Espanha, nunca se tinha visto nada assim. A empresa Don Disfarz, dedicada ao ramo de produção de disfarces festivos, não tem tido mãos a medir na venda de réplicas de uniformes associados à série Squid Game, distribuída pela Netflix que em semana se tornou um fenómeno global. Por dia, contam, chegam a receber 200 pedidos.
O Halloween está aí à porta e as preferências dos galegos apontam praticamente num sentido.
“Nunca tínhamos tido tanta procura em tão pouco tempo. Os disfarces chegam e esgotam-se em minutos”, disse ao jornal La Voz de Galicia a responsável de marketing da empresa, Lía Nóvoa, que encontrou nesta popular série uma espécie de galinha de ovos de ouro.
“Normalmente os disfarces mais procurados, a cada ano, estão relacionados com séries ou videojogos. Decidimos apostar aqui”, contou. O problema passa agora por corresponder à elevada procura.
Lía Novoa lembra que a empresa é apenas uma distribuidora. “Não somos os fabricantes. Nós apenas colocamos os modelos à venda”, realçou. E são dois: o uniforme negro do apresentador [Former, na tradução inglesa] e o uniforme rosa dos guardas.
“Foram colocados à venda no passado dia 8 de outubro e desde então têm sido um super-êxito. Recebemos até pedidos de Itália e de França, através da internet”, disse a responsável. “Se fosse Carnaval em vez de Halloween, as vendas ainda eram maiores, sem dúvida”, garantiu.
Escolas em alerta
A preocupação está a tomar conta dos professores do 1º Ciclo do Ensino Básico na Galiza, Espanha. Tudo porque nos últimos dias chegam relatos de vários estabelecimentos “onde crianças de oito, nove e 10 anos“, de acordo com o La Voz de Galicia, replicam de forma evidente cenas de Squid Game. A série é recomendada apenas a maiores de 16 anos.
Já há escolas a tomar medidas drásticas por toda a Espanha. Na cidade de A Coruña, conta o La Voz de Galicia, a direção do Colégio Eirís já comunicou aos pais e encarregados de educação que estão proibidos quaisquer disfarces relacionados com a série. Em Madrid, uma outra escola já tomou medidas semelhantes
Em Madrid, conta ainda aquele jornal, já existe uma escola onde a direção proibiu totalmente fantasias relacionadas com aquela série.
Psicólogos preocupados, mas surpreendidos
Em declarações ao La Voz de Galicia, a presidente da Secção de Psicologia Educacional do Colégio Oficial de Psicologia da Galiza, Manuela del Palacio García, admitiu que o cenário é preocupante, mas manifestou alguma surpresa perante o cenário.
“Há anos demos o alerta sobre menores que consomem pornografia sem qualquer filtro ou controlo. Há também menores a consumir jogos que incitam o vício. Agora chegou esta série e de repente todos os alarmes disparam porque são conteúdos violentos!”, exclamou. “Têm maior importância do que a pornografia ou o vício do jogo?”, questionou.
No entanto, outros especialistas alertam que “ter filhos a fazer isso nas escolas não significa que tenham visto a série”. Ou seja, pode ter chegado a eles “através de plataformas como o YouTube, Tik Tok”, entre outras.
“Série perverte jogos das crianças”
Entre um ou outro ponto divergente, os especialistas galegos parecem consensuais num ponto. “A série apropria-se de brincadeiras infantis, roubando-as para o seu roteiro”, considera Sylvie Pérez, psico-pedagoga e docente colaboradora nos Estudos de Psicologia e Educação na Universidade Aberta da Catalunha.
A psicóloga educacional diz mesmo que muitas crianças já deixaram de chamar “Macaquinho do Chinês” ao conhecido jogo infantil para chamar-lhe “Squid Game“.
“O problema é que na ficção morrem mesmo. E isso para uma criança é muito difícil de entender, dado que ainda não tem a capacidade cognitiva desenvolvida”, alerta. “A série perverte jogos que são para crianças. Que objetivo temos para os cidadãos do futuro quando os deixamos assistir a séries como esta?”.
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