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Valença

Faz hoje 138 anos que Valença e Tui começaram a ‘namorar’ por esta ponte (conhece a história?)

25 Março, 2024 - 00:04

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Em janeiro de 1885 foi dada como concluída. Mas teve de esperar mais de um ano para ser inaugurada.

A Ponte Internacional Rodo-Ferroviária entre Valença e Tui chega esta segunda-feira aos 138 anos de existência. 

 

Foi inaugurada no dia 25 de março de 1886. Tornou-se um símbolo não só de Valença, como do Alto Minho e da própria Eurocidade da qual faz hoje parte.

 

 

Como é que tudo começou?

Corria o dia 15 de novembro de 1882. Em Valença e em Tui, nas respetivas margens do rio Minho, arrancava a construção de uma obra arrojada para o seu tempo. Era uma ponte.

 

Não era apenas uma travessia só para peões e veículos. O projeto era tão extraordinário que previa dois tabuleiros, sendo que o superior se destinava à ferrovia. 

 

Foi idealizado pelo arquiteto espanhol Pelayo Mancebo. Os custos da construção foram divididos entre os governos Português e Espanhol.

 

 

 

Montaram carris em baixo para os testes

No dia 10 de outubro de 1884, a obra foi dada como concluída. Faltavam apenas os testes de segurança.

 

Em janeiro de 1885, foi colocado um segmento de carris ferroviários no tabuleiro inferior da ponte. Recorde-se que as provas passavam sobretudo pelo teste de ambos os tabuleiros com grandes pesos. 

 

Na parte superior, foi simples: a ferrovia já lá estava e bastou fazer circular os vagões. Mas as normas exigiam também que o tabuleiro inferior fosse sujeito às mesmas provas. Foi assim construído um curto segmento de carris.

 

De acordo com a obra Historias del Tren, de Rosendo Bugarín, “nos dias 8 e 9 de janeiro de 1885 foram feitas as provas da estrutura.

 

Os trabalhos exigiram a montagem de uma ferrovia improvisada na plataforma inferior com o objetivo de serem atravessadas por pesadas locomotivas a vapor sobre a futura estrada pedonal”.

 

Os testes terão sido bem sucedidos.

 

 

 

Testes de segurança realizados na novíssima e moderna ponte entre Valença e Tui, em janeiro de 1885

[Fotografia: FB Fotografias Antiguas de Tui]

 

 

Epidemia de cólera adia tudo

Tudo parecia pronto para uma inauguração com pompa e circunstância nesse mesmo ano. Mas soaram os alarmes em Espanha. O país vizinho estava a ser seriamente afetado pela cólera.

 

O Ministério do Reino não perde tempo. Nos primeiros meses de 1885, envia de imediato aos Governadores Civis “desinfetantes e repete-lhes os procedimentos a seguir, desde o isolamento militar do local, se confirmada a suspeita de cólera, ao uso de água fervida, à limitação de toda a atividade económica que implicasse comunicação de bens e pessoas entre Portugal e Espanha”, conforme refere a historiadora Laurinda Abreu, em A luta contra as invasões epidémicas em Portugal: políticas e agentes, séculos XVI-XIX.

 

Entra em atividade um enorme cordão sanitário de fronteira. Valença dispara o alerta vermelho. A ponte, que estava prestes a ser inaugurada, teve de esperar.

 

 

 

Finalmente a inauguração

Os primeiros meses de 1886 trouxeram a normalidade ao Vale do Minho e, consequentemente, ao resto do país.

 

As populações regressaram às suas lides no rio Minho. Os lazaretos foram sendo encerrados.  A 25 de março desse ano foi finalmente inaugurada a primeira ponte internacional sobre o rio Minho. Estava pronta desde 10 de outubro de 1884.

 

 

 

Ponte mantém praticamente o traçado original

Na atualidade, a ponte mantém praticamente o traçado original. É composta por uma superstrutura em viga metálica, de treliça de rótula múltipla, com cinco tramos contínuos. 

 

Com 318 metros de comprimento, cruza o rio Minho, tendo dois tabuleiros, um superior para a via férrea, e um inferior para uso rodoviário.

 

É propriedade conjunta das empresas Rede Ferroviária Nacional, Infraestruturas de Portugal e Dirección General de Carreteras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De referir que uma das maiores intervenções feitas nesta ponte foi realizada em finais de 2011.

 

A Rede Ferroviária Nacional adjudicou à empresa Teixeira Duarte uma empreitada para a reabilitação e reforço das fundações, num prazo de 365 dias, e pelo valor de 3,5 milhões de euros.

 

Os objectivos desta intervenção eram garantir que a infraestrutura iria ficar com uma resistência longitudinal necessária para as obras, prevenir que futuros trabalhos de infraescavação colocassem em risco a estabilidade das fundações.

 

Consistiu, assim, na reabilitação de quatro pilares e de alvenarias, substituição de todos os aparelhos de apoio, reabilitação e reforço dos encontros, e instalação de equipamentos de controlo dos movimentos longitudinais.

 

Esta intervenção foi considerada de rotina, sendo uma das obras que são efectuadas periodicamente, com um intervalo de cerca de 50 anos.

 

 

 

O dia do centenário

Em Valença ainda há muitos que não se esquecem daquele dia 25 de março de 1986. O ambiente era de festa. Aquela ponte a que todos estavam já tão habituados fazia 100 anos… um século e tantas histórias para contar.

 

Passar para o lado de lá ainda exigia muitos rigores. A liberdade avançava. Mas devagar.

 

Uma enorme festa entre os dois municípios vizinhos. Entre abraços e cerimónias formais, ninguém quis perder o descerrar das placas de ambos os lados.

 

Um dos momentos altos foi o beijo entre dois comboios também centenários dado no tabuleiro superior da ponte como que simbolizando o sonho de um dia existir ali algo diferente… talvez uma Eurocidade, porque não?

 

Volvidas mais de três décadas, essa união foi conseguida.

 

 

Veja ou reveja como foi aquele dia 25 de março de 1986

 

 

 

Ponte continua a fazer história

Com 138 anos de existência, a velhinha Ponte Centenária que faz parte da vida de todos os valencianos e de todo o Alto Minho segue como nova e continua a fazer história.

 

Foi nesta mesma ponte que, em semtembro de 2022, foi realizada a primeira viagem em Portugal, de condução autónoma e conectada com 5G, em ambiente real.

 

Esta ação marcou a conclusão do projeto europeu 5G-MOBIX, que veio demonstrar o papel do 5G na mobilidade autónoma conectada.

 

Na ponte centenária realizou-se a primeira viagem em Portugal, de condução autónoma e conectada com 5G, em ambiente real
[Fotografia: NOS]

 

 

anúncio foi feito pela NOS que refere que “durante esta demonstração pública, o shuttle autónomo encontrou vários obstáculos, todos ultrapassados graças à conectividade 5G. Num primeiro caso, perante a obstrução do percurso, o veículo passou o controlo para o centro de controlo de tráfego, onde um técnico assumiu a condução, remotamente, usando uns óculos de realidade virtual”.

 

 

 

[Fotografia: Jorge Coimbra Pereira]

 

 

 

Atualmente, atravessam esta ponte cerca de 5.000 veículos por dia.

 

 

[Fotografia capa: Paulo Purificação]

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