Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) assinalam sábado, pela última vez, a data em que passaram a ser uma empresa pública, nacionalizados pelas dificuldades sentidas pela administração, que se repetem após 37 anos de gestão pública.
A fundação dos ENVC remonta a junho de 1944, no âmbito do programa do Governo para a modernização da frota de pesca do largo, e começaram por ser liderados por um grupo de técnicos e operários especializados, oriundos dos Estaleiros Navais do Porto de Lisboa.
A empresa firmou logo contratos para construir três navios de arrasto lateral, para a pesca do bacalhau, e na altura eram já mais de 800 trabalhadores, número que chegaria mais tarde aos 2.000.
Em 1955, sob a gestão do empresário Jacques Lacerda, e em pleno momento de vitalidade económica, os estaleiros viveram um dos momentos mais caricatos da sua história.
Além de construção naval, passaram a gerir também a Pousada de Santa Luzia, no monte com o mesmo nome, sobranceiro à cidade de Viana do Castelo, devido às dificuldades de exploração vividas pela principal unidade hoteleira da região, que corria o risco de fechar.
Essa gestão, tida como um símbolo da relação de proximidade mantida durante décadas entre a empresa e a cidade, prolongou-se durante 19 anos.
Em 1971, os ENVC sofrem uma mudança estrutural e o grupo CUF, que já detinha os Estaleiros da Lisnave, assumiu uma posição maioritária no capital da empresa de Viana, anunciando um projeto de desenvolvimento que nunca chegou a ser concluído, face à revolução de 1974.
Com a crise instalada e praticamente sem trabalho, já que vivia sobretudo da construção para armadores nacionais, a administração dos ENVC, apoiada pelos trabalhadores, pediu ao Governo a nacionalização, para evitar a falência.
A 01 de setembro de 1975 é decretada a nacionalização dos ENVC e, apesar de sucessivos aumentos de capital, seis anos depois, os prejuízos acumulados totalizavam, aproximadamente, 1,3 milhões de contos.
A situação melhorou durante a década de oitenta e os estaleiros conseguem apresentar os melhores resultados de sempre, com 31 navios de carga construídos para a então U.R.S.S.
Um negócio que acabou em 1993, altura em que os resultados da empresa se começaram a deteriorar, até aos atuais mais de 260 milhões de euros de passivo, e numa altura em que emprega 630 trabalhadores.
Em 2012, face às dificuldades financeiras e tendo em conta a necessidade de modernização da empresa, o Governo aprovou a alienação da totalidade do capital social, processo ao qual concorrem quatro grupos de investidores, provenientes de Portugal, Rússia, Brasil e Noruega.
A reprivatização da empresa, assegura o Governo, vai tentar “maximizar” os postos de trabalho e a identidade dos ENVC, assim como um projeto de futuro para o maior construtor naval português, devendo o processo estar totalmente concluído até final do ano.
Pelo meio ficam mais de 200 navios, de todo o tipo e para dezenas de países, construídos ao longo da história da empresa.
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