PUBLICIDADE
3
AVANÇAR

Menu

+

0

0

Alto Minho

ENVC: Dezasseis trabalhadores em peça de teatro sobre a empresa

17 Julho, 2012 - 09:57

143

0

Há dois meses que 16 trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) ensaiam, 25 horas por semana, uma peça sobre a história da empresa, na qual vão representar, uma vez mais, o papel principal.

Há dois meses que 16 trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) ensaiam, 25 horas por semana, uma peça sobre a história da empresa, na qual vão representar, uma vez mais, o papel principal.

“Queríamos uma autobiografia de cada um. Que falassem das suas vidas dentro dos estaleiros e da forma como a empresa mudou a vida deles”, explicou à agência Lusa Marco Martins, encenador e autor.

Ao longo de uma hora e meia, “cada pequena história” vai formar em palco “a grande história coletiva” dos estaleiros, revelando os aspetos “menos conhecidos” da empresa que dá nome à peça.

“Muitos entraram para os estaleiros com 14 anos, algo que nos parece hoje estranho, e dedicaram toda a vida à empresa. A peça também vai contar o amor que têm aos estaleiros, principalmente no momento atual, de indefinição”, acrescenta o autor.

A peça integra o cartaz do Festival do Norte e será apresentada entre 27 e 29 de julho, ao ar livre, junto ao porto de Viana do Castelo, precisamente com a empresa de fundo.

Há dois meses que os ensaios de “Estaleiros” acontecem todos os dias, de segunda a sexta-feira, em horário pós-laboral, mas aos domingos a “dose” é dupla.

São cerca de 25 horas por semana e nem o trabalhador mais antigo dos ENVC escapa à nova ‘vocação’.

“Jamais me passaria pela cabeça, num ambiente de desânimo e pressão psicológica em que estamos, entrar numa peça de teatro”, assume Martinho Cerqueira, de 60 anos, trabalhador dos estaleiros desde os 14.

Para este eletricista, a peça de teatro sobre a sua “casa” acabou por ser “uma forma de reativar” os colegas, face ao momento de indefinição que se vive na empresa, prestes a ser reprivatizada.

“Ainda temos muito que lutar e isto é também uma forma de unir os trabalhadores e unir a cidade aos estaleiros. Veio no momento exato”, conta, depois de um dia que começou às 08:00, na empresa, e que acaba às 21:00, após quatro horas de ensaio.

Ao lado está João Peres, 32 anos, que partilha o palco com Martinho e representa “os mais novos” da empresa.

“Quando vemos os mais velhos, com idade para serem nossos pais, a aderirem, também temos que aceitar o desafio. Será mais um exemplo dos vários que os trabalhadores dos estaleiros têm dado”, garante este soldador, com 11 anos de empresa.

Já lá vão várias semanas de ensaios mas, face às dificuldades que todos os dias vive na “casa onde aprendeu a profissão”, este acaba por ser um momento único.

“São muitas horas, é cansativo e duro mas também é bom. Saímos daqui com a cabeça tranquila”, acrescenta.

Segundo Marco Martins, que partilha a encenação com Nuno Lopes, a peça pretende ser uma “reflexão sobre o trabalho e a cultura de uma empresa pela qual passaram várias gerações” e que ainda se assume como “polo dinamizador de Viana do Castelo”.

“Além disso, representa o impasse que se vive no país”, diz ainda.

Envolve, além dos 16 trabalhadores dos estaleiros, ainda as Cantadeiras do Vale do Neiva e o Rancho Folclórico de Vila Franca do Lima, como elementos representativos da cultura regional, num total superior a cem pessoas à volta da produção, a maioria amadores.

“É incrível, até fascinante, ver o entusiasmo que eles têm demonstrado, nos ensaios, aos domingos, sempre que levam trabalho para fazer em casa, e no dia seguinte, têm que estar de novo na empresa bem cedo. Tem sido uma experiência gratificante”, admite Marco Martins.

Últimas