Depois do lítio, mais um pesadelo a vestir de branco.
“O impacto deste parque eólico marítimo pode ser incalculável”. É desta forma que, em tom de profunda preocupação, o Presidente da Associação de Profissionais de Pesca do Rio Minho e do Mar vê o projeto da IberBlue Wind.
Prevê a instalação de mais de uma centena de turbinas ao largo das costas da Galiza e do distrito de Viana do Castelo.
Deste numeroso grupo, serão dezenas as que irão ficar instaladas mesmo em frente a Caminha, com uma significativa comunidade piscatória.
“Estes monstros marinhos que querem colocar à nossa frente vão ser uma contrariedade para a pesca local. Se o nosso mar já é curto, mais pequeno vai ficar para o desenvolvimento desta atividade”, lamentou Augusto Porto.
“Não estamos contra as energias renováveis, nem contra a implementação destes parques”, frisou o responsável. “Queremos é que sejam avaliados eventuais prejuízos sócio-económicos para quem vive do mar, e no concelho de Caminha há muitos que vivem do mar”.
Quais podem ser afinal as consequências destas turbinas?
Sobre o impacto natural que podem ter, ao nível das espécies marítimas, ainda não existem certezas.
No entanto, para Augusto Porto, existe já uma outra certeza que “evidentemente” vai acontecer perante uma área de 600 quilómetros quadrados de mar ocupada com turbinas.
“Este parque eólico vai fazer com que barcos de porte maior que fazem uma pesca mais intrusiva venham pescar para águas mais interiores”, explicou.
E o que vai acontecer? “Com redes maiores, o peixe vai esgotar muito mais rapidamente” dando poucas hipóteses às embarcações mais pequenas.
Em suma, demasiados barcos para uma área demasiado pequena, na visão dos pescadores.
“É a isso que as autoridades têm de estar atentas. E penso que isso não está a ser feito. As associações de pesca nem estão a ser ouvidas. Sentimo-nos completamente desrespeitados!”, atirou Augusto Porto.
O Presidente da Associação de Profissionais de Pesca do Rio Minho e do Mar avisa para a real dimensão das consequências deste projeto.
“Não estamos a falar só de quem pesca. Estamos a falar de famílias inteiras à espera deste peixe para vender! Com isto, estas comunidades ficam condenadas a desaparecer”, alertou.
Rui Lages: “No meio destas posições estará a decisão acertada. É aí que vamos estar!”
Ouvido pela Rádio Vale do Minho, o Presidente da Câmara Municipal de Caminha mostrou-se totalmente solidário com a indignação dos pescadores do concelho.
“A nossa economia local está muito baseada na atividade piscatória. Isto tem influência direta nos pescadores, mas também uma influência indireta nos nossos mercados e restaurantes”, disse Rui Lages.
O autarca caminhense mostra-se, por isso, empenhado em sensibilizar o Governo para estas duas questões.
“Não podemos resolver simplesmente o problema da produção energética. Temos também de acautelar a questão económica local, dado que é muito importante para a sobrevivência das comunidades locais”, considera.
Questionado sobre se estas estruturas podem afetar as espécies existentes no mar de Caminha, Rui Lages disse não existirem para já estudos científicos que possam comprovar isso. “Mas também não temos dados que nos digam o contrário”, referiu.
Por agora, em sintonia com os pescadores, a preocupação de Rui Lages centra-se na redução do espaço para pesca.
“As embarcações maiores vão ter de ocupar áreas destinadas à pesca local. Haverá portanto uma maior pressão de pesca nessas áreas. Todos a coabitarem numa área mais pequena do que aquela em que estavam a operar”, elucidou Rui Lages.
O Presidente da Câmara voltou a deixar a garantia de que o Município tudo fará para defender os interesses dos pescadores.
“A minha posição é defender os interesses da minha população. Da minha comunidade”, assegurou Rui Lages. E deixou ainda um recado ao Governo.
“Não podemos fazer tudo com régua e esquadro! Não podemos dizer que queremos descarbonizar, mais ecologia e mais sustentabilidade e encontrar à porta esta situação. Temos de encontrar o equilíbrio! De certeza que no meio destas posições estará a decisão mais acertada. É aí que vamos estar”, concluiu.
Este projeto transfronteiriço da IberBlue Wind conta com quase dois gigawatts de potência num investimento superior a 4 mil milhões de euros.
No total, 109 turbinas ao largo das costas do Alto Minho e Galiza com capacidade para abastecer mais de um milhão de famílias.
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