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Monção

Auditório da Biblioteca encheu para Valter Hugo Mãe

20 Março, 2014 - 21:28

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Encontro com o escritor ficou marcado pela informalidade e simplicidade.

Valter Hugo Mãe passou por Monção. Na biblioteca municipal, auditório cheio e participativo, o escritor, nascido em Angola e residente em Vila do Conde, apresentou a sua última criação literária “A desumanização”, romance passado nos recônditos fiordes da Islândia.
Encontro marcado para as 21h30, o autor chegou antes da hora. Na receção, começaram os primeiros contatos com os leitores e as dedicatórias personalizadas na mais recente publicação mas também em exemplares de “o remorso de baltazar serapião”, “a máquina de fazer espanhóis” e “O Filho de Mil Homens”.
No auditório, longe do habitual registo pergunta seguida de resposta, travou-se uma conversa marcada pela informalidade e simplicidade. À imagem de Valter Hugo Mãe. Pronúncia nortenha, sorriso tímido, expressões marcantes e um humor metafórico.
O vereador das atividades socioculturais, Paulo Esteves, que presidiu à sessão, abriu o ciclo de debate e as questões não se fizeram esperar. Umas mais técnicas, outras mais profundas. A todas, Valter Hugo Mãe, prémio literário José Saramago em 2007, respondeu com sabedoria e empatia, atributos apenas ao alcance de alguns.
Falou do romance, cuja ficção reflete a visão muito própria de uma menina após a morte da sua irmã gémea, como um livro de profunda delicadeza em que a perda e a solidão não impedem a entrada de alguns rasgos de luz e beleza. Justificou: “Neste livro, a tristeza mistura-se com a força da vida”. A sua localização na Islândia é quase uma declaração de simpatia (ou será amor?) do autor por “um país rodeado por figuras míticas e umbilicalmente ligado a uma ideia de pureza”, onde “as pessoas são felizes dentro de pedras” e “as estradas caem para a água”.
Deu ainda nota que “A Desumanização” representou um desafio aliciante porque, como disse, colocou-se em perigo ao criar uma narrativa distante sem as referências próprias da cultura portuguesa. “Pela primeira vez, escrevi sobre outro pais que não Portugal. Foi um repto mas também uma aprendizagem que valorizou muito a minha interioridade” acentuou.
As críticas à nova publicação, feitas em jornais de referência como o Jornal de Letras, Público ou Visão, são muito positivas. Contudo, nada que se compare ao elogio de José Saramago que referiu-se a Valter Hugo Mãe como um tsunami literário. Uma opinião que, segundo o escritor, recebeu com grande orgulho e a responsabilidade de cumprir, todos os dias, a distinção dirigida pelo nobel da literatura.
As páginas do futuro não chegaram a ser abertas. Valter Hugo Mãe indicou apenas que após uma história em tons acinzentados é costume fazer algo mais colorido. Aguarda-se um livro com gente feliz a passear, de braço dado, por paisagens verdejantes? Fica a interrogação. De momento, a única certeza é que, grande parte dos presentes, adormeceram, nessa noite, com o murmúrio do encantamento no ouvido.

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