“Desde o passado dia 31 de julho que recebo mensagens (SMS) no telemóvel com ameaças”. Com voz triste, Gil Silva deixava transparecer a amargura de uma decisão que se viu obrigado a tomar: abandonar o comando técnico do Cerveira. A caminho da jornada 15 do campeonado da I divisão distrital, os cerveirenses ocupam o terceiro posto da tabela classificativa. Estão apenas a seis pontos do primeiro classificado. Na Taça da Associação de Futebol de Viana do Castelo, o clube está nos oitavos-de-final. A notícia deixou, evidentemente, a massa associativa e a própria imprensa estupefacta.
Eram necessárias explicações e Gil Silva desabafou aos microfones da Rádio Vale do Minho. “Ainda antes de eu entrar no Cerveira, já eu recebia essas SMS no telemóvel”, contou o agora ex-treinador garantindo que o caso já está entregue às autoridades. “Acredito que mais cedo ou mais tarde se vão descobrir os autores destas mensagens”.
Gil Silva: “Acredito que mais cedo ou mais tarde se vão descobrir os autores destas mensagens.”
Mas o calvário de Gil Silva no Cerveira não se resumiu apenas a ameaças feitas por telemóvel. “Todos nós temos que perceber que os clubes de futebol são dos sócios. Quem manda é o presidente e respetiva direção. Os jogadores estão para jogar. O treinador está para treinar. Mas quando se misturam funções, quando existem pessoas que querem mandar mais do que o presidente e do que a direção as coisas não correm bem”. E não correram mesmo. No campo, os resultados eram satisfatórios, mas nos corredores do clube o ambiente foi ficando cada vez mais difícil de suportar para Gil Silva. A receita do êxito dada pelo treinador começava a ficar comprometida. “O que é preciso é que ‘do outro lado’ esteja gente com vontade de trabalhar. Gente que beba da mesma ideia que o treinador e que não pensem que por terem alguns anos de clube mandam mais do que o presidente, do que a direção e do que os sócios”, disparou. “O mal do Cerveira foi, é e há-de continuar a ser esse”.
Gil Silva: “Quando existem pessoas que querem mandar mais do que o presidente e do que a direção as coisas não correm bem.”
Com alguma emoção à mistura, Gil Silva garante que sai sem qualquer mágoa. “Só tenho a agradecer à direção o empenho e todo o apoio que me deram. Desejo tudo de bom para esta direção e para o presidente”, realçou. De acordo com o técnico demissionário, a direção do Cerveira fez todos os esforços no sentido de o demover desta decisão. “Chegaram mesmo a dizer-me: «Vai embora quem tu quiseres mas tu continuas!». Se eu quisesse mandar quatro ou cinco jogadores embora, mandava e continuava como treinador do Cerveira. Mas não quis. Preferi sair com a consciência tranquila e noção de dever cumprido”.
Quanto ao futuro, o ex-treinador dos cerveirenses diz não ter ainda qualquer clube em vista mas há interessados. “Posso dizer que o meu telemóvel já tocou. E isso só me alegra! Saio de um lado e tenho gente já a ligar-me”, revelou. “Mas neste momento, sinceramente, tenho de descansar. Foi terrível!”, concluiu.
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