Várias vozes defenderam esta sexta-feira, em Valença, que devem ser tomadas medidas urgentes no sentido de proteger a lampreia do rio Minho.
A edição deste ano do Festival Sabores da Lampreia começou feliz mas, ao mesmo tempo, carregada de preocupação.
Por todo o Alto Minho, o cenário é desolador. Pescadores desanimados, restauração preocupada e preços elevados como nunca antes vistos.
A tradição de degustar o ciclóstomo tornou-se num luxo. Se muitos já não tinham carteira para isso, este ano muito menos.
“A época da pesca da lampreia deveria ser mais reduzida. Não podemos continuar a deixar que esta se estenda quase até maio”, defendeu à Rádio Vale do Minho o Presidente da Junta de São Pedro da Torre, Cristóvão Pereira.
“Não só o clima está bastante alterado como existem também espécies invasoras no rio Minho”, lamentou o autarca que de imediato apontou o dedo à carpa, que estará a devorar as crias de lampreia antes delas chegarem ao mar.
“Já para não falar na poluição. Também não podemos virar costas a este problema”, sublinhou.
Ainda assim, Cristóvão Pereira grante que lampreia do rio Minho não vai faltar neste festival gastronómico. “Estamos prevenidos. Caso a procura exceda expectativas, temos até plano B e plano C”, assegurou.
Cristóvão Pereira, Presidente da Junta de São Pedro da Torre, Valença
[Fotografia: Rádio Vale do Minho]
“Está a começar o início do fim”
Mais pessimista está David Sanches, Presidente da Associação de Pescadores da Ribeira Minho. Em tom pragmático, o responsável admite mesmo que “está a começar o início do fim da lampreia”.
David Sanches acredita que estão reunidos todos os ingredientes que vão levar à extinção total da espécie.
“Já propusemos que, para o ano, haja menor tempo de pesca. A ver se ainda vamos a tempo de fazer alguma coisa”, disse em tom pouco esperançado.
David Sanches, Presidente da Associação de Pescadores da Ribeira Minho
[Fotografia: Rádio Vale do Minho]
Para David Sanches, a gestão do rio Minho está “um caos”.
Das espécies invasoras às inconstantes descargas da barragem de Frieira, tudo veio prejudicar um ciclóstomo que em tempos proliferava naquele troço de água internacional.
“As entidades não ligam a isto. As Câmara Municipais não querem saber”, desabafou.
Carpinteira: “Estou preocupado, como é evidente”
Também bastante preocupado com o cenário mostrou-se o Presidente da Câmara de Valença.
José Manuel Carpinteira considera que “a escassez de lampreia é notória e isso merece uma grande reflexão não só por parte das autarquias e associações, como também do Governo”.
Questionado sobre a redução do tempo de pesca, o autarca admite que isso pode vir a acontecer.
“Mas tudo tem de ser estudado e há que refletir rapidamente sobre isso. Estou preocupado, como é evidente. Este e outros eventos do género só fazem sentido se puderem promover um produto que possa acrescentar algo à economia local”, disse.
Presidente da Câmara de Valença (à esquerda) mostra-se preocupado com a escassez de lampreia no rio Minho
[Fotografia: Rádio Vale do Minho]
O Festival Gasstronómico Sabores da Lampreia, em São Pedro da Torre, Valença, começou esta sexta-feira. Vai prolongar-se até domingo.
A oferta de pratos deste festival junta uma vez mais a tradição e a inovação com destaque para o Arroz de Lampreia, Lampreia à Bordalesa, Lampreia Recheada, Lampreia Assada no Forno e Lampreia Seca.
Confira o programa:
[Fonte: Sabores da Lampreia]
Este festival é um ponto de encontro de sabores, saberes e apreciadores para comer e degustar a lampreia do rio Minho.
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