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Melgaço

Vale do Minho pode ter sido porta de entrada da indústria acheulense há 200 mil anos

7 Novembro, 2017 - 02:55

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As primeiras indústrias acheulenses que apareceram na Europa podem ter entrado pelo Vale do Minho, há 200 mil anos, vindas de África. Pelo menos é esta a convicção do arqueólogo […]

As primeiras indústrias acheulenses que apareceram na Europa podem ter entrado pelo Vale do Minho, há 200 mil anos, vindas de África. Pelo menos é esta a convicção do arqueólogo João Pedro Rodrigues, da Universidade de Lisboa, que no último ano tem coordenado prospeções pelas margens do rio Minho. Desde muito cedo que estas escavações começaram a dar frutos. Recorde-se que foi em julho do ano passado que esta equipa apresentou em Monção um dos maiores achados arqueológicos no Vale do Minho. Senão o maior. Foram mostrados à imprensa artefactos em pedra, com mais de 200 mil anos, encontrados no lugar de Bemposta, freguesia de Valadares, em Monção. Para uma ideia mais clara, são os testemunhos mais antigos da presença do homem nesta região. Remontam ao tempo do Paleolítico Inferior. Uma altura em que, segundo a equipa de arqueólogos, circulavam nas margens do rio Minho animais de grande porte.

Durante os meses seguintes, esta equipa continuou a trabalhar não só em Monção como também em Melgaço onde foram também encontrados vários utensílios daquela época. Parte destes achados foi mostrada esta segunda-feira a um auditório repleto de jovens, durante as Jornadas sobre Património Cultural de Melgaço. Um evento que promoveu o Património Cultural do concelho. A iniciativa centrou-se na temática Paleolítico e é de vertente pedagógica, com sessões orientadas por Professores Universitários, de Portugal e da Galiza, de áreas como Arqueologia, História e Sociologia. O propósito foi dar a conhecer a todos a riqueza patrimonial de Melgaço, bem como a sua história, para que a mesma possa ser divulgada junto da comunidade e de quem visita o concelho.

 

Primeira atribuição ao Acheulense em Portugal data de 1880

 

As indústrias que foram detetadas na Europa e que pertencem ao Paleolítico inferior são designadas por Abbevilense (a mais antiga), presente na jazida epónima de Abbeville, e por Acheulense (a fase mais recente), encontrada primeiramente em Saint-Acheul, ambas em França. A primeira atribuição ao Acheulense em Portugal data de 1880 para as indústrias líticas descobertas na Mealhada, quando se abriram vários poços no vale do Rio Cértima. No entanto, estes especialistas estão agora convencidos que o Vale do Minho terá sido uma das principais e primeiras portas de entrada desta indústria na Europa, vinda do continente africano. “Essa hipótese é alicerçada em achados que se fizeram recentemente na outra margem do rio Minho, em as Neves, e foi esse um dos motivos que nos levou a procurar desenvolver os trabalhos nesta margem”, referiu o arqueólogo.

 

João Pedro Rodrigues: “Resultados são bastante promissores”

 

Sobre o que foi encontrado, João Pedro Rodrigues considera que “os resultados são bastante promissores”. A lista de objetos encontrados é extensa. “São muitos e bonitos”, continuou o arqueólogo com um sorriso. “Entre eles estão os artefactos acheulenses, chamados bifaces. Temos depois outros mais evolucionados, mais recentes, provavelmente já associados à presença do Homem de Neanderthal nesta região”, revelou.

 

Manoel Batista: “Nuca tivemos dúvidas de que somos um terrítorio atrativo. Os nossos antepassados já tinham noção disso.”

 

Naturalmente satisfeito com estas boas notícias ficou o presidente da Câmara de Melgaço. “Nunca tivemos dúvidas de que somos um território atrativo. Os nossos antepassados já tinham noção disso”, disse Manoel Batista com um sorriso estampado no rosto. Questionado sobre o destino dos achados arqueológicos no concelho, o presidente da Câmara garantiu que irão ser criadas condições para recolher este património arqueológico. “Hoje há possibilidade de visitar parte dele na sede da antiga Junta de Freguesia de Remoães. Uma outra parte esta na posse dos especialistas que aqui estiveram a fazer esse trabalho”, continuou o edil megacense adiantando que “a nossa ideia é que, com a recuperação já realizada da antiga escola primária da vila, criarmos ali condições para poder albergar esse património resgatado nas escavações”.

 

 

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