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Monção: Um matadouro ‘a matar-se’ e a dar prejuízo desde 2001

19 Junho, 2019 - 04:41

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Foi inaugurado no dia 24 de novembro de 2001. A placa foi descerrada pelo então Ministro da Agricultura, Luís Manuel Capoulas dos Santos. Era suposto ser uma mais valia para […]

Foi inaugurado no dia 24 de novembro de 2001. A placa foi descerrada pelo então Ministro da Agricultura, Luís Manuel Capoulas dos Santos. Era suposto ser uma mais valia para o concelho. Tornou-se um problema. Em 18 anos de existência, o Matadouro Regional de Monção – Empresa Municipal não apresenta qualquer ano de resultados positivos. 

As contas daquele espaço foram apresentadas esta terça-feira pelo presidente da Câmara, António Barbosa (PSD), em sessão da Assembleia Municipal. Munido de vários quadros, o autarca monçanense exibiu ao pormenor todos os gastos, rendimentos e dívidas existentes.

Assim, em jeito de quadro/resumo, o Matadouro Regional de Monção apresentou em junho de 2017 um total de 184 mil euros de dívidas a fornecedores (taxas incluídas). As dívidas de clientes, nesse mesmo mês, ascenderam aos 145 mil euros. Um buraco financeiro perto dos 330 mil euros.

 

Subsídios para “tapar buracos”

 

“Entre 2008 e 2013, foram injetados no Matadouro 992 mil euros”, iniciou Barbosa. Mas os valores totais introduzidos saídos dos cofres do Município são muito superiores. Entre obras de remodelação, Capital Social Inicial e Aumentos de Capital, os números superaram os 2 milhões de euros em custos para o Município.

Seguiu-se depois um quadro com a evolução dos resultados entre 2001 e 2018. A avaliação do presidente da Câmara foi clara. “Entre estes anos nunca houve um único exercício em que o matadouro nunca tivesse tido prejuízo”, disse. 

No entanto, eram visíveis resultados positivos na coluna referente aos Resultados Líquidos do Exercício. O ano de 2016, por exemplo, apresentou um resultado de 867 euros. O ano seguinte teve 22.622 euros. “Colocamos lá subsídios para tapar os buracos. Metemos lá 30 mil euros em 2016 e outros 30 mil euros em 2017”, lembrou o autarca reportando-se a junho de 2016, em que a Assembleia Municipal de Monção aprovou uma transferência de 88 mil euros para o matadouro. “E este exercício pode ser feito em todos os anos em que o matadouro tem resultado líquido positivo!”, sublinhou. Isto conduz “à mais pura e dura das realidades… o matadouro deu prejuízo todos os anos”.

 

131 mil euros de dívidas que “nunca foram cobradas”

 

Quanto a gastos com o pessoal, o ano de 2018 apresentou um total de mais de 154 mil euros. Uma subida de 27 mil euros em relação ao ano anterior. “Neste ano de 2018 está já a repercussão do aumento do salário mínimo nacional que representou um acréscimo de custos em 6.500 euros”, referiu António Barbosa. Mas houve mais. “Em 2017, em pleno período eleitoral, foram admitidos dois funcionários que apenas se repercutiram na sua totalidade em 2018. E isto significou um acréscimo de 5.500 euros”, prosseguiu.

“Também em 2017, houve um funcionário que esteve indisponível. Regressou em fevereiro do ano seguinte. Esse funcionário não fomos nós que o colocamos, já lá estava e representou um acréscimo para as contas do matadouro de mais 10 mil euros”. Ainda nesse mesmo ano de 2017, referiu o edil, existiram períodos frequentes de indisponibilidade de funcionários.

 

Barbosa:  “Em 2017, em pleno período eleitoral, foram admitidos dois funcionários que apenas se repercutiram na sua totalidade em 2018. E isto significou um acréscimo de 5.500 euros.”

 

Barbosa entrou então na parte crucial. Carregou ainda mais na linha que separa a gestão socialista da gestão social-democrata na Câmara de Monção. Em 2017 [ano em que cessaram 20 anos do PS à frente da autarquia], o matadouro apresentou um total de dividas a fornecedores (taxas incluídas) de mais de 184 mil euros. Com os abatimentos já feitos pelo atual Executivo Municipal, esta dívida ronda atualmente os 163 mil euros.

Surgiram depois, projetados na parede, mais de 131 mil euros de dívidas de clientes anteriores a 2016. “Nunca foram cobradas! Desapareceram!”, exclamou Barbosa. Somado aos anos de 2016, 2017 e 2018, o resultado conduz a um total atual de mais de 150 mil euros em dívidas de clientes ao matadouro.

Posto isto, Barbosa debruçou-se sobre o ponto 4º da ordem de trabalhos dessa mesma sessão referente à proposta de cobertura de prejuízos de 2018 da Empresa Matadouro Regional de Monção. Em cima da mesa, a votação da transferência de uma verba de 50 mil euros durante este ano. Para quem? “21.300 euros para uma empresa que quer cessar a sua atividade e que nos anda a pressionar há imenso tempo; 7.200 euros referentes ao subsídio de Natal de 2018; 17.956 euros para o Plano Prestação Finanças (Plano de 2016; e 3.544 euros ao Laboratório Pimenta do Vale (desde 2015)”, enumerou o presidente da Câmara.

 

Carlos Trancoso: “Não pode dizer que fez melhor que o PS”

 

As reações à explanação de António Barbosa vieram, previsivelmente, da bancada socialista. O primeiro a usar da palavra foi precisamente o deputado José Emílio Moreira, presidente da Câmara na altura em que o matadouro foi inaugurado. “Não houve irresponsabilidade! Houve, isso sim, uma gestão muito difícil”, referiu. “A solução fácil era fechar mas fomos sempre aconselhados a aguentar”, recordou o antigo autarca que não fez qualquer reparou ou correção aos números apresentados.

 

Carlos Trancoso:  “Quero lembrar que o PS nunca virou costas ao matadouro municipal. Protegeu as famílias que dele dependiam.”

 

Também pelo PS, o deputado Carlos Trancoso mostrou-se rendido aos números. “Assumimos a nossa responsabilidade em parte pela situação financeira do matadouro. A conjuntura, a estrutura e a gestão municipal não foi claramente a melhor”, disse. “Mas quero lembrar que o PS nunca virou costas ao matadouro municipal. Protegeu as famílias que dele dependiam”, realçou. E deixou recado ao presidente da Câmara e à direita. “Foi Monção que acreditou na sua promessa eleitoral de que em seis meses resolveria o problema do matadouro e que agora nos apresenta o pior ano de gestão. Pode enaltecer as suas qualidades de metre de contas. Pode até acusar o PS de gestão imprudente. Mas não pode é dizer a Monção que fez melhor que o PS”, concluiu.

Na votação, a referida proposta de cobertura de prejuízos de 2018 da Empresa Matadouro Regional de Monção foi aprovada por unanimidade.

 

Barbosa: “Foi sempre mais fácil fazer de conta que os problemas não existem”

 

No final, já em declarações à Rádio Vale do Minho, questionado sobre uma possível privatização do Matadouro, o presidente da Câmara não descartou a hipótese. “Sou a favor de tudo aquilo que seja para viabilizar o futuro daquele espaço. Durante muitos anos andou-se a esconder aquilo que eram as contas do matadouro, e agora podemos olhar de uma forma séria para a solução do matadouro”, disse António Barbosa.

“A solução, no imediato, é tornarmos o matadouro equilibrado. O PSD é favorável à continuação do matadouro. Temos é de arranjar soluções que tornem viável o futuro dele, coisa que nunca aconteceu desde 2001. Porquê? Porque foi sempre mais fácil fazer de conta que os problemas não existem. Esconder as contas e de forma pouco transparente fazer de conta que o matadouro dava um resultadosinho quase encostado ao zero mas positivo. E hoje ficou evidente que isso era mentira. O que o matadouro teve foram 18 anos de prejuízos”, finalizou.

 

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