Centenas de quilos de carne, entre diversas outras iguarias, servem, hoje e amanhã, para pôr fim ao jejum quaresmal e de argumento para convívios no Alto Minho. Cardielos junta, hoje, 200 convivas no Bife da Páscoa. O mordomo de Fontão dá, amanhã, de comer a 400.
São tradições há muito enraizadas por terras do Alto Minho e que tão cedo não vão desaparecer, garantem os responsáveis pelas festas que, este fim-de-semana, têm lugar um pouco por todo o Alto Minho, realizações que insistem em fintar a crise para dar a conhecer uma das mais típicas e castiças facetas da região.
Em Fontão, Ponte de Lima, ultimava-se, ontem de manhã, a montagem da tenda gigante que, amanhã, acolherá cerca de 400 pessoas, na sua esmagadora maioria residentes na ribeirinha localidade. Desta feita, a organização da festa coube a Manuel Vieira, proprietário de uma oficina de automóveis que "não estava à espera" de vir a ser o mordomo da Cruz deste ano.
Momento mais aguardado
O momento da escolha do responsável pela festa apresenta-se mesmo como um dos mais aguardados e, por alguns, temido do almoço, percorrendo a esposa do anfitrião as diversas mesas com um raminho de laranjeira na mão. Onde ela o pousar, está escolhido o mordomo.
"Em boa-fé, não estava à espera de ser o escolhido deste ano. Alguns amigos chegaram a dizer-me que o mordomo poderia ser eu, mas não acreditei. Pensei que fosse só uma brincadeira", observa Manuel Vieira, confidenciando que ficou "emocionado" quando lhe colocaram o ramo de laranjeira na lapela: "Não fiquei assustado. Nada disso. Fiquei emocionado com o peso da responsabilidade. Da organização de evento que leva longe o nome da terra. E isso é uma responsabilidade enorme".
Os preparativos arrancaram há muito, com a selecção do pessoal e, mesmo, do cozinheiro. Na cozinha e no salão, a servir, estarão perto de 35 pessoas, estimou, dando conta que, para o almoço, foram já adquiridas duas vitelas e uma dezena de cabritos, além de "uma considerável quantidade de tamboril". Vinho e cerveja "com fartura" complementam a ementa que é amanhã oferecida pelo mordomo da Cruz, convívio que promete prolongar-se muito além do pôr do sol.
Instado sobre os custos do repasto (assim como das restantes tarefas atribuídas ao mordomo, a quem cabe embelezar a igreja, entre outras funções), Manuel Vieira é parco em palavras, limitando-se a dizer que "daria para comprar um carro novo, e bem jeitoso".
Mulher não entra
Entretanto, Cardielos, em Viana do Castelo, pára, hoje, para degustar o "Bife da Páscoa", costume com perto de 60 anos, onde sempre foi vedado o acesso ao sexo feminino. "Num passado recente, chegaram a votar o acesso às mulheres, mas o mesmo viria a ser rejeitado, em votação de braço no ar", conta, bem humorado, Manuel Correia, filho de Américo Correia, que deu início à tradição, nos anos 50 do século passado.
"Este ano as mulheres também não vão entrar, mas para os anos vindouros não sabemos. Tudo dependerá da vontade dos convivas", assinala. À espera dos convivas estão, hoje, mais de 200 quilos de carne. Tocadores e cantadores prometem animar o repasto.
Em Santa Marta de Portuzelo, um outro convívio, denominado de "Amigos do Bife", promete juntar, hoje, perto de meio milhar de pessoas. O repasto associa-se à campanha "Um dia pela vida", da Liga Portuguesa contra o Cancro. Na mesma localidade, um restaurante acolhe uma singular iniciativa, que surge por oposição ao Bife da Páscoa: Um almoço apenas para mulheres.
FONTE: JN
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