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Um dia depois do Governo da Galiza anunciar a proibição de fumar nas ruas e nas esplanadas, a cidade da Corunha acordou esta quinta-feira com vários cartazes a incitar à não utilização da máscara de proteção individual. De acordo com notícia avançada pelo jornal Quincemil, as fotografias dos cartazes tornaram-se virais nas redes sociais.
“O uso continuado de máscara, segundo vários estudos científicos e especialistas, enfraquece o sistema imunológico. É uma fonte de bactérias, vírus e um foco de infeções que não protege de contágios”, lê-se no texto do cartaz.
Diz ainda o documento, cujo autor ainda se desconhece, que “se as normas não fazem sentido, não há razão para obedecer-lhes cegamente”. E termina com uma questão típica: “Se as normas dissessem para te atirares de uma ponte, também te atiravas?”.
A mensagem mereceu a reprovação da generalidade dos cidadão. Ainda de acordo com aquele jornal, foram vários internautas a considera que estas mensagens “são um perigo”. “São outro tipo de vírus, muito perigoso e que também pode tirar vidas. Este transmite-se por vídeos de youtube e tweets. São argumentos anti-ciência que deveriam ser punidos”, escreveu um utilizador do Twitter, citado pelo Quincemil.
A área sanitária da Corunha, recorde-se, é nesta altura a mais afetada de toda a região da Galiza com 544 casos ativos (mais 81 em 24 horas).
No total, a Galiza apresenta 13.067 casos confirmados de infeção pela nova doença, sendo que 938 estão ativos. Há 11.506 casos recuperados e 623 óbitos registados.
Há 102 anos também estavam todos fartos da máscara
Há 102 anos, o mundo enfrentava uma das piores pandemias de sempre. Provocada pelo vírus Influenza, a gripe pneumónica ceifou 100 milhões de vidas em todo o planeta. As condições não eram as mesmas de hoje, como é evidente. Nem nas unidades hospitalares, nem em casa.
Se nos hospitais faltava praticamente tudo, em casa não havia internet. Nem séries da Netflix. Não havia nada. Logo, o tédio provocado pelo confinamento era indiscutivelmente maior. As pessoas estavam fartas.
Conforme conta o jornal Dinheiro Vivo, em artigo de opinião assinado por Ana Rita Guerra, foi ao meio-dia de 21 de novembro de 1918 que em São Francisco, nos Estados Unidos da América (EUA), soaram as sirenes. Finalmente o fim do confinamento! Tinha sido um ano muito duro devido àquela doença. A Grande Guerra tinha terminado há 10 dias e o povo ainda nem sequer tinha saído às ruas para festejar.
Finalmente. Por fim a abençoada sirene! Acabou… E o povo, conta a autora, saiu de rompante para a rua. Restaurantes e bares encheram-se de gente. As máscaras foram lançadas para o lixo e a euforia era total. Teatros cheios. Ruas apinhadas. As autoridades de saúde acreditavam que a situação estava totalmente controlada.
O que aconteceu a seguir? Bastaram algumas semanas para a cidade estar novamente a braços com uma “subida em flecha de novos infetados”, escreve Ana Rita Guerra.
“Quando as autoridades tentaram reativar as medidas obrigatórias, como o uso de máscaras, a população resistiu”, conta. “Houve protestos. A Liga Anti-Máscara fez campanha contra a ordem”.
A população, farta de estar em casa, recusava-se a regressar ao confinamento. Resultado: São Francisco tornou-se a cidade mais atingida pela pandemia em todos os EUA – 45 mil infetados e três mil mortos.
“Mais de 100 anos depois, é notável concluir que muito pouco mudou na reação a um surto viral altamente contagioso e mortífero. Sabemos que a pneumónica circulou durante dois anos, teve três vagas e que a segunda foi a mais fatal”, avisa Ana Rita Guerra.
“A História repete-se perenemente; todavia, ainda vamos a tempo de usar os exemplos de há cem anos para evitar catástrofes maiores. Perceber que não haverá um botão de ligar que se pode premir e instantaneamente ter a vida que levávamos antes”, considera.
“Tudo isto tem sido duro demais para deitar a perder com uma atitude de tudo ou nada, em que ou se está a falar com as plantas durante um mês fechado em casa ou está tudo nos sunsets com uma cerveja na mão. Porque uma coisa é certa: depois de sair do confinamento, será muito mais difícil voltar a ele“, aponta a autora.
A Gripe de 1918 (Gripe Espanhola) foi uma pandemia que atingiu quase toda a parte do planeta. Foi causada por uma estirpe do vírus Influenza, no subtipo H1N1. Estima-se que tenha causado perto de 100 milhões de mortos em todo o mundo.
Em Portugal o número oficial de vítimas foi superior a 60 mil. Entre estas, os irmãos Jacinta e Francisco Marto, pastorinhos de Fátima.
Veja a galeria de fotos [créditos: Twitter DocFarma]
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