Aconteceu em janeiro de 1935. Pela primeira vez, Monção começou o ano escrita com “ç”, e não com “s”.
Para trás ficavam mais de 100 anos de batalha entre homens das letras. Uns defendiam que Monção deveria continuar a escrever-se “Monsão“.
Outros mostravam que isso não tinha qualquer lógica e a forma correta seria “Monção“.
No grupo de facebook Os Amigos de Monção, o investigador José António Barreto Nunes divulgou a primeira página de um número do jornal A Terra Minhota, publicado em 1930.
[fonte: grupo FB Os Amigos de Monção]
A discussão sobre o tema era acesa. Mas os defensores da forma “Monção” pareciam estar a ganhar terreno.
O autor do artigo, Xavier Fernandes, não se conformava com o “porque sim” perante a pergunta «Porque é que Monsão se escreve com s?».
A piorar a situação, o problema do atraso na correspondência.
Os endereços eram todos escritos à mão e, não raras vezes, os Correios confundiam “Monsão” com “Mourão”. Consequência: as cartas iam parar ao sítio errado.
Xavier Fernandes começa logo com o Foral Novo atribuído pelo rei D. Manuel I a Monção no dia 1 de junho de 1512.
No documento, o monarca escreve “Monçam“. Com “ç” e não com “s“.
O autor segue depois com o testemunho de vários nomes ligados às letras.
Entre eles Leite de Vasconcelos, defendendo que “a boa ortografia é com ç e não com s, pois a palavra não pode vir de Monte Santo“.
“No onomástico espanhol, existe Monzon que decerto tem analogia com a mesma palavra”, acrescenta.
Mas já em 1905, António de Pinho escreveu n’ O Regional, semanário de Monção, que devia abandonar-se “duma vez a grafia Monsão por ser inconveniente o seu uso, substituindo-a pela exacta ortografia que é Monção”.
No dia 24 de junho de 1924, no Diário de Lisboa, escreveu Cândido de Figueiredo que o “s” na designação daquele concelho “não está certo. O latim medieval Montianus produziu Monciano. Evolucionou para Moncião e depois para Monção“, argumenta.
Mas foi em 1926 que sucedeu um dos episódios que mais indignou o povo.
Noticiou o jornal O Comércio do Porto que a Direção dos Caminhos de Ferro mandou pôr uns azulejos na estação de Monção.
Só que trocou o “ç” pelo “s“. “A Comissão Executiva Municipal não se conformou com o “s” e reclamou perante a direção do Caminho de Ferro”, lê-se.
A vontade dos monçanenses venceu. O “s” foi removido e trocado pelo “ç”.
Mas Xavier Fernandes vai mais longe e cita um texto publicado em 1815 no jornal O Comércio do Porto, onde um professor acredita que a origem do nome da terra está em Mons Sanctus, designação dada pelos bárbaros.
“E assim se justifica o “s” na grafia da palavra”, conclui o docente.
Mas tinham passado mais de 100 anos. “Mons Sanctus não se adapta ao nome da conhecida vila minhota mas ao duma outra vila da província da Beira: Monsato”, considera o autor.
Xavier Fernandes termina a saudar todos aqueles que defendem o nome da terra escrito com “ç“.
“Na verdade são estes autores quem defende a boa doutrina, como se vê pelo vocábulo Montianus, existente no latim bárbaro e que deu ao português arcaico Monzon e Monçom. Formas estas que nunca poderiam evolucionar normalmente para Monsão, mas sim para Monção, que é, portanto, a rigorosa e exacta grafia”.
Volvidos quatro anos, a vitória do “ç” consumou-se. Até a sinalética nas estradas começou a ser substituída.
O concelho recebeu da Junta Autónoma de Estradas “a comunicação de que vai ser brevemente retificado o nome desta vila nas placas de sinalização das estradas”.
[fonte: grupo FB Os Amigos de Monção]
Em janeiro de 1935, a palavra “Monção” – com “ç” – era já aceite por todos.
Daí em diante, Monção passou a ser com “ç“. O “s” passou definitivamente à história.
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