O artista plástico Bordalo II, autor da Coca [dragão] exposta no museu Monção&Memória, em Monção, divulgou esta terça-feira uma fotografia onde mostra a sua mais recente obra.
Tapou a campa de António Oliveira Salazar, no cemitério da freguesia de Vimieiro, em Santa Comba Dão, com uma caixa de medicamento “antifascista”…. gigante.
“Liberdade”, como chama Bordalo II ao medicamento, é um “probiótico antifascista” de “25mg” e com “50 cápsulas”, em referência à Revolução do 25 Abril e aos 50 deputados do Chega, eleitos pelos portugueses a 10 de março, que fazem agora parte da Assembleia da República.
“Por algum motivo, os que têm ambições tirânicas e antidemocráticas, começam exatamente por atacar a liberdade – este conceito complexo que atravessa vários campos da nossa vida e sem o qual não teremos uma sociedade justa. A liberdade é fundamental para cada um de nós e para o bem-estar de todos”, começa por escrever o artista numa publicação partilhada na sua conta de Instragram, na manhã desta terça-feira, acrescentando que “não nos podemos distrair e tomar a liberdade como um bem adquirido”.
“Pelo contrário, temos que defendê-la e exercitá-la todos os dias. O 25 de Abril serve também para nos lembrarmos disto! Defender a liberdade é respeitar as diferenças, exigir direitos fundamentais universais e permitir a expressão do pensamento livre e da criatividade. Também a arte deve ser livre, deve poder questionar, provocar e dar um ponto de partida para a reflexão”, realça antes de terminar com um “25 de Abril SEMPRE, fascismo nunca mais”.
[Fotografia: Bordalo II]
Sobre a Coca de Bordalo II
Foi em abril de 2021 que Bordalo II apresentou em Monção, no Museu Monção&Memórias, uma Coca com oito metros de altura e inteiramente construída com… lixo.
A obra de Bordalo II está exposta numa das paredes do museu.
[Fotografia: Arquivo/Rádio Vale do Minho]
Uma obra que alerta para “um futuro que nos preocupa a todos nós, na questão da sustentabilidade e do ambiente”, referiu na altura o Presidente da Câmara, António Barbosa.
Recorde-se que, nas suas obras, o artista costuma dar sempre corpo a animais ainda existentes, em vias de extinção ou já extintos. Foi em Monção que, pela primeira vez, construiu um animal lendário.
“Os materiais que usei são os que costumo usar nestes trabalhos: lixos, resíduos e de tudo o que sobra da parte consumista”, explicou Bordalo II aos jornalistas.
A intenção final, apontou, acaba por ser uma “inversão de papéis” entre o que é bem e o que é mal.
“Na história, a Coca era o bicho mau e o homem matava a Coca para resolver o problema. Mas nos dias de hoje, as coisas são mais sérias. O homem tende a ficar o bicho mau e em vez de matar ou arrasar a natureza, deve fazer uma introspeção sobre os seus hábitos”, disse Bordalo II.
É conhecido como “o homem que do lixo faz arte”. E quando se fala de lixo, é mesmo isso. Chapa, plástico, bidons e contentores são moldados e encaixados uns nos outros até se tornarem, geralmente, na pele de um qualquer animal. E, depois, tinta por cima.
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