Pedro Martins é o candidato pela CDU à presidência da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira nas eleições autárquicas do próximo dia 12 de outubro.
Em entrevista à Rádio Vale do Minho, o candidato faz um balanço “insatisfatório” da liderança socialista e afirma que uma gestão municipal não é feita “apenas com números”.
Rádio Vale do Minho (RVM) – Qual ou quais as razões que o levam a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal?
Pedro Martins (PM) – A razão principal pela qual me candidato é por acreditar tanto no projeto do coletivo da CDU. Aceitei este convite, grato pelo voto de confiança, para dar visibilidade ao nosso projeto no concelho.
Projeto esse que se destaca por ser construído coletivamente, com pontos de vista plurais, que foca nas verdadeiras necessidades da população de Vila Nova de Cerveira, respondendo aos problemas que todos conhecemos: desde a dificuldade na fixação dos mais jovens, à falta de habitação social, passando por uma necessidade de melhoria dos serviços públicos e de reforço da coesão social.
Candidato-me porque sendo jovem e já tendo emigrado, sinto-me comprometido em dinamizar o concelho criando condições favoráveis para que famílias vejam aqui não só uma oportunidade para se estabelecerem, mas também prosperidade real num concelho que pode ser ainda mais justo, solidário e sustentável.
RVM – Que balanço faz do anterior mandato?
PM – O balanço que fizemos do mandato que termina agora em Vila Nova de Cerveira é, para a CDU, insatisfatório. Apesar das contas municipais apresentarem resultados positivos e da gestão financeira se ter revelado equilibrada, um concelho não é feito apenas com números.
O que questionamos é de que forma é que esses recursos foram usados para melhorar efetivamente as condições da vida das pessoas uma vez que, infelizmente, não se reflete com a realidade.
Apesar dos saldos positivos, muitas promessas ficaram pelo caminho, houve atrasos relevantes em projetos dependentes do PRR e não se avançou com a determinação necessária em áreas cruciais.
Registaram-se alguns investimentos culturais e de lazer, importantes para a identidade do concelho, mas a verdade é que a habitação social, o reforço dos serviços públicos de proximidade, o apoio efetivo às freguesias e a coesão social não tiveram a prioridade que a população esperava e necessitava.
O resultado é um concelho que, apesar da sua localização privilegiada e do seu enorme potencial humano e cultural, continua a perder população e a envelhecer, sem conseguir criar as condições necessárias para atrair e fixar novas famílias.
Consideramos que Vila Nova de Cerveira merece mais do que gestão do imediato: precisa de visão, de estratégia e de vontade política para transformar os seus recursos em oportunidades de futuro.
RVM – Que medidas propõe ao nível da habitação?
PM – Para nós, a habitação é um assunto urgente e prioritário, porque acreditamos ser um direito essencial que não pode ser tratado como um tema secundário.
Em Vila Nova de Cerveira, concluímos rapidamente que embora o município apresente contas equilibradas e resultados financeiros positivos, a realidade é que isso não nos mostra soluções concretas para jovens e famílias.
Continuamos a ter uma oferta mínima, imensas casas devolutas e degradadas e não temos políticas eficazes que fixem a população.
Por isso, a CDU propõe medidas objetivas: investir na reabilitação e recuperação de habitações devolutas, sobretudo no centro histórico e nas freguesias; avançar com programas de construção de habitação social e de custos controlados, em articulação com o Estado; criar apoios ao arrendamento e à compra de casa para jovens e famílias de rendimentos baixos e médios; e estabelecer incentivos que favoreçam a habitação permanente, travando a especulação imobiliária.
Em paralelo, queremos garantir qualidade e sustentabilidade nas novas construções, com eficiência energética e condições dignas. Para a CDU, a habitação tem de estar ao serviço das pessoas e ser uma das bases centrais de uma política que quer enfrentar o despovoamento, fixar população e valorizar o futuro de Vila Nova de Cerveira.
RVM – Que propostas tem para o comércio tradicional?
PM – O comércio tradicional é um pilar fundamental da economia local e da vida comunitária, mas tem sido frequentemente negligenciado e falta-lhe uma estratégia que lhe dê a sustentabilidade que precisa.
Para a CDU, apoiar o comércio significa criar condições materiais para que este setor possa crescer.
Isso começa por melhorar o poder de compra da população: se as famílias tiverem condições de vida mais estáveis, terão também maior capacidade de consumir no comércio local – o que fomenta a economia local.
É igualmente relevante dinamizar o centro urbano e as freguesias com eventos culturais, feiras e atividades regulares que atraiam pessoas às áreas de comércio. Defendemos horários dignos, que se consigam articular melhor com os ritmos da população, garantindo que todos têm a possibilidade de usufruir destes serviços.
Propomos ainda medidas de apoio direto, como programas de incentivo à modernização das lojas, à digitalização e à divulgação do comércio tradicional, assim como uma política fiscal municipal justa, que não penalize os pequenos comerciantes.
Para nós, o comércio de proximidade deve ser protegido e valorizado, porque é essencial para uma Vila Nova de Cerveira viva e dinâmica.
RVM – Que projetos tem para a indústria?
PM – A zona industrial de Vila Nova de Cerveira é enorme e concentra um grande número de trabalhadores, mas continua a faltar uma estratégia que os coloque como prioridade: muitos enfrentam dificuldades de mobilidade, horários desajustados e vínculos laborais precários.
Para a CDU, o futuro da indústria não pode assentar em baixos salários e instabilidade.
Acreditamos que a indústria em Cerveira será um verdadeiro motor de desenvolvimento se valorizar quem nela trabalha e se for pensada para o futuro e com sustentabilidade.
Propomos melhorar as condições de transporte público e a ligação entre as freguesias e o parque industrial, garantindo acessibilidade a quem trabalha; exigir que os apoios públicos estejam condicionados ao respeito pelos direitos laborais e à criação de emprego com qualidade; e incentivar práticas industriais mais sustentáveis, que reduzam custos energéticos e protejam o ambiente.
RVM – Que ideias tem para a saúde?
PM – Na área da saúde, Vila Nova de Cerveira continua a enfrentar graves carências que não foram resolvidas neste mandato. A falta de médicos em unidades como a de Covas, que esteve 10 meses sem resposta, a sobrecarga do centro de saúde e as dificuldades de acesso para a população mais idosa ou residente nas freguesias mais afastadas são exemplos claros da falha em garantir cuidados de proximidade.
Ao mesmo tempo, a requalificação do centro de saúde tardia, deixa utentes e profissionais em condições pouco dignas.
Consideramos prioritário assegurar médicos e equipas de saúde permanentes em todas as unidades do concelho; requalificar de forma urgente o centro de saúde, dotando-o de melhores condições de trabalho e atendimento; e reforçar as extensões de saúde das freguesias, com horários adequados e consultas regulares.
É igualmente fundamental melhorar a mobilidade, garantindo transporte público acessível para quem tem de se deslocar, e investir em áreas muitas vezes esquecidas, como a saúde mental e a prevenção das dependências.
Vemos a saúde como um direito que deve ser garantido a todos os cerveirenses, com serviços próximos, dignos e de qualidade, capazes de responder às necessidades da população em todas as fases da vida.
RVM – Que propostas tem para a cultura e desporto?
PM – Vila Nova de Cerveira é reconhecida pela sua riqueza cultural e pelo papel das artes na identidade do concelho, mas essa dimensão é muitas vezes tratada mais como cartaz turístico e menos como parte estruturante da vida comunitária.
Ao mesmo tempo, o desporto, apesar de contar com associações e práticas muito vivas, carece de melhores condições, espaços ao ar livre e maior apoio municipal para que inclua todos.
Acreditamos que é fundamental valorizar e proteger os artistas locais, garantindo apoios regulares e condições dignas para a criação e apresentação das suas obras, assim como integrar mais a cultura na vida quotidiana das freguesias e das comunidades.
Defendemos também a promoção de eventos culturais e desportivos de carácter comunitário, que aproximem as pessoas e reforcem a participação cívica.
No campo do desporto, importa investir em espaços acessíveis e seguros para a prática ao ar livre, apoiar clubes e associações, e criar programas que incentivem sobretudo crianças, jovens e seniores a praticar atividade física de forma regular.
A cultura e cultura desporto devem ser vistos como direitos e não como privilégio, pois são elementos essenciais para a qualidade de vida, para a coesão social e para afirmar o concelho.
RVM – Que propostas tem para a educação?
PM – Na educação, Vila Nova de Cerveira enfrenta dificuldades sérias que têm impacto direto no presente e no futuro do concelho.
A falta de professores em várias disciplinas tem deixado alunos sem aulas regulares, prejudicando o normal funcionamento do ano letivo.
Ao mesmo tempo, várias escolas básicas precisam de obras urgentes de manutenção e melhor acessibilidade, e mesmo a Escola Secundária, apesar das intervenções já realizadas, continua a apresentar problemas de conforto térmico, equipamentos desatualizados e espaços exteriores pouco aproveitados.
É necessária também a garantia de técnicos especializados, como psicólogos ou terapeutas da fala, essenciais para acompanhar alunos e famílias.
Entendemos como urgente exigir ao Governo o reforço imediato do corpo docente e técnico, garantindo estabilidade e qualidade pedagógica em todas as escolas do concelho.
Defendemos a requalificação completa das escolas básicas e secundária, assegurando espaços seguros, modernos e acessíveis. É igualmente necessário valorizar os professores e funcionários, reconhecendo o seu papel central na formação das novas gerações, e melhorar o acesso aos transportes escolares para que todas as crianças e jovens, independentemente da freguesia onde vivem, tenham as mesmas oportunidades.
A educação é a base de um projeto de futuro: investir nas escolas e valorizar os profissionais é investir na coesão social, no desenvolvimento integral de cada criança e jovem e na capacidade de fixar população em Vila Nova de Cerveira.
RVM – Qual o melhor destino para o Castelo de Cerveira?
PM – O Castelo de Vila Nova de Cerveira é um dos maiores patrimónios históricos do concelho e um símbolo da identidade local, mas continua a ser subaproveitado.
Durante este mandato, verificou-se alguma valorização pontual, mas sem um projeto estruturado que integre o castelo na vida cultural, educativa e social da população.
Na nossa perspetiva, o castelo não pode ser visto apenas como ponto turístico e muito menos transformado em hotel ou entregue à exploração privada; defendemos que seja preservado como um espaço público, aberto à comunidade e à participação cidadã.
Apesar do projeto do Estado português no âmbito do programa Revive, com contrato de concessão firme, a CDU apoia a reversão da concessão e a não emissão de alvará de construção, tal como pretendia o atual município, procurando novas soluções através de projetos europeus e iniciativas que valorizem o património sem o privatizar.
É essencial requalificar o espaço, garantir a sua conservação, acessibilidade e segurança, e dinamizá-lo com atividades culturais, educativas e sociais, envolvendo escolas, associações e a população em geral.
O castelo deve ainda ser integrado em circuitos de turismo sustentável e cultural, de forma a gerar valor económico sem descaracterizar o espaço histórico.
Portanto o melhor destino para o Castelo de Cerveira é sem dúvida torná-lo um espaço vivo, aberto à comunidade, que valorize a história e a cultura local, promova a participação cidadã e contribua para o desenvolvimento cultural, educativo e social do concelho, mantendo-o como patrimônio público e símbolo de todos os cerveirenses.
RVM – Que mensagem deixa ao eleitorado?
PM – A mensagem que queremos deixar aos cerveirenses é clara: a CDU apresenta-se a estas eleições com determinação, ideias renovadas e cheia de energia e vontade de transformar Vila Nova de Cerveira.
Queremos um concelho que olhe para o futuro, que valorize quem trabalha todos os dias e que ofereça oportunidades reais às novas gerações, garantindo que cada pessoa veja o seu esforço reconhecido e apoiado.
O nosso projeto não se limita a palavras bonitas: habitação, saúde, educação, cultura, desporto, comércio e indústria – todas as áreas são pensadas para que cada investimento reverta em benefício direto da comunidade.
Queremos transformar o concelho num espaço mais vivo, dinâmico e inclusivo, onde as pessoas sintam que podem construir o seu futuro e que as suas necessidades são realmente atendidas.
A CDU acredita que Vila Nova de Cerveira tem um potencial gigante. Estamos prontos para agir com coragem, determinação e visão estratégica, garantindo que cada decisão municipal seja transparente, justa e centrada nas pessoas.
Pedimos aos cerveirenses que nos dêem a sua confiança e se juntem a esta caminhada, porque só juntos podemos devolver esperança, oportunidades e um verdadeiro futuro ao concelho.
Com a CDU, cada voto é um voto na competência, na honestidade e na valorização de todos os que constroem Cerveira com trabalho, dedicação e orgulho.”
[N.R – A Rádio Vale do Minho enviou, via email, 10 questões a todos os candidatos à presidência da Câmara Municipal deste concelho nas eleições autárquicas do próximo dia 12 de outubro. São publicadas as respostas daqueles que aceitaram o nosso repto]
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