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Alto Minho: Pela primeira vez fronteiras fecham duas vezes na mesma pandemia

30 Janeiro, 2021 - 11:02

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PUB Em mais de um século, não há registo de episódio semelhante. Pela primeira vez, várias fronteiras terrestres de Portugal com Espanha vão fechar/ser controladas duas vezes na mesma pandemia. […]

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Em mais de um século, não há registo de episódio semelhante. Pela primeira vez, várias fronteiras terrestres de Portugal com Espanha vão fechar/ser controladas duas vezes na mesma pandemia.

O episódio mais remoto do encerramento de fronteiras com o país vizinho remonta a junho de 1885 quando o nosso País estava a ser ameaçado por um surto de cólera que assolava a Europa.

O terror voltou a instalar-se entre o povo. Ainda não tinham sido curadas a feridas deixadas pela pandemia da mesma doença que tinha afetado o país em 1833 e cujo número real de vítimas nunca chegou a ser apurado.

O Ministério do Reino não perde tempo. Envia de imediato aos Governadores Civis “desinfetantes e repete-lhes os procedimentos a seguir, desde o isolamento militar do local, se confirmada a suspeita de cólera, ao uso de água fervida, à limitação de toda a atividade económica que implicasse comunicação de bens e pessoas entre Portugal e Espanha”, conforme refere a historiadora Laurinda Abreu, em A luta contra as invasões epidémicas em Portugal: políticas e agentes, séculos XVI-XIX.

Entra em atividade um enorme cordão sanitário de fronteira. Valença dispara o alerta vermelho. A ponte estava prestes a ser inaugurada e as passagens entre os dois países pelo rio Minho eram ainda feitas de barco. Tudo adiado.

A normalidade só regressou ao Vale do Minho em 1886 e, consequentemente, ao resto do país. As populações voltaram às suas lides no rio Minho. “Os cordões sanitários iam sendo levantados mas mantendo o serviço telegráfico, não fosse registar-se algum recrudescimento da epidemia”.

A 25 de março desse ano foi finalmente inaugurada a ponte internacional. Estava pronta desde 10 de outubro de 1884.

 

 

1918… Valença fechou a ponte mas de pouco valeu

 

 

Ainda o Vale do Minho não tinha esquecido a epidemia de cólera que levou em 1885 ao fecho da fronteira, quando rebentou na Europa e em todo o mundo um outro vírus. Tão ou mais perigoso do que aquele que há três décadas tinha trazido o medo ao Alto Minho. Estávamos em 1918. A pneumónica – também conhecida como gripe espanhola – estava a ceifar vidas aos milhares por onde passava.

Veio de Espanha, conta-se. O primeiro caso confirmado em Portugal surge no final de maio desse ano, em Vila Viçosa. O contágio rapidamente se alastrou até ao norte. A medicina de então desconhecia por completo o vírus, que deixava um rastro de morte por onde passava.

“A doença varreu o país a uma grande velocidade, tanto assim que a falta de caixões para os funerais foi um dos resultados imediatos, o que fazia que muitas famílias os comprassem por antecipação e guardassem debaixo das camas onde os seus membros agonizavam”, escreveu o Diário de Notícias no ano em que passaram 100 anos sobre este flagelo.

O vírus entrou no Vale do Minho sem travões. A ponte centenária de Valença é imediatamente fechada com ordens vindas de Lisboa. Mas foi Vila Nova de Cerveira a sofrer as primeiras vítimas. Estávamos em outubro.

A Gripe de 1918 (Gripe Espanhola) foi uma pandemia que atingiu quase toda a parte do planeta. Foi causada por uma estirpe do vírus Influenza, no subtipo H1N1. Estima-se que tenha causado perto de 100 milhões de mortos em todo o mundo.

Em Portugal o número oficial de vítimas foi superior a 60 mil.  Entre estas, os irmãos Jacinta e Francisco Marto, pastorinhos de Fátima.

 

 

2020… e as fronteiras voltam a fechar

 

 

Foi em março do ano passado que foi detetado o primeiro caso de COVID-19 em Portugal. A pandemia chegou ao Vale do Minho no dia 14. Dois dias depois, as fronteiras terrestres com Espanha encerram. A passagem ficou limitada à ponte nova daquela cidade com autoridades de ambos os países a realizarem o controlo. A reabertura só viria a acontecer três meses depois, após uma descida considerável dos casos ativos em ambos os países.

 

 

… outra vez

 

 

No entanto, a atual pandemia começou a seguir um trajeto diferente da última a partir do Natal. Em 1918, a vaga mais intensa da gripe pneumónica foi a segunda. Isso não aconteceu na circunstância atual. A terceira vaga da nova doença está a mostrar-se a mais violenta até agora. O Governo português viu-se obrigado a tomar medidas.

A partir deste domingo, vários pontos de fronteira em todo o país vão ser totalmente encerrados. Um deles é a ponte centenária de Valença. Outros vão ser parcialmente abertos. Os poucos que restam, irão ser controlados 24 horas por dia.

Em Valença, fecha totalmente a Ponte Velha (centenária). A passagem irá fazer-se pela ponte nova com controlo 24 horas por dia.

Em Monção, a fronteira com Salvaterra de Miño irá estar aberta no período compreendido entre as 7h00 e as 9h00 e entre as 18h00 e as 20h00.

Em Melgaço e Vila Nova de Cerveira, fecham todas as passagens para a Galiza. Os trabalhadores transfronteiriços nestes concelhos terão, por isso, de optar entre Monção ou Valença para efetuar a travessia nas próximas semanas.

Recorde-se que o fecho de fronteiras foi anunciado na passada quinta-feira. Acontece a partir deste próximo domingo, em virtude da evolução da crise de saúde pública em Portugal.

Desta forma, será o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) a realizar o controlo fronteiriço e a Guarda Nacional Republicana (GNR), ficará encarregue de vigiar os postos de passagem autorizados.

 

[Fotografia: Arquivo / Rádio Vale do Minho]

 

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