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Monção

Tim cantou e encantou em Monção. Vocalista dos ‘Xutos’ esteve à conversa com a Rádio Vale do Minho

23 Março, 2025 - 03:51

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“Estava mesmo muito calor”, disse-nos Tim, com uma gargalhada, quando lhe recordamos o concerto dos Xutos&Pontapés em 2023, na Feira do Alvarinho de Monção. Mas o vocalista guardou boas memórias desse espetáculo… e de Monção.

Recebeu à Rádio Vale do Minho nos camarins do Cine Teatro João Verde, horas antes de subir ao palco para – a solo – levar ao público o espetáculo Canta-me Histórias, que anda a percorrer o país.

 

A ideia surgiu em 2023. Tim percebeu que por trás de cada letra que tinha escrito havia sempre uma história para contar.

 

“Fiz um concerto de beneficiência no Porto, onde cantava cinco ou seis músicas e depois falava um bocado sobre a minha carreira. Correu bem”, contou.

 

Tim lançou depois o desafio à produção. O espetáculo voltou a acontecer, mas em Lisboa.

 

Depressa começaram a chover pedidos de outros locais. “Daí até aqui foi um pulinho”, disse.

 

“Tem corrido muito bem. Tem sido uma experiência muito interessante. É um espetáculo mais direto… onde estou mais perto do público. E acabo por percorrer estas salas todas”, prosseguiu o vocalista mais do que habituado em tocar em grandes recintos e pavilhões.

 

Durante o espetáculo, Tim passa não só por temas dos ‘Xutos’ mas também pelos Resistência, Rio Grande e até temas da sua carreira a solo.

 

“Canções puxam histórias… histórias puxam canções e quando damos por ela o espetáculo já acabou”.

 

 

Tim durante os ensaios no Cine Teatro João Verde, em Monção

[crédito fotografia: Rádio Vale do Minho]

 

 

Como nasceram os Contentores

Uma das histórias mais curiosas que Tim vai contando aconteceu “num dia em que eu estava com obras em casa. Tinha casado há pouco tempo”.

 

Porém, enquanto as obras decorriam, o vocalista ia aperfeiçoando uma música na guitarra. Assim nasceu, em 1992, o tema O que foi não volta a ser. 

 

 

 

 

 

Voltamos a trazer para cima da mesa o concerto épico na Feira do Alvarinho.

 

O tema Contentores era um dos mais aguardados pelo público, como aliás acontece em todas as atuações dos ‘Xutos’.

 

“O lado musical desse tema aparece numa altura em que estávamos a ensaiar em Pedrouços, com o equipamento de uma outra banda. O guitarrista dessa banda tinha uma pedaleira que dava para fazer uns efeitos. Liguei o baixo a essa pedaleira…” e pronto. Acabava de nascer, em 1987, a base dos Contentores.

 

E a letra? De onde vem a mensagem? “Nessa altura eu estava a fazer um trabalho para a escola nos silos de Lisboa. Aí havia um parque para contentores de embarque. Isso tudo junto provocou-me aquela sensação de partida”.

 

 

 

 

Em tom pragmático, Tim rejeita qualquer carga nostálgica no Canta-me Histórias.

 

“Há, isso sim, uma espécie de revelação. Mostrar outros bocados da minha vida que as pessoas pouco conhecem. Sempre pela positiva. Nunca pelo saudosismo”, explicou.

 

 

 

[crédito fotografia: Rádio Vale do Minho]

 

 

“Sinto que existe falta de vontade de fazer diferente”

Questionado sobre o panorama da música nacional e internacional, o líder dos ‘Xutos’ mostra-se feliz por hoje, em Portugal, existirem “mais sítios para se tocar que era o que mais faltava” nos primeiros anos daquela que é considerada a melhor banda rock de Portugal.

 

Mas os tempos também mudaram noutro sentido. Atualmente, com dois ou três cliques, é possível fabricar uma música através de inteligência artificial.

 

“O que existe também é uma espécie de repetição de fórmulas, de modo a que as coisas ficam todas um bocado parecidas”, lamentou o artista que vem de tempos em que “cada um tinha o seu cunho e a sua individualidade”.

 

“Hoje em dia, a individualidade perdeu-se muito. Os objetivos são semelhantes, que é pôr o público a cantar. Muitos fãs… e isso passa-se nacional como internacionalmente”, considera Tim.

 

Ato contínuo, o vocalista exemplificou com um recente estudo divulgado pela Universidade de Innsbruck, na Áustria.

 

Foram analisadas mais de 12 mil canções em língua inglesa de rap, country, pop, R&B e rock, de 1980 a 2020.

 

Uma das principais conclusões é a de que, conforme noticiou o jornal The Guardian, “as letras das músicas estão a tornar-se mais simples e repetitivas”.

 

“A mensagem passa hoje um pouco pela coitadinha, ou ele é o desgraçado que não gosta dela, ou ela que quer mas não consegue falar com eleperdeu-se a intensidade e uma espécie de arrogância”, avalia o músico.

 

“Sinto que existe falta de irreverência. Falta de vontade de fazer diferente”, concluiu Tim à Rádio Vale do Minho.

 

A hora do espetáculo aproximava-se. Aos 64 anos de idade, Tim voltou a cantar e a encantar Monção.

 

Arrebatou aplausos num auditório do Cine Teatro praticamente cheio em mais um momento memorável.

 

Este espetáculo esteve a cargo do Município de Monção.

 

 

[crédito fotografias capa: cedidas à Rádio Vale do Minho]

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