Super Lua ‘sangrou’ nos céus do Alto Minho

Passavam poucos minutos após as três da manhã. As ruas de Monção estavam totalmente mergulhadas no silêncio. Enquanto a vila dormia, a rádio Vale do Minho andou pelas ruas debaixo de um céu estrelado onde decorria o auge de um raro fenómeno celeste: o eclipse de uma Super Lua. O início do evento tinha arrancado uma hora antes. Começou com uma pequena ‘franja’ escura no cimo do disco lunar. E desde aí foi sempre a desaparecer. Mas poucos… muito poucos a olhar para cima no berço do Alvarinho. As responsabilidades de uma semana de trabalho falavam mais alto.
A lua ganhava agora uma tonalidade castanha. Do branco já pouco restava. Assemelhava-se a uma ‘pintarola’ gigante feita de chocolate com uma ponta de baunilha. O fenómeno começava a ganhar tanto de estranho como de belo, sobretudo para quem nunca o tinha presenciado ao vivo. E a vila dormia. Silêncio total e ruas desertas. Apenas a rádio Vale do Minho a vaguear entre o amarelado dos candeeiros que teimavam em competir com o que se passava no firmamento.
Finalmente, no cimo de uma das artérias, encontrámos André Marinho que fechava as portas do café que gere há vários anos. Uma última volta à chave e não resistiu a dar uma espreitadela ao céu. “É realmente muito bonito. É um fenómeno único!”, disse à conversa com a Vale do Minho. “É efetivamente um espetáculo maravilhoso que os astros estão a proporcionar-nos hoje”, acrescentou enquanto observava a lua que começava – conforme prometido – a adquirir o tom avermelhado. Eram 3h25. O eclipse tinha entrado no seu ponto máximo. O Alto Minho estava debaixo da mítica ‘Super Lua Sangrenta’.
Meia hora depois, a primeira ponta do conhecido branco frio lunar reapareceu. E daí até ao final do evento foi mais de uma hora. Recorde-se que eclipse lunar não é um fenómeno raro. Mas a conjugação de um eclipse total (que deixa a lua completamente na sombra) e de uma Super Lua (que ocorre quando a lua cheia ou nova encontra se encontra mais próxima da Terra) é um acontecimento que não pode ser visto muitas vezes na vida: um eclipse total de uma Super Lua não ocorria desde 1982, voltará apenas a repetir-se em 2033 (e no século XX registaram-se apenas cinco).