“A interioridade não nos pode desanimar. Nem pode servir apenas para reivindicar compensações por desvantagens que a combinação da geografia e da história possam representar”. As palavras foram proferidas esta sexta-feira pelo presidente da Câmara de Paredes de Coura, durante a Sessão Solene de Abertura das comemorações dos 500 anos da atribuição do Foral Manuelino a Paredes de Coura. Na ‘mira’ das palavras de Vítor Paulo Pereira, esteve novamente o mapa «Portugal de Baixa Densidade». O documento, recentemente aprovado pelo Governo, coloca Paredes de Coura entre os 164 municípios em risco de envelhecimento e desertificação. Dos 10 concelhos do Alto Minho, ficam apenas de fora Caminha, Ponte de Lima, Valença e Viana do Castelo. “O mais perigoso no meio disto tudo é a irracionalidade e a falta de visão. Os concelhos que estão no topo do ‘ranking’ poderão adormecer à sombra da gordura estatística. Os restantes continuarão a acreditar que podem viver da piedade e das ‘esmolas’ do Terreiro do Paço, quando nem uns nem outros percebem que a importância de cada território não se deve ao que somos mas ao que fizermos no futuro”, salientou Vítor Paulo Pereira.
Refira-se que, de acordo com este novo mapa, os Municípios que integram esta lista vão ter direito a cuidados especiais, após o Governo ter definido três fórmulas de discriminação favorável. De acordo com o jornal Público, “em primeiro lugar, serão privilegiados com programas aos quais só eles poderão concorrer; em segundo, haverá bonificações na apreciação das candidaturas; e, terceiro, se em causa estiver um investimento privado, haverá lugar a uma bonificação de 10% face aos valores praticados nas outras áreas do país”, refere aquele jornal. Vítor Paulo não se conforma com o que já chamou de “piedade”. Esta sexta-feira, o edil socialista voltou à carga e sublinhou que “Paredes de Coura não precisa da piedade do Estado. Precisamos é de justiça. Precisamos que o Estado olhe para os chamados territórios de baixa densidade com respeito e que acredite que neles vivem pessoas com iniciativa”, disparou o autarca. “Esse mesmo Estado tem de acreditar que há gente capaz de construir este desenvolvimento. Não queremos que o Estado nos dê um futuro. Nós queremos é escolher o nosso futuro! Queremos que o Estado seja nosso parceiro, que tenha confiança em nós e não esteja todos os dias a manifestar descrença”, rematou Vítor Paulo Pereira.
Festas vão prolongar-se até domingo
Após a sessão solene, a manhã foi também marcada pelo lançamento do livro “Tempos da Terra de Coyra”, de José Augusto Pacheco. Durante a tarde deste primeiro dia decorrem nos vários equipamentos culturais da vila as sessões “Courenses à Conversa” dirigidas às escolas. Um conjunto de oradores das mais variadas áreas profissionais fala aos alunos da sua atividade e da ligação a Paredes de Coura.
Tiago Brandão Rodrigues (investigador num centro de investigação em oncologia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido); João Carvalho (diretor da “Ritmos” e co-fundador do Festival de Música de Paredes de Coura); Liliana Guerreiro (designer de joias, participou, a convite do Museu de Arte e Design de Nova York, no Loot Mad about Jewelery); João Brandão Rodrigues (docente na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias); Manuel António Antunes da Cunha (professor Auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica); Susana Serer Viana (integra a Guess WhatComunicação); Ilídio da Silva Barbosa (chefe executivo de cozinha no hotel “Sheraton”, no Porto; Teresa Pereira Cunha (especialista em voluntariado e tradutora de Tradutora de Português – Tétum/ Tétum – Português/ Inglês – Tétum); Rita Barbosa (docente no Curso de Música Silva Monteiro, no Porto, onde leciona guitarra clássica); Maria Angelina Sá Palma (investigadora auxiliar e investigadora da FCT da Universidade Nova de Lisboa); Sara Raquel (médica); Alberto Figueiredo (engenheiro civil de projetos nacionais e internacionais) e vários elementos da “Terra Amada” (página existente no facebook) partilham experiências profissionais e de vida com as turmas (9º, 10º, 11º e 12º anos).
Às 17h00, realiza-se uma conferência alusiva ao Foral Manuelino, propondo duas comunicações sobre o documento histórico, a cargo dos credenciados universitários, José Marques e José Viriato Capela. Este momento conta ainda com a atuação dos alunos de Paredes de Coura que integram a Academia de Música de Viana do Castelo.
O Centro Cultural acolhe, às 21h30, a tertúlia “Conversas à Roda de Coura”, com moderação de Miguel Ribeiro, jornalista da SIC.
O espetáculo do duo Carlos Bica e João Paulo Esteves Silva encerra este primeiro dia de comemorações.
Sabádo terá uma “visita inédita”
No sábado, no Centro Cultural de Paredes de Coura vai receber “uma visita inédita e inesperada”. «Uma Visita Real» é um filme-concerto realizado por Nuno Alves e José Guilherme Marques com música ao vivo interpretada pelo Space Ensemble com a participação da comunidade Courense. O trabalho resulta de residência artística realizada nas férias da páscoa e de colaborações com as associações.
Ao longo de todo o fim-de-semana haverá ainda a recriação de uma feira quinhentista (no sábado) e folclore (no domingo), entre muita animação.
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