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Ainda o Vale do Minho não tinha esquecido a epidemia de cólera que levou em 1885 ao fecho da fronteira, quando rebentou na Europa e em todo o mundo um outro vírus. Tão ou mais perigoso do que aquele que há três décadas tinha trazido o medo ao Alto Minho. Estávamos em 1918. A pneumónica – também conhecida como gripe espanhola – estava a ceifar vidas aos milhares por onde passava.
Veio de Espanha, conta-se. O primeiro caso confirmado em Portugal surge no final de maio desse ano, em Vila Viçosa. O contágio rapidamente se alastrou até ao norte. A medicina de então desconhecia por completo o vírus, que deixava um rastro de morte por onde passava.
“A doença varreu o país a uma grande velocidade, tanto assim que a falta de caixões para os funerais foi um dos resultados imediatos, o que fazia que muitas famílias os comprassem por antecipação e guardassem debaixo das camas onde os seus membros agonizavam”, escreveu o Diário de Notícias no ano em que passaram 100 anos sobre este flagelo.
“As deploráveis condições de vida, agravadas pelos efeitos da I Grande Guerra, facilitaram a rápida propagação da gripe, a par de outros fatores, como o desconhecimento da assepsia, o acesso limitado a fármacos ou a inexistência de antibióticos”, explica a investigadora Alexandra Esteves em O Impacto da Gripe Pneumónica em alguns concelhos do Alto Minho.
Mas de onde vinha? Nunca se soube ao certo. Há quem defenda que o vírus veio da Ásia. Outros apontam cidades europeias como Brest ou Bordéus. Mas também há estudos a colocar os Estados Unidos da América como o local onde surgiram os primeiros casos.
Vale do Minho e resto do país em estado de sítio
O vírus entrou no Vale do Minho sem travões. A ponte centenária de Valença é imediatamente fechada com ordens vindas de Lisboa. Mas foi Vila Nova de Cerveira a sofrer as primeiras vítimas. Estávamos em outubro daquele ano.
“Em Vila Praia de Âncora, o cenário continuava preocupante; em Monção, as vítimas eram às centenas; na freguesia de Lanhelas, concelho de Caminha, os doentes eram mais de 150; na capital do distrito, o panorama parecia mais animador, permitindo, inclusive, a reabertura das igrejas”, refere a investigação.
O mês seguinte foi fatídico para Valença. “A epidemia continuava a grassar com intensidade. Do outro lado do rio Minho, na Galiza, contavam-se 8.000 infetados e as comunicações entre os dois países continuavam suspensas”.
“Imediatamente após as primeiras mortes ocorridas em Monção, foram lançadas medidas para conter o seu alastramento, que passavam pelos cuidados com a higiene pessoal e o asseio da casa e pela recomendação de recorrer a apoio médico logo que surgissem os primeiros sintomas”.
Monção numa aflição
Em finais de 1918, faltava praticamente tudo em Monção. “Escasseavam bens essenciais como arroz, açúcar, carvão, azeite e petróleo”, prossegue a autora. O cenário era desolador e propício para um vírus que preferia vítimas jovens.
De acordo com Alexandra Esteves ingressaram no hospital de Monção 68 doentes entre outubro de 1918 e 1919. Desses, 33 tinham idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos e 15 tinham menos de 20 anos.
Melgaço mergulhada em situação dramática
Em outubro de 1918, o cenário no Município mais a norte ia de mal a pior. Valter Alves, professor e investigador da história deste concelho, conta no seu Blog Melgaço: Entre o Minho e a Serra, que o jornal A Gazeta do Lima noticiou nessa altura que no concelho “as cousas se encontravam n’um estado pavoroso, pois até os enfermeiros da Misericórdia tinham fugido abandonando os doentes, foi uma columna da delegação da Cruz Vermelha d’esta cidade para fazer serviço n’um hospital de campanha que se instalou na casa da Escola”.
A maior parte das pessoas doentes da vila recusava ir para o Hospital da Misericórdia. “Nota-se neste concelho uma grande repugnância que não tem razão de ser. É a repugnância que muitos doentes sentem em ir para o hospital e essa repugnância vem de se dizer que lá só dão aos doentes leite e caldo e alguns querem presunto no Inverno e salada no Verão”, noticiou o Jornal de Melgaço em novembro desse ano.
Caminha tomada pela miséria
Em Caminha, no Hospital de Nª Srª da Visitação, a tragédia começava a tomar conta de tudo e de todos. “As carências de toda a ordem que atormentavam o seu quotidiano expunham-nos a todo o género de enfermidades, nomeadamente do foro dermatológico e respiratório”, descreve a investigadora Alexandra Esteves.
Nas enfermarias, proliferava gente ligada ao campo e à faina no mar. Um “elevado número de marinheiros, pescadores, barqueiros e remadores hospitalizados. Os militares foram igualmente atacados pela pneumónica, obrigando ao internando de cinco soldados”.
Valença pedia socorro pelos jovens
Implacável, a pneumónica avançava em Valença e – sem fugir à regra – preferia os mais jovens. Cerdal, Taião, Friestas, Gondomil e Boivão estavam entre as freguesias mais afetadas.
“Em 27 de outubro de 1918, já tinha causado vítimas, todas elas muito jovens. Em Fontoura, nesse mês, já havia mais de 50 pessoas contagiadas e algumas mortes, sobretudo de crianças e jovens mulheres”, conta a investigadora.
Com a doença a alastrar, o Município decide implementar medidas: “ruas e casas foram lavadas; fizeram-se defumações; quinino, sinapismos e folhas de tília foram distribuídos pelos empregados da linha férrea do Minho; a equipa médica foi reforçada com dois médicos. O administrador do concelho apelava à solidariedade dos valencianos para que ajudassem as famílias pobres atingidas pela epidemia”.
Mas no Hospital Civil o cenário era desolador. Faltavam profissionais de saúde, medicamentos e diversos produtos associados à composição de mezinhas. As orações passavam a ser o único recurso que não escasseava. “No concelho de Valença, foram várias as manifestações desta religiosidade comprometida, que fazia eco da ideia de que a pneumónica era um castigo de Deus”.
Vila Nova de Cerveira não escapa
Foi em outubro de 1918 que a pneumónica fez as primeiras vítimas em Vila Nova de Cerveira. No entanto, um mês depois, o quadro era diferente em todo o Vale do Minho. Enquanto vários concelhos eram flagelados, “em Vila Nova de Cerveira, a doença grassava com menos intensidade”.
Mas morreu gente. De acordo com os dados desta investigadora, o distrito de Viana do Castelo não ficou imune a este cenário de diminuição da população. Em 1911, tinha cerca de 227.250 habitantes, mas em 1920 desceu para 226.046.
Paredes de Coura obrigada a milagres num reduzido hospital
Como se já não bastassem os acessos difíceis, os courenses estavam a braços com complicações ao nível de espaço. Em outubro de 1918, “o hospital de Paredes de Coura chegou a receber mais de 40 pacientes, excedendo a sua capacidade. Tratava-se de uma instituição relativamente recente, datada da década de 80 do século XIX”.
Refere Alexandra Esteves que a doença teve ainda mais impacto “nas zonas rurais, mais isoladas, onde a ajuda médica dificilmente chegava e as recomendações sanitárias não eram escutadas”.
Quase 100 milhões de mortos em todo o mundo
A Gripe de 1918 (Gripe Espanhola) foi uma pandemia que atingiu quase toda a parte do planeta. Foi causada por uma estirpe do vírus Influenza, no subtipo H1N1. Estima-se que tenha causado perto de 100 milhões de mortos em todo o mundo.
Em Portugal o número oficial de vítimas foi superior a 60 mil. Entre estas, os irmãos Jacinta e Francisco Marto, pastorinhos de Fátima.
No Vale do Minho, não existem dados precisos mas Alexandra Esteves conclui de forma clara. “Foi uma gripe que levou muita gente em Melgaço, Monção, Valença e Cerveira, bem como nos concelhos de Paredes de Coura e de Viana do Castelo”.
[Fotografia: Pandemia 1918 / Direitos Reservados]
Se não queremos que aconteça algo parecido; é todos aproveitarmos, a falta de experiência dos outros, relatada daqueles tempos, para que nos sirva de lição para nós Hoje. Porque a maior vantagem que temos, é a de aprender com os erros dos outros, para não sofrermos o mesmo que Eles. Se não aprendermos com os erros dos outros, sairá muito mais caro, com muito maior sofrimento, aprendermos só com os nossos próprios erros. Há que ficar em casa quem poder, e há que se proteger o mais possivel quem tiver de sair de casa. Vai Tudo Acabar Bem, se Bem fizermos por isso.
É verdade a minha avó contava que era muito triste as pessoas agonizava vão até o pulmão estourar sair sangue pela boca pelo ouvido e pelo nariz foi muito difícil há 100 anos atrás a gripe espanhola foi um desastre Mundial a minha avó passou por isso o que Deus hoje a tenha.
A minha avó contava que eram famílias inteiras que morriam, não havia caixões eram embrulhadas em lençois,eram enterradas a toda a pressa, dizia que muitas estavam com tanta febre, que pensavam que estavam mortas e eram enterradas ainda com vida.
Felizmente que a MEDICINA hoje em dia está muito mais avançada e o homem tem outras e mais defesas, não nos podemos esquecer que nessa era tinha acabado a 1ª guerra mundial que foi um genocidio. Assim devemos dar muita atenção a todas as recomendações que hoje nos são transmitidas e fazer compreender aos outros mais distraidos que o cumprimento de uns é a segurança de todos. Tenham um bom fim de semana e fiquem em casa, melhores tempos virão.
A minha bisavó contava que na akdeia dela so ela e pouco mais tinha resistido. So is fortes resistiram. Morria gente queimavam a cama as roupas e apartava se os utensílios. Os mortos eram entereados pelos habitantes em valas
A minha avó contava que na ânsia de enterrar os mortos, algumas pessoas foram enterradas vivas
lembro de ouvir os meus avós falarem dessa pandemia como sendo pneumónica depois da Grande Guerra. Os meus avós moravam junto a um cemitério e nas palavras da minha avó foi um horror viver, vários meses, naquele lugar. Mesmo fechados em casa viam e ouviam os gritos das famílias. Os caixões não chegavam. Grande parte dos mortos eram enterrados em valas… carregados em paviolas pelos cangalheiros. Isabel