PUBLICIDADE
3
AVANÇAR

Menu

+

0

0

Destaques
Paredes de Coura

P. Coura: Fugiu de uma Venezuela à beira do abismo – Trouxe uma mala cheia de sonhos

7 Novembro, 2019 - 10:27

709

3

PUB Chama-se Gabriella. Tem nome de telenovela mas a vida desta jovem venezuelana de 20 anos podia dar um filme, ainda por terminar e à espera do final mais feliz. […]

PUB

Chama-se Gabriella. Tem nome de telenovela mas a vida desta jovem venezuelana de 20 anos podia dar um filme, ainda por terminar e à espera do final mais feliz.

Decidiu deixar o país onde nasceu, onde a tensão está a atingir níveis nunca antes vistos. Na Venezuela, dois homens lutam pelo poder. O povo, esse, é sujeito a sacrifícios inimagináveis. Morre-se à fome. O sistema de saúde à beira do colapso. A onda de criminalidade aumenta.

Tal como muitos compatriotas, Gabriella Rodriguez decidiu fazer as malas. “Não foi nada fácil conseguir a passagem para Portugal. Quando lá estava tive de fazer muitos contatos para conseguir o passaporte. Nunca consegui”, contou à Rádio Vale do Minho.

Mas Gabriella tinha um trunfo na manga: a nacionalidade portuguesa. Tem avós naturais da Madeira e isso conferiu-lhe um passaporte com as nossas cores. Pediu então permissão para ausentar-se do país. O processo demorou mais de um ano. “Tive até de passar por uma entrevista onde me fizeram várias questões para ver se tudo isto era verdade”.

 

 

Finalmente… Coura!

 

Conseguiu. Estávamos nos primeiros meses deste ano. Para trás ficava um berço em auto-destruição. Pela frente, Gabriella já sabia para onde ia: Paredes de Coura. Já lá tinha alguns familiares. Disseram-lhe que aquela vila, em pleno Alto Minho, é calma, gente boa, e com excelentes condições de vida.

Já em solo português, começou por ficar alojada em casa de uns primos afastados que também tinham saído daquele país. Mas a prioridade era arranjar trabalho. Jovem e com inegável beleza física, não foi difícil servir ao balcão de um bar. Já era um começo.

Só que Gabriella queria mais. Sabia que podia dar mais, até porque frequentava a faculdade no país de onde veio. Passou a trabalhar na Doureca, prestigiada fábrica de componentes automóveis do concelho. “Já estou lá há uns cinco meses e estou a gostar. É um horário muito mais comodo”, avaliou.

 

 

“Pensava que me iam roubar”

 

Embora longe do pesadelo, os primeiros dias de Gabriella no Alto Minho não foram fáceis. Sentiu saudade e uma grande amargura. “Agora estou eu para aqui numa grande tranquilidade e a minha família que esta lá não tem nada”, desabafou. “Consegui arranjar um apartamento e na Venezuela tinhas de trabalhar anos e anos para conseguir isto ou mais pequeno que isto”, dizia enquanto abria um dos braços ao redor da sala de jantar onde nos recebeu.

A mudança de ambiente fez com que a jovem acentuasse ainda mais o que já sabia há muito. “O meu país está mesmo muito, muito mal”. Chorou. A saudade batia forte e o mundo de onde veio continuava a fazer parte da vida de Gabriella. “Quando saía de noite aqui sentia sempre medo. Cada vez que aparecia um carro ou uma moto, pensava que me iam roubar. Não sabia muito bem como agir. Sentia-me dependente de tudo”.

 

 

“Maduro destruiu o meu país!”

 

Os meses foram passando e Gabriella começou a adaptar-se. Na companhia da prima, com quem vive no apartamento alugado, vai sabendo das notícias que chegam de lá longe mas a apatia cresce. “Sinceramente não me interesso muito pela política do meu país. Nem poder, nem oposição. Nenhum tem feito nada!”, exclamou. “Maduro destruiu o meu país, mas o outro candidato ainda não fez nada diferente. É sempre a mesma coisa… acontece algo que te dá esperança mas logo a seguir termina de forma muito rápida”.

Corpo e alma da jovem parecem estar cada vez mais assentes no nosso Portugal. Adora fado e a gastronomia portuguesa. “Lembra-me muito os meus avós. Gosto de assados… e francesinha”, confessou com uma gargalhada à mistura. No entanto, Gabriella continua a não dispensar a culinária venezuelana.

 

 

“Já estou a refazer a minha vida aqui”

 

Escreveu José Saramago que “os sonhos seguram o mundo na sua órbita”. E Gabriella, que faz hoje parte da cerca de uma centena de pessoas que constituem atualmente a comunidade venezuelana de Paredes de Coura, sonha um dia ser modelo. Conhece bem o percurso já feito por Sandra Fernandes, jovem courense que vai dando cartas no mundo da moda. 

Voltar à Venezuela? “Só de visita. Já estou a refazer a minha vida aqui. Mas as coisas por lá terão de acalmar mais um pouco”, garantiu.

Vai falando mais alto um outro sonho: trazer o resto da família para Coura. “Tenho lá o meu pai, a minha mãe, tios e primos. Tenho esperança que o meu pai e a minha irmã venham para cá no princípio do próximo ano”, disse com um coração pleno de esperança.

E a mãe? “Ainda tem de fazer umas coisas por lá, mas virá também. A vida lá não é fácil”, concluiu.

 

[Fotografias: Gabriella Rodriguez / Facebook]

 

PUB

Últimas