De traje pelo corpo e ouro ao peito, 400 “orgulhosas” mulheres vão sair às ruas da cidade de Viana do Castelo, na sexta-feira, no habitual desfile da mordomia que abre mais uma Romaria d’Agonia.
É o caso de Primavera Matos, de 36 anos, que se estreou quando tinha apenas oito e que vai integrar o desfile com o típico traje azul, de mordoma, da freguesia da Meadela.
“É um traje lindo, que herdei da minha tia, com muitos anos. Tantos que ela própria chegou a usá-lo neste mesmo desfile”, explicou à agência Lusa.
Ao peito, como é de tradição, esta consultora de vendas levará ouro. Quase cinco quilos.
“Nestes anos todos nunca pesei as peças que levava. Só o fiz, pela primeira vez, em 2011 e foi uma surpresa. Tinha exactamente 4,475 quilos de ouro em mais de 40 peças. Este ano tenho mais algumas para colocar, por isso o peso também vai aumentar”, confessou.
É que nem só do traje, com as várias cores do Minho consoante a freguesia e o estatuto, vive este primeiro desfile da Romaria d’Agonia.
O ouro pelo peito destas mulheres é ?obrigatório’, variando apenas a quantidade. Por norma entre dois a três quilos em peças, pelo que ficou célebre o título de “chieira”, ou orgulho, com que estas mulheres se apresentam pelas ruas.
Primavera Matos também cumpre a tradição, com o ouro de família, emprestado pela mãe, pela avó e por uma tia-madrinha.
“Tenho uma peça, chamada de borboleta, que tem mais de 120 anos, que se destaca entre todas. É da minha avó, pertenceu à minha bisavó, e como sou a única neta, ficará um dia para mim. Imagino eu”, diz.
Naquela que é conhecida como a maior montra de ouro ao ar livre, várias mulheres ostentam peças antigas, quase todas com valor sentimental, outras que já nem se comercializam.
“Uma mulher de Viana que vá neste desfile está, sobretudo, feliz. E, claro, orgulhosa, da nossa tradição. São dias em que o trabalho fica para trás e só pensamos na festa”, conta ainda Primavera.
Com vários milhares de euros em desfile pelas ruas da cidade, a segurança é algo que preocupa e leva muitas mulheres a contratarem uma discreta, mas sempre presente, vigilância pessoal. Ainda assim receio é algo que não têm, até porque durante a festa a própria população “protege” as mordomas.
A Romaria d’Agonia de 2012 arranca sexta-feira, com este desfile, e prolonga-se até segunda-feira, 20 de agosto, feriado municipal.
A festa deste ano será subordinada ao tema da tradição doceira do concelho e prevê ainda uma homenagem ao escritor brasileiro Jorge Amado, que em 1981 foi agraciado como cidadão de mérito, precisamente no mês em que se assinala o centenário do seu nascimento.
Quanto ao Desfile da Mordomia, reza a tradição, é uma forma de os organizadores apresentarem cumprimentos às várias autoridades – Estado, autárquicas e eclesiásticas -, presentes na cidade.
A saída está marcada para as 10:00 de sexta-feira, como é hábito a partir do antigo Governo Civil, local em que, até 2010, se iniciavam os cumprimentos, sendo hoje, apenas, um local de concentração destas 400 mulheres.
Com os anos foi também crescendo o número de pessoas que assiste ao desfile, ao longo de três horas e hoje são aos milhares que se juntam por todo o percurso.
No centro das ruas estarão centenas de mulheres, acima de tudo orgulhosas.
“É algo que não dá para descrever, só quem lá está é percebe a sensação de descer a avenida dos combatentes e ter milhares e milhares de pessoas a ver a nossa tradição. É um verdadeiro orgulho”, remata a “mordoma” Primavera.
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