O presidente da Comissão Política Concelhia do PS Monção demitiu-se do cargo que ocupava há dois anos. Na origem da decisão, contou Manuel José Oliveira à Rádio Vale do Minho, esteve o resultado do plenário de militantes realizado na passada terça-feira. Uma reunião onde o tema principal em cima da mesa foi a análise dos números das últimas eleições autárquicas, em que os socialistas perderam a Câmara Municipal para o PSD. A derrota deixou uma marca profunda nos militantes e terão sido muitos dedos a apontar o nome de Manuel José Oliveira como o principal responsável deste desaire. “O problema é que se esqueceram de virar o dedo para eles próprios! Há muita gente no partido que está na posição de um necrófago. Alimentam-se da carcaça das presas para sobreviver no futuro. E eu não participo neste tipo de situações”, desabafou Manuel José Oliveira.
Manuel José Oliveira: “Há muita gente no partido que está na posição de um necrófago. Alimentam-se da carcaça das presas para sobreviver no futuro”.
Em tom irreversível, o presidente da concelhia socialista demissionário disse já ter comunicado a decisão ao presidente da Federação Distrital do PS, Miguel Alves e a todos os militantes por e-mail. Confessou ter já falado com o agora líder da oposição na Câmara Municipal, Augusto Domingues. “Reagiu de uma forma natural, dado que se trata de uma decisão pessoal. Mas estou certo de que Augusto Domingues estará comigo dado que é uma decisão que também tem muito em conta a lealdade que tenho para com ele”, realçou.
Manuel José Oliveira: “Levam-me a cabeça, mas não levam o meu cérebro!”
Visivelmente desiludido com a generalidade dos militantes, Manuel José Oliveira lamentou um plenário onde “tinha de rolar alguma cabeça”. As consequências estão à vista mas o presidente demissionário garante que o amor ao PS não acabou ali. “Levam-me a cabeça, mas não levam meu cérebro! Mas que não se esqueçam que a cabeça é só carcaça!”, exclamou em tom taxativo. “Não vi ninguém a apontar caminhos futuros [na reunião plenária]. A única coisa que surgiu foi o revanchismo, a falta de brilho e de brio”, disse.
Bancário de profissão (Financial Advisor), Manuel José Oliveira é militante do PS há sete anos. Foi presidente da Junta de Freguesia de Cambeses durante 12 anos. Em setembro de 2015 assumiu o leme da concelhia socialista na sequência de uma moção denominada “Juntos fazemos Melhor” apresentada em conjunto com Carlos Trancoso, que foi sufragada por unanimidade em plenário de militantes. Convidado a fazer o balanço destes dois anos, Manuel José Oliveira fala de “um trabalho muito duro” essencialmente causado por um partido dividido. “Não tínhamos estruturas. Vínhamos de duas demissões em Comissões Políticas. A Câmara estava em minoria. Recebi uma concelhia destroçada… sem rumo… sem consensos num partido completamente disperso”, recordou. “A verdade é que conseguimos pelo menos o feito de unir o partido, a ponto de chegarmos às eleições com força e a fazer comícios como nunca se fizeram em Monção. E tudo isto com recursos miseráveis”, sublinhou. “Tenho a certeza de que não cometi os erros de que eventualmente possam acusar-me de ter cometido durante a campanha eleitoral”, assegurou.
De rosto levantado e de olhos no futuro, Manuel José Oliveira garante que a sua ligação ao PS continuará sólida. “Esta demissão foi apenas um gesto simbólico. Um ‘recolher obrigatório’. Estarei cá sempre para ajudar a germinar e a ser germinado mas sempre numa ótica de ser desejado e nunca mal-amado”, concluiu.
As eleições na Comissão Política Concelhia do PS Monção estão marcadas para o próximo mês de janeiro. Para já, desconhecem-se quaisquer candidatos à liderança.
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