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Monção: Santo que combate a Coca pode ser, afinal… S. Miguel – Saiba porquê AQUI

10 Junho, 2020 - 15:59

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PUB O combate entre S. Jorge e o dragão repete-se todos os anos, em Monção. É um dos pontos altos das Festas do Corpo de Deus que, neste concelho, são […]

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O combate entre S. Jorge e o dragão repete-se todos os anos, em Monção. É um dos pontos altos das Festas do Corpo de Deus que, neste concelho, são popularmente designadas como Festa da Coca, aludindo ao nome com que foi batizado o animal. A tradição repete-se há tantos anos que ninguém sabe ao certo quando começou. Só que este ano não haverá duelo, devido às restrições implementadas devido à pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19).

A luta acontece sempre ao final da tarde de quinta-feira, feriado de Corpo de Deus, no anfiteatro do Soito. A multidão enche a arena e, evidentemente, todos torcem por S. Jorge – que, contrariamente ao dragão, simboliza o bem.

As regras são simples: num primeiro round, o Santo tem de espetar uma lança por três vezes na boca do animal. Depois, já munido de uma espada, tem de cortar uma das orelhas da Coca. Parece fácil, mas à medida que o combate avança, cavalo e cavaleiro têm de fazer cada vez mais esforço. Até porque a cabeça do dragão move-se para um lado e para outro, o que dificulta ainda mais a tarefa.

 

“Estar à coca”

 

“Dizem que a Coca era um monstro que outrora andava aqui nas águas do rio Minho e que apanhava as raparigas que encontrava na ribeira. Até que um dia, apanhou a mulher de S. Jorge”, contou o historiador José Hermano Saraiva em 1998, durante o programa televisivo Horizontes da Memória dedicado a Monção. “Claro que S. Jorge não gostou. Ficou muito zangado. E travou um grande combate com a Coca… e matou-a”.

Mas que verdade é que pode existir nisto tudo? Conta o historiador que “na Galiza existe o mesmo simbolismo da Coca”, dando exemplos de várias expressões galegas onde o termo se aplica como se fosse “um papão para meter medo”. E lança para a mesa a conhecida expressão “estar á coca”. “Porque o medo espreita-nos sempre”, disse.

 

S. Jorge poderá ser S. Miguel

 

Mas o que tem a Coca a ver com o Corpo de Deus? “Nada”, diz José Hermano Saraiva. E isso levou etnógrafos e investigadores a tentar perceber qual a origem deste episódio “aparentemente pagão” colocado numa celebração cristã como é o caso do Corpo de Deus.

“Durante o século 15 e talvez uma parte do século 16, havia duas procissões que eram obrigatórias e que se faziam perto uma da outra: uma era a do Corpo de Deus e a outra era a de S. Miguel”, explicou José Hermano Saraiva.

“S. Miguel era o chamado Anjo Custódio. Era o Anjo Protetor de Portugal. Os Reis de Portugal mandavam representar as cinco quinas no escudo que S. Miguel exibia. É o guarda dos céus que trava o combate com satanás”, explicou.

Ora, em tom dedutivo, o historiador recorda que este combate entre o anjo do bem e o anjo do mal foi muitas vezes teatralizado na idade média. “Como as duas procissões eram obrigatórias, começaram a incorporar o episódio da luta de S. Miguel nas celebrações do Corpo de Deus”.

Mas porque é que mudaram o nome ao Santo? “Por uma razão simples. S. Jorge passou a ser o patrono do nosso exército”, concluiu José Hermano Saraiva para quem esta tradição monçanense “poderá ser uma reminiscência do teatro medieval em que se representava a luta entre S. Miguel e lúcifer”.

 

Um dia em que a Coca venceu mesmo

 

Diz a lenda que, sempre que S. Jorge ganha, o ano será de boas colheitas e de bom vinho em Monção. E o Santo ganha praticamente sempre todos os anos. No entanto, o insólito já aconteceu. Há quase três décadas, Paulo Esteves, vereador pela oposição na Câmara Municipal de Monção, era uma criança quando presenciou o impensável.

“Lembro-me de um combate em que o cavalo se assustou com a Coca. O animal galgou a parte onde o público estava sentado. A Coca pode mesmo ganhar e isso é um facto. Nunca desejo isso porque, quando acontece, os presságios são de mau ano agrícola e de miséria”, contou o autarca à Rádio Vale do Minho.

O combate entre a Coca e S. Jorge foi este ano uma das candidaturas de Monção ao concurso das 7 Maravilhas da Cultura Popular. No entanto, não conseguiu a passagem à final distrital.

 

Veja o programa de José Hermano Saraiva em Monção (1998) AQUI.

 

[Fotografia: DR]

 

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