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Monção

Monção: “Fiquei cercado pelas chamas… vi a vida a andar para trás”

23 Abril, 2018 - 16:08

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Luís Manuel Cunha tinha sido eleito presidente da Junta da freguesia da Bela (ind.), em Monção, há apenas duas semanas. Não vai esquecer tão cedo o dia 15 de outubro […]

Luís Manuel Cunha tinha sido eleito presidente da Junta da freguesia da Bela (ind.), em Monção, há apenas duas semanas. Não vai esquecer tão cedo o dia 15 de outubro do ano passado. A tarde começou logo com um sobressalto. Disseram-lhe que uma das suas propriedades, na freguesia de Longos Vales, estava a arder. Foi para lá a toda a velocidade e, envolvido nas chamas, tentava com familiares salvar o que era possível. Mas o desespero fez com que o autarca não se apercebesse do que acontecia ao seu redor. “Fiquei praticamente cercado pelas chamas. Eu e os meus filhos”, contou aos microfones da Rádio Vale do Minho, em tom triste, durante o programa Radiografia.

O recém-eleito presidente de Junta teve mesmo de pensar rápido. “Vi a vida a andar para trás”, confessou. Chegou a temer pela vida num inferno que se tornava cada vez mais gigantesco e destruidor. “Decidimos meter por um caminho em que não víamos nada. Apenas fumo”, recordou. O instinto passou a guiá-lo. Sentiu que a única maneira de escapar era por ali. Estava certo.

 

 

Para trás ficava o fogo que levava tudo à frente. “Arderam-me as vinhas quase todas. Tentei salvar apenas o que foi possível”, prosseguiu. Voltou à freguesia da Bela, mas o cenário tornava-se dantesco. “Os bombeiros tinham cada vez mais dificuldade em intervir. Falhou a água e depois falhou a luz! Foi um inferno”. Enquanto isso, Monção ardia.

Cortada ao trânsito, a EN 202 tornava-se uma das portas para um cenário em que muitos se perguntam hoje como foi possível ter acontecido. Labaredas à esquerda e à direita. Gritos de aflição e sirenes de ambulâncias que não paravam de acudir. “Acho que vai levar bastante tempo até toda esta paisagem voltar a ser o que era antes. Talvez mais do que 10 anos e o que vai proliferar são os infestantes”, anteveu. “Muitos eucaliptos… giestas”, exemplificou o presidente de Junta que defende que a Câmara Municipal deveria realizar um plano de reflorestação nestas zonas mais afetadas através de árvores autóctones.

Recorde-se que os incêndios do passado dia 15 de outubro provocaram, só concelho de Monção, uma área ardida de 4.300 hectares. Foram atingidas 20 das 33 freguesias (antiga denominação administrativa) durante o período crítico de incêndios que teve início na noite de sábado e terminou na manhã de segunda-feira.
Além de animais mortos e alfaias agrícolas destruídas, contabilizaram-se 5 casas de primeira habitação ardidas mais um anexo com recheio de habitação, 28 edifícios devolutos, 51 anexos de apoio à agricultura e algumas empresas dedicadas à transformação de madeira e de pedra. Foram afetados 15 postos de trabalho.

A Radiografia com Luís Manuel Cunha repete na próxima quarta-feira às 22h00.