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Viana do Castelo

“Meio cultural” foi justificação para arquivar processo de menina de 14 anos grávida de nove meses

9 Maio, 2012 - 08:23

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Uma procuradora do Ministério Público considerou não haver qualquer medida de proteção adequada para uma rapariga de 14 anos, grávida de nove meses e “casada” com um rapaz de 16, dado o “meio cultural” em que se inserem.

Uma procuradora do Ministério Público considerou não haver qualquer medida de proteção adequada para uma rapariga de 14 anos, grávida de nove meses e “casada” com um rapaz de 16, dado o “meio cultural” em que se inserem.

O caso foi participado por uma escola de Darque à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Viana do Castelo, face à situação de “absentismo escolar” da menor, que na altura tinha 13 anos e já estava inserida numa turma de recuperação.

“A escola fez o que podia e o que lhe competia. Detetou a situação muito precocemente e comunicou-a”, disse hoje à agência Lusa Luís Braga, diretor do Agrupamento de Escolas de Darque.

Trata-se de um cenário recorrente na etnia cigana e que levou a procuradora a quem o processo foi entregue a decidir que, “atendendo ao meio cultural” no qual a criança está inserida, “não existe qualquer medida de promoção de proteção que se adeque à sua situação”, dispensando-a de frequentar as aulas.

No despacho, datado de 15 de novembro de 2011 e ao qual a Lusa teve hoje acesso, a procuradora admite que, “com toda a certeza”, qualquer decisão seria “incumprida pela menor” e, “porque à parte do absentismo escolar não existem outros fatores de risco”, decidiu-se pelo arquivamento do processo.

Isto porque, apesar da primeira intervenção da CPCJ, a criança e o “marido”, seu primo, que vivem no mesmo acampamento cigano onde nasceram, em Darque, mostraram-se “relutantes” e “recusaram” o regresso à escola.

“Sentia muitas dores e não conseguia ir à escola. Deixei totalmente de ir há mais de quatro meses, porque eu quis”, disse hoje à Lusa a menor, que completou 14 anos a 19 de fevereiro e que à luz do “cultura cigana” está “casada” com o rapaz, dois anos mais velho.

A criança, que hoje vive com o primo numa das dezenas de barracas de madeira improvisadas num terreno junto à Estrada Nacional 13, assegurou: “Apaixonei-me pelo meu marido”.
“Não tenho água nem luz e preciso de muitas coisas para a minha filha. Eu sei que é verdade”, admitiu, afirmando, no entanto, manter o desejo de concluir o sexto ano de escolaridade, mesmo com o parto previsto já para a próxima semana.

Luís Braga acredita, porém, que será possível a criança “terminar [o ano] com aproveitamento, porque a escola e alguns professores se disponibilizaram a ir ao acampamento, levando fichas de trabalho e ajudando”.

“Achámos que era isso que devíamos fazer, pelo menos do ponto de vista moral”, sublinhou.

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