“És de Portugal? Que giro… eu estive em Barcelona”. Esta foi uma das pérolas que Marta Paço ouviu durante a sua participação no Mundial de Para Surfing (ISA World Para Surfing Championship), na Califórnia, Estados Unidos da América.
Não. Não é mito. Segundo a nossa tetracampeã, a generalidade dos norte-americanos são mesmo maus em geografia.
Na Califórnia, Marta Paço ouviu trechos de arrepiar.
“Já fui aos Estados Unidos várias vezes e eu própria já desisti de os corrigir. Então digo sempre que sim”, disse a atleta de Viana do Castelo. Risos inevitáveis.
“Já me perguntaram se Portugal é no norte de África. E eu respondo sim… sim… sim“, prosseguiu. Nova gargalhada.
Mas os episódios rocambolescos de Marta Paço não se esgotam aqui. Um outo momento caricato aconteceu no ano passado, quando a atleta se deslocou até ao Havai.
Trata-se também de um estado norte-americano, mas é um arquipélago bastante isolado no oceano Pacífico.
“Fomos a uma loja de Rent-a-Car e fomos antendidos por um senhor. A certa altura começei a aperceber-me que ele achava que a Europa era um país e que os diferentes países europeus eram estados [não soberanos]”, contou.
“Ou seja, pensava que funcionávamos um pouco como os Estados Unidos da América”, explicou.
Marta Paço no Havai, em 2023
[crédito fotografia: Marta Paço]
São tudo histórias engraçadas que têm feito parte de viagens que terminam sempre da mesma forma: medalha de ouro. A passagem pela Califórnia, no início deste mês, não foi diferente.
Implacável, Marta Paço chegou à final e não perdoou. Brilhou. Foi mais imensa que todo aquele mar e alcançou o almejado tetracampeonato do mundo.
Marta Paço, no início deste mês, prestes a agarrar o tetra
[crédito fotografia: Marta Paço]
“É uma sensação difícil de explicar. Por um lado sinto-me muito orgulhosa. Estou muito feliz após ter conquistado mais este título. Por outro lado sinto-me com cada vez mais responsabilidade, e pressão para trabalhar mais e não deitar agora tudo a perder”, disse.
Sem rodeios, a atleta vianense foi taxativa.
“Claro que vou lutar pelo penta. Entre outras metas, é um dos meus objetivos do próximo ano”.
Marta Paço recebe o abraço emocionado do treinador, Tiago Prieto, após a conquista do tetra
[crédito fotografia: Marta Paço]
“Temos de começar a levar o desporto adaptado a sério”
Somar prémios e medalhas é, evidentemente, uma alegria para Marta Paço.
No entanto, a tetracampeã mostra-se preocupada dado que ainda há muito trabalho a fazer em Portugal no que diz respeito ao desporto adaptado.
“Acho que em Portugal ainda temos a mentalidade de que os desportos para pessoas com deficiência raramente são competitivos. São sempre numa perspetiva terapêutica, de inserção social”, lamenta.
“Temos de começar a apostar em levar o desporto adaptado a sério. Tornarmo-nos competitivos por forma a alcançar o nível em que outros países já estão”, defende.
“Temos de começar a apostar em levar o desporto adaptado a sério”, defende a cidadã de mérito de Viana do Castelo
[crédito fotografia: Marta Paço]
Número de fãs cresce cada vez mais
De norte a sul do País será raro o português que não conheça ou nunca tenha ouvido falar de Marta Paço.
Desde que venceu o primeiro campeonato do mundo e também a partir do momento que se tornou a mais jovem cidadã de honra de Viana do Castelo, o nome da atleta foi catapultado para a fama.
Sair à rua sem passar despercebida começa a ficar cada vez mais complicado. Mais minuto… menos minuto… há sempre fãs que se aproximam.
“Às vezes não sei muito bem como reagir. Depende de situação para situação, mas é algo que não me incomoda muito. É algo natural e as pessoas são sempre super simpáticas”, realçou.
Marta Paço soma fãs, é convidada para eventos e a todos responde com um sorriso
[crédito fotografia: Marta Paço]
Música, passeios e sonhar com o Circuito Mundial
Mas, para além do desporto, há também uma jovem. Uma belíssima moça do Alto Minho que ama o seu território. Que gosta de passear e de ouvir música.
“Gosto dos Capitão Fausto. E também dos Ornatos Violeta”, disse desde logo Marta Paço que, embora sendo de Viana do Castelo, conhece bem o Vale do Minho.
“Vou muitas vezes para essa zona passear com os meus pais”, prosseguiu.
E projetos para 2025?
“Gostava muito de fazer o Circuito Mundial de Surf Adaptado. Começa na Austrália, passa pelo Havaí, Escócia e Estados Unidos”, enumerou Marta Paço.
Trata-se de uma competição onde não há países. “Aqui os atletas não estão a representar países, como aconteceu no Mundial da Califórnia. É cada um por si”, explicou.
Marta Paço ambiciona realizar a totalidade do Circuito Mundial de Surf
[crédito fotografia: Marta Paço]
O único obstáculo é quase evidente: o financiamento.
“A Federação Portuguesa de Surf só financia campeonatos onde eu esteja a representar a Seleção Nacional… e este não é o caso. Com a ajuda dos meus patrocinadores, eu e o meu treinador já conseguimos fazer uma viagem por ano”.
“Só que nunca conseguimos chegar ao título. Para o alcançar temos de cumprir todas as etapas”.
O sonho há-de tonar-se realidade.
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